05/03/2010

Inspeções sob sol africano

Em Moçambique, o ambiente aquece pelas razões menos esperadas.
Neste caso, a inspeção de automóveis.

Como diz a imprensa, numa análise superficial, tudo parece uma ser decisão sensata, normal para um país normal. Porém, uma análise mais profunda revela uma decisão cínica, uma fraude de gigantescas proporções.

É isso que agora se entende da decisão governamental de introduzir a inspeção obrigatória de veículos. Trata-se de uma decisão que seria normal em condições normais. Mas as condições são anormais em Moçambique.

A inspeção obrigatória de veículos é um procedimento normal em países normais, tendo como objetivo proteger os cidadãos contra a circulação de veículos que, pelas suas deficientes condições mecânicas, constituam um perigo para outros utentes da via pública.

Todavia, nesses países o Estado assume como responsabilidade sua, garantir que não sejam as vias de circulação a principal causa para a existência de viaturas em más condições mecânicas.

No caso do Estado moçambicano falta-lhe moral para exigir viaturas em boas condições mecânicas, ao ponto de impor uma inspeção que condicionante da circulação.

E não tem moral porque, tanto ele como os seus municípios, não cumprem o seu papel de oferecer estradas em condições ótimas de transitabilidade.

É por isso que se pergunta como é que se exige que uma viatura que circula em ruas e estradas em más condições de conservação, poeirentas e repletas de buracos esteja sujeita a uma inspeção obrigatória como condição para a sua circulação.

Ao que tudo indica, a introdução das inspeções é uma decisão tomada com o intuito de satisfazer os interesses de um grupo de pessoas influentes que viram num procedimento legítimo e normal em sociedades normais como oportunidade para fazer um negócio chorudo, mas sem quaisquer benefícios práticos para o país.

É o “cabritismo” na sua mais alta expressão.

Trata-se, por isso, de uma decisão totalmente desajustada da realidade do país, sendo essa a razão porque se quer rejeitada, porque é uma carroça à frente dos bois, com o único objectivo de enriquecer meia dúzia de gananciosos que se valem de posições e ligações oficiais para chupar o sangue do povo.

Argumenta-se que a introdução do sistema de inspeção irá contribuir para a redução de acidentes de viação, que têm estado a causar luto no seio de muitas famílias moçambicanas.
Uma falácia!


Embora seja verdade que viaturas em más condições mecânicas possam ser uma das principais causas dos acidentes de viação, a outra verdade é que a maior parte dos acidentes de viação se verifica nas estradas e são causados pela deficiente formação de uma grande parte dos automobilistas que diariamente se põem atrás do volante. E as péssimas condições das estradas e má sinalização, estão no topo das causas de acidentes de viação.

Haveria, certamente que, em primeiro lugar, reparar e sinalizar as estradas!

E se a proliferação de acidentes é a principal preocupação do governo, então o primeiro ponto de intervenção teria de ser nas escolas de condução e no serviço nacional de viação que têm dado cobertura à corrupção que habilitam incompetentes. É, portanto, ali que a inspeção deve começar.

POR ISSO, É CURIOSA ESTE RIGOR NA INSPEÇÃO DE VIATURAS, NUM PAÍS ONDE SE COMPRAM CARTAS SEM VER UM VOLANTE.

Com tanta falta de bom senso, porque não aplicar medidas elementares de inspeção (travões, luzes, piso de pneus), em lugar de rigor fundamentalista e idiota?

Por cabritismo, certamente!