15/05/2012

Matar o Sistema Nacional de Saúde

Diga o que disser, o primeiro-ministro será sempre criticado.

Diga "ai" ou diga "ui", as declarações de Passos serão sempre descontextualizadas no sentido de criar uma imagem de desumanidade.

Um primeiro-ministro de direita é, como se sabe, desumano e quiçá nazi.

O mesmo mecanismo narrativo está presente na análise ao trabalho de muitos ministros. Faça o que fizer, Paulo Macedo será sempre o neoliberal frio e quiçá fascista.

Ontem, por exemplo, as TVs só deram uns segundinhos a este pormenor: mais uma vez, Paulo Macedo conseguiu vergar a indústria farmacêutica.

A indústria vai aceitar a poupança de 300 milhões na fatura dos medicamentos hospitalares.

Por que razão não se fala disto com o devido destaque? Porque, como toda a gente sabe, Paulo Macedo é um monstro calculista, e um sujeito que só está interessado em beneficiar os privados da economia da saúde.

Este silêncio mediático em relação à gestão de Paulo Macedo não é novo.
Há uns meses, o ministro mudou a fórmula de cálculo do preço dos medicamentos nas farmácias, baixando significativamente a fatura para os doentes e SNS.

Os preços praticados em Portugal estavam baseados numa média referente a Espanha, Itália, França e Grécia.

Essa fórmula foi alterada através da introdução de países com um PIB per capita mais próximo do nosso (ex.: Eslovénia).

Resultado? Em 30 de  setembro, o Negócios dizia que alguns remédios até podiam baixar cerca de 50% (ex.: o Plavix passaria de 48 euros para 22).

Nos entretantos, Paulo Macedo contrariou providências cautelas da indústria, forçando a entrada de mais genéricos no mercado.

Estes factos, como se sabe, têm pouca importância na vida das pessoas, logo, não tiveram impacto digno de registo nos média. Paulo Macedo é um dos maus, logo, não se podem apresentar peças que contrariem essa maldade intrínseca.

Em menos de um ano, Paulo Macedo cortou os lucros das farmácias e da indústria farmacêutica, dois dos tais lóbis impossíveis de domar.

Antes disso, o contabilista sem respeito pela vida humana forçou uma diminuição do preço nas clínicas privadas que fazem exames em parceria com o SNS.

Quem diria? O tal ministro dos privados fez um corte histórico nos lucros dos privados.

Deve haver aqui uma cabala neoliberal, é o que é. Pelo sim e pelo não, acho que os indignados deviam fazer uma manif para defender a indústria farmacêutica e as clínicas dos avanços do contabilista desumano.

Henrique Raposo
in «Expresso», 15.05.2012