31/05/2010

Mundial de Futebol: os símbolos das selecções

Já está tudo preparado para o Campeonato Mundial de Futebol na África do Sul.

30/05/2010

Sistema Nacional de Saúde

Um casal de jovens chega ao consultório de um médico terapeuta sexual.

O médico pergunta-lhes:
- O que posso fazer por vocês?

O rapaz responde:
- Poderia ver-nos a fazer sexo?

O médico olha espantado, mas concorda. Quando terminam, o médico diz:
- Não há nada de mal na maneira como vocês fazem sexo. E cobra-lhes 70,00 euros pela consulta.

A cena repete-se por várias semanas. O casal marca um horário, faz sexo sem nenhum problema, paga ao médico e deixa o consultório. Ao cabo de algum tempo, o médico resolve perguntar-lhes:
- Afinal, o que estão a tentar descobrir?

E o rapaz responde:
- Nada. O problema é que ela é casada e não posso ir a casa dela. Eu também sou casado e ela não pode ir a minha casa. No Hotel Tivoli, um quarto custa 120,00 euros, no Holliday Inn custa 100,00 euros e aqui fazemos sexo por 70,00 euros, temos acompanhamento médico, é-nos passado um recibo, sou reembolsado em 42,00 euros pela Médis e ainda consigo uma restituição do IRS de 19,25 euros.

29/05/2010

Regabofe

Mau grado o voto de pobreza a que a Ordem Franciscana obriga, Frei Vítor Melícias, recebe uma modesta reforma de € 7450 que, certamente, vai direitinha para a Ordem Franciscana que, por sua vez, a distribui pelos mais necessitados.
...eheheheheh

O padre Vítor Melícias, ex-alto comissário para Timor-Leste e ex-presidente do Montepio Geral, declarou ao Tribunal Constitucional, como membro do Conselho Económico e Social (CES), um rendimento anual de pensões de 104 301 euros. Em 14 meses, o sacerdote, que prestou um voto de obediência à Ordem dos Franciscanos, tem uma pensão mensal de 7450 euros. O valor desta aposentação resulta, disse Vítor Melícias, da "remuneração acima da média" auferida em vários cargos.


Vítor Melícias entregou a declaração de rendimentos no Tribunal Constitucional em 2 de Fevereiro de 2009, mais de um ano após a instituição presidida por Rui Moura Ramos ter clarificado a interpretação da lei que controla a riqueza dos titulares de cargos políticos. A 15 de Janeiro de 2008, o Tribunal Constitucional deixou claro que, ao abrigo da lei 25/95, 'de entre os membros que compõem o CES, se encontram vinculados ao referido dever [de entrega da declaração de rendimentos] aqueles que integrem o Conselho Coordenador e a Comissão Permanente de Concertação Social, bem como o secretário-geral'.

Com 74 anos, Vítor Melícias declarou, em 2007, ao Tribunal Constitucional um rendimento total de 111 491 euros, dos quais 104 301 euros de pensões e 7190 euros de trabalho dependente. 'Eu tenho uma pensão aceitável mas não sou rico', diz o sacerdote.

Melícias frisa que exerceu funções com 'remuneração acima da média, que corresponde a uma responsabilidade acima de director-geral', no Montepio Geral, na Misericórdia de Lisboa, no Serviço Nacional de Bombeiros e noutros organismos.

Mais um amigo do tipo que deixou o pântano.
Bem prega frei Me………!  

Monopólios tropicais

Considera-se que uma estrutura de mercado monopolista quando existe um único agente económico do lado da oferta e muitos do lado da procura. Considera-se um monopólio estatal quando o Estado é o proprietário da empresa. De uma forma não precisa, pode-se considerar um monopólio estatal quando o Estado possui uma participação na estrutura acionista que lhe permite influenciar as decisões da empresa. Quando a empresa monopolista é protegida por leis e mecanismos de direção económica está-se perante o que se designa por um monopólio legal.

Aprende-se nas escolas de economia que uma estrutura de mercado monopolista é imperfeita, o que significa que é contrária à concorrência, entrava a utilização eficiente dos recursos, não incentiva a inovação tecnológica e portanto não contribui para a competitividade empresarial e das economias. Geralmente os preços de monopólio são superiores aos que poderiam existir num mercado de concorrência prejudicando os consumidores e regra geral prestam um serviço de deficiente qualidade. Em monopólio, os lucros, além de serem geralmente superiores aos de uma situação de concorrência, ficam socialmente concentrados evitando-se o benefício de um maior número de cidadãos, o que cria obstáculos à inclusão social.

Após esta breve e simples apresentação livresca do que é e significa um mercado monopolista, passa-se à realidade moçambicana. Há vários monopólios estatais, a maioria já existente na economia colonial, reforçados na época “socialista” com objetivos diferentes e continuam após as reformas também com mudanças de papéis não apenas na política económica, na economia política e na reprodução do poder. Este texto apenas se refere ao período recente.

Não se pretende demonstrar que as empresas monopolistas em Moçambique, como em qualquer outra situação semelhante (e isto não é dogma do liberalismo económico), praticam preços altos e um deficiente serviço aos cidadãos. Isso é conhecido e existem dados concretos que o comprovam. Este artigo debruça-se sobre a indefinição (ou a definição confusa consciente) entre setor público da economia (neste caso as empresas monopolistas), governo e Estado e como estes aspectos se reflectem nos desempenhos empresariais e nas relações com os clientes. Não se refere aos monopólios estatais como instrumentos do poder, aos mecanismos ilícitos de transferência de recursos entre empresas e governo, entre outros aspectos.

Parte-se de três exemplos com naturezas diferentes.

Um, a empresa Caminhos-de-Ferro de Moçambique pratica tarifas subsidiadas no transporte de passageiros cujos custos são suportados pela própria empresa. Admite-se que os transportes públicos urbanos sejam subsidiados. Assim acontece em muitas economias e existe algum consenso nas sociedades. Os custos de transportes representam percentagens elevadas nos orçamentos das famílias principalmente das que possuem menores rendimentos e é um bem público essencial. Consequentemente, o subsídio facilita o acesso ao transporte e representa uma forma de redistribuição da riqueza nacional.

Para isso acontecer (subsídio suportado pela empresa), ou se agravam os prejuízos ou se reduzem os lucros. Em qualquer circunstância, diminui a capacidade empresarial para realizar investimentos, isto supondo que não existem investimentos públicos diretos. Se a empresa pratica preços abaixo dos custos médios, então este prejuízo terá de ser coberto com os lucros obtidos em outras actividades da empresa ou aumentando os preços de outros bens e serviços oferecidos pelos CFM, o que pode reduzir a capacidade competitiva da empresa e da economia. E a questão a este respeito é: Compete à empresa subsidiar os preços dos transportes públicos? Ou a empresa deve definir o preço que cubra os gastos (supondo níveis de eficiência aceitáveis), praticar o preço subsidiado ao utente e receber o subsídio do Estado? A questão dos impostos de todos os cidadãos subsidiarem (beneficiarem) uma parte da população não é aqui debatida.

Dois, na Beira, um cidadão que vá deixar uma pessoa ao aeroporto, sem estacionar, à saída para a cidade, passa por uma cancela onde é obrigado a parar e a pagar uma “portagem”. A via que passa pelo aeroporto é pública, é mais uma das ruas da cidade e nenhuma razão parece existir para qualquer pagamento. É o único local em Moçambique e do pouco que conheço deste mundo, que tal acontece. Qual a justificação desta medida? O que fazem as autoridades? E os cidadãos porque não se rebelam, com excepção de alguns que simplesmente não param e também nada lhes acontece? Neste caso não estamos perante um abuso de autoridade e de poder em relação ao qual ninguém se manifesta? É compadrio, aceitação tácita (para quê?) ou simplesmente incúria? Ou de tudo á mistura e de mais algo?

Três, um voo Maputo-Beira da LAM (escuso-me de referir a data e hora) foi adiado cerca de 12 horas. Os passageiros conheceram do adiamento no aeroporto, no check in, por volta das sete da manhã. Nenhuma justificação foi dada. Voltou-se ao aeroporto para o embarque na nova hora informada e o voo atrasou mais cerca de uma hora. De novo sem qualquer informação aos clientes. Um passageiro pediu o livro de reclamações nos balcões da empresa. Não havia. Em pleno voo, o comandante, muito gentilmente, pediu desculpas aos passageiros e agradeceu a preferência dada à LAM. Mas qual preferência? Como preferência se não há alternativa?

O que podem demonstrar estes três exemplos?

O caso dos CFM não revela uma mescla entre funções do Estado e das empresas públicas? O Estado não está instrumentalizando uma empresa desresponsabilizando-se das suas funções sociais, retirando competitividade à empresa e distorcendo o mercado?

Retirando a hipótese do caso do aeroporto da Beira refletir incompetência ou incúria, não será um caso de abuso do poder, autoritarismo e negligência? Ou é mesmo confusão?

O caso do voo da LAM, revela um nítido desrespeito pelos clientes e não cumprimento de boas práticas.

É legitimo admitir que grande parte dos trabalhadores das empresas procurem fazer o melhor. Deve-se acreditar que os dirigentes dão o melhor para elevar o desempenho das organizações. O que está em causa é como as empresas são politizadas, como os tiques do autoritarismo se reflectem na relação com os clientes, como o governo intervém (ou não), como se perde competitividade.

Em muitos países existem políticas anti-monopolistas e órgãos reguladores dos monopólios. E em Moçambique? Ou será que não há, porque as indefinições facilitam promiscuidades? Ou é a chamada política de navegação em águas turvas e, por vezes, em turvas e em águas profundas.

João Mosca
in «Savana», 24.05.2010

28/05/2010

Os Socrasíadas

Os votos e os ladrões assinalados
Que do nordeste agreste transmontano
Por artifícios nunca d'antes perpetrados
Passaram inda além das trafulhices,
Sem perigos e guerras esforçados
De quem vive a política na gandaia
E da gente humilde fanaram
A massa com que tanto enriqueceram;
E também as memórias ingloriosas
Daqueles sem vergonha que se foram apossando
Com engodo e fraude do poder alternativo
Que do norte ao sul andaram mentindo,
E aqueles que por obras viciosas
Se vão da lei sempre se cagando,
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Cassem do vernáculo e da gramática
Os erros nos discursos que fizeram;
Cale-se de Machado e de Queirós
Os textos sublimes que escreveram;
Que eu canto o peito ilustre Socritano,
A quem ministros e secretários obedeceram.
Cesse tudo o que o PS antigo canta,
Que outro PS apequenado se alevanta.

Deste ócio parlamentar sem mais temores,
Alcança os que são de fama amigos
Milhares de "boys" e graus maiores;
Encostando-se sempre nos amigos
Companheiros de rambóia e assessores;
Foram anos dourados, entre os finos
Lençóis de fio egípcio, puros linhos;

Se esta gente que busca Ministério.
Cuja valia e obras tanto acusaste,
Não queres que padeçam vitupério,
Como há já tanto tempo que ordenaste,
E ouças mais, pois não és juiz de direito,
Dar razões a quem sucede que é suspeito.

Passando ao largo o vento acalma
Mas não duraria muito a calmaria
Eis que um falso amigo denuncia
Que um certo Freeport e seus adelos
Trazem malas cheias de al$gria
Mês a mês, com acertada pontaria,
Pontualidade de antemão agradecida
Pelos súbditos que dançavam a quadrilha.

Entre gentes tão fiéis e tão medrosas,
Mostra quanto pode; e com razão,
É tão fácil entre ovelhas ser leão.
Sabe bem o que o um certo Vara arquictetou,
E de tudo o que viu com olho atento,
Negou e negando assim ficou,
Até mesmo quando outro companheiro
Numa REN foi apanhado com dinheiro.
São uns malandros, explicou.
Mas, com risonho e ledo fingimento,
Tratá-los duramente determina,
Pois assim engana o povo, imagina.

Mas não lhe sucedeu como cuidava.
Eis que aparecem logo em companhia
Uns comparsas que frequentavam aquela
assembleia, que de bordel em nada parecia.

Corrupto já lhe chamam os inimigos,
Danoso e mau ao fraco corpo humano
E, além disso, nenhum contentamento,
Que sequer da esperança fosse engano.

Mas vê-se bem, num e noutro bando,
Partido desigual e dissonante
São muitos contra muitos; quando a gente
Começa a alvoroçar-se totalmente
«Viram todos o rosto aonde havia
a causa principal do reboliço:
entra em cena um caseiro, que trazia
o testemunho sincero do serviço
que as damas ali prestavam
para tão selecta companhia,
e onde fortunas repartiam..
Não perguntava, mas sabia
As alegres badaladas que ali via.

É um suceder de ventos malcheirosos.
Denuncia a imprensa dos maldosos
que o divino comandava um corpore activo
não explicando à roda solta a gastança
com uns cartões em prol da segurança
da coroa e do cetro SO-lalante..
São rubis, esmeraldas, diamantes,
em luzentes assentos bem cuidados,
estofados à conta do erário.
Outros serviçais todos assentados
na Nação e no Simplex concertavam
desculpas para os fulanos que acusavam
fazendo coro com os sociais democratas que gritavam.
(Precedem os antigos, mais honrados,
Mais abaixo os menores se assentavam);
Quando o divino alto, assim dizendo,
com tom de voz começa grave e horrendo:
- «Eternos moradores do luzente,
Estelífero Pólo e claro Assento:
sou o grande valor pros crédulos e inocentes,
de mim não perdeis o pensamento,
deveis de ter sabido claramente
como é dos fatos grandes certo intento
que por ela se esqueçam os humanos
Varas, Felgueiras, Gregos e Romanos"

Mas em particular o esperto mui sabia,
que mentir o faz mais elegante,
Vereis como sorria e escarnecia,
Quando das artes bélicas, diante
Dele, com larga voz tratava e mentia.
Para a disciplina militar ali prestante:
"-não se aprende, senhores, na fantasia,
sonhando, imaginando ou estudando,
senão vendo, cochichando e armando"..
Mas eis que fala falso, mas alto e rude,
da boca dos pequenos sabia, contudo,
que o louvor sai às vezes acabado.
"Tem-me falta na vida honesto estudo,
com longa malandragem misturado,
E engenho, que aqui vereis presente,
cousas que juntas se acham raramente".

"Para servir-vos, braço às armas feito,
Para cantar-vos, minto às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada".

"Se isto o Céu concede, e o vosso peito
Oh dígna empresa, dígno empreiteiro,
com a ladroagem mente e vaticina
olhando a sua substituta assaz divina,
as más, as ladras, as serpentuosas Medusas,
agora a seu lado, na falsidade inclusa":
"faça vista grossa para temas nauseantes".
"Falaram-lhe até que uma tal de Hipotenuza
e sua amiga uma tal de Geometria
acusam-no de comportamento ultrajante"!

"Não as conheço, nunca ouvi falar,
como saber e conhecer não é meu forte,
dos amigos acuados não me afasto, me aproximo,
somos vinhos da mesma pipa, e subestimo,
aqueles que intentam me acusar.
O tempo passa, tudo há de se abafar!"

"Com a minha estimada e leda Musa
que me inspira o engodo e a farra plena,
apanágio do malandro e do farsante,
passeio pelo país com o Magalhães,
dando "rebuçados", passando adiante,
da fome e da miséria com a minha errante
metamorfose ambulante

27/05/2010

Crido Deário

CRIDO DEÁRIO!

29 de Junho de 2009
paçei o 5º anuh. A p*ta da stora de mat, k é a nossa dt, n m kria deixar paçar pk eu tnh nega a td menus a ginástica, pk jogo bem há bola, e o crl... mas a gaija f*deu-se puke a ministra da idukaxão mandou dizer ao ppl k penxam q mandam aí nas xkolas masé pa baixarem os kornos k tds os socios com menos de 12 anus teiem de paçar... axu bem.

29 de Junho de 2010
passei o 6º anuh. ainda bem q ainda n fiz 13 anus, q ódpx podia n passar, qesta cena de passar com buéda negas é só até aos 12... f*da-se, fiquei buéda f*dido na m*rda deste ano, e ó c*ralho, o pan*leiro do stor d educassão física deu-me a m*rda do 2... assim tive nega a tudo... ainda bem q a ministra da iduqaxão é porreira, ela é q é uma sócia sbem: a xqola n serve pa nada, é uma seca. tive q aprender que os K's se escrevem Q, qomo em "xqola" e não "xkola", e que "passar" não é qom Ç... a xqola é porreira só pa qurtir qas damas qd  gente se balda...

29 de Junho de 2011
Passei o 7º ano. Exte anuh ia chumbando pq tive nega a qase td menos a área de projetuh, mas aqela cena tb é facil, n se fax nd... Exte anuh a dt disseme q eu passava pq tinha aprendido qas fraxex qomexam qom letra maiúscula e pq m abituei a exqrever qom Q em vez de K, tipuh agora ja xei xqrever "eu qomo qogumelos qom quentruhs" em vez de "eu komo kogumelos kom kuentruhs". É fixolas, pode xer qum dia venha a ser um gamela famôzo...

29 de Junho de 2013
Passei o 9º ano. Foi buéda fácil, pqu a prof paxou-me logo. Fui ao quadro xqurever uma sena em qu dezia tipuh "aquela janela", e eu exqurevi "aqela janela", pqu dixeram-me qu n se xkqureve "akela", é quom Q e não quom K. Mas a profs desatinou quomiguh e dixe qu eu tnh qu pôr o U à frente do Q... Pur ixu exte anuh aprendi qu o Q leva U à frente. No próximuh anuh é o 10º, vou pá sequndária...

29 de Junho de 2014
Aquabei o 10º ano. Não foi muituh difícil só tive que aprender-mos a não exqureverem quom aberviaturas purque nem todas as palavras xe puderam aberviar mas ixtu foi uma bequa para o quompliquado purque quom esta sena do QU em vex de K e das aberviaturas exqueceramme de quomo é que se faxião os verbuhs nos tempuhs e nas pexoas, ou lá o que é... Mas a prof disse tass bem que no prócimo anuh a gente vê ixu.

29 de Junho de 2015
Passou o 11º ano. Foi mais fácil que o 10º. Aprendi que as frases devem ser mais qurtax. E aprendi também que "ano" não esqureve "anuh". Axo que no prócimo ano vai ser mais difícil. Purque a xeguir é a faquldade.

29 de Junho de 2016
Acabou o 12º. Fiquei buéda confuso porque tive de aprender a diferenxa entre usar o QU e o C, tipo "esCrever" e não "esQUrever". Quando eu usava o K era buéda mais fácil... A prof de português é buéda religiosa e anda a ouvir vozes de deus, porque dixe-me que eu não merexia passar, mas "xão ordens lá de xima"...

29 de Junho de 2017
Já fiz o primeiro ano da faculdade. Estou em ingenharia cevil na universidade lusófona. Tive um stor buéda mal iducado que me disse que eu era um ignorante porque às vezes escrevia com X em vez de CH, S ou C. Mas o meu pai veio cá com uma moca de rio maior e chegou-lhe a rôpa ao pelo. E depois fomos fazer queixa do gajo e a ministra despediu-o porque o gajo, não sei quê, parece que quis vir estragar aqui um muro nosso. Mas não sei essas senas. O meu pai é que me explicou uma cena qualquer de "danos murais"... O que é bom é que a ministra da iducação continua a mandar aqui nestes sócios da faculdade para eles não levantarem a garimpa contra nós.

29 de Junho de 2019
Acabei a minha licenciatura porque a ministra da iducação disse que tinhamos que passar sempre mesmo que não tivessemos notas, para não ficarmos astigmatizados. Acho que é uma cena que dá nos olhos quando se estuda muito. Agora vou fazer um mestrado e disseram-me que, quando acabar, vou ficar mestre. Eu quero ser de Kung-Fu.

29 de Junho de 2021
Já sou mestre. Afinal não sou de Kung Fu, sou de engenharia cevil. Os meus profs disseram que eu não devia estar em mestrado porque ainda não estava preparado, mas eu disse que o meu pai tinha uma moca de rio maior e que era amigo da ministra e já tinha mandado um bacano da laia deles para a rua e eles calaramsse. Agora vou fazer um doutoramento, porque a ministra da iducação diz que se não deixarem um aluno fazer o doutoramento só por causa das notas, ele fica com a auto-estima em baixo e isso perjudica a aprendizajem.

29 de Junho de 2023
Sou doutor. O meu orientador da tese ficou muito satisfeito porque eu já não dou erros ortográficos: ao longo destes dois anos, aprendi a escrever "engenharia civil" em vez de "ingenharia cevil" e também porque aprendi que a ministra é da "educação" e não da "iducação", mas lê-se assim. Entretantos casei. A minha dama chama-se Sónia e os pais dela ficaram muito felizes por ela ir casar com um doutor em engenharia civil. Ela não sabe ler nem escrever: só fez até ao 2º ano da licenciatura e depois foi trabalhar para o Minipreço. Já tá grávida.

29 de Outubro de 2023
Nasceu o meu filho! Chamei-lhe Júnior porque ele é mais novo que eu.

29 de Agosto de 2029
O Júnior vai fazer 6 anos daqui a 2 meses. Devia entrar para a escola este ano, mas estive a pensar muito bem e não o vou pôr na escola. Ele não precisa daquilo para nada, aprende em casa. Eu ensino-lhe a ler, que sou doutor, e a mãe ensina-lhe a fazer contas, que é caixa no Minipreço. A escola não vale nada. Acho que o sistema de ensino hoje em dia é uma m*rda. No meu tempo é que era bom.

Doutor Joca

26/05/2010

Torre Bela

O "paraíso socialista" abateu-se sobre a "Herdade da Torre Bela", em Manique do Intendente - arredores de Lisboa, a 23 de Abril de 1975.

É este confuso modelo de sociedade que é proposto pelo Partido Comunista Português e pelo Bloco de Esquerda.

O realizador e militante alemão Thomas Harlan que, em 1975, resolveu filmar a "revolução portuguesa" e registou momentos irreais.

Em síntese (Wikipedia), Torre Bela, velha propriedade do duque de Lafões, uma herdade do Ribatejo com dois mil hectares, a maior herdade murada de Portugal, é ocupada por trabalhadores agrícolas sem trabalho nem terra, que, num dos momentos quentes do PREC, decidem organizar-se em cooperativa.

Com o apoio de revolucionários idealistas, de um líder carismático de perfil duvidoso e de «soldados do povo», querem fazer ouvir a sua voz e as suas razões. Todos vêm nessa ilegítima apropriação um legítimo modo de reabilitação social, que inclui a recuperação de trabalhadores alcoolizados. Agem de boa-fé e sentem estar a contribuir com a sua experiência para o processo revolucionário em curso.

Em causa estão terras incultas desde 1961, que os ocupantes, residentes das povoações de Manique do Intendente, de Maçussa (Azambuja) e da Lapa (Cartaxo), pretendem explorar para produzir géneros de primeira necessidade. O processo é seguido passo a passo num filme que passo a passo se inventa, procurando decifrar o significado profundo de um gesto que excede o social, as questões de classe, e que outros personagens descobre, além daqueles que à partida tem em foco : «a base». os generosos soldados da «Polícia Militar, no âmbito das conquistas salvaguardadas pelo Movimento das Forças Armadas (MFA)» (Cit.: José de Matos-Cruz em O Cais do Olhar, ed. da Cinemateca Portuguesa, 1999).

 

25/05/2010

Dia da Unidade Africana

Comemoremos o 25 de Maio, dia da Unidade Africana.

24/05/2010

Época de fogos

23/05/2010

Mira, cariño, ahhh, ahhh

Poema para um amor africano

«Noite de Amor»
Satânico é meu pensamento a teu respeito,
E ardente é meu desejo de apertar-te em minhas mãos,
Numa sede de vingança incontestável pelo que fizeste ontem.

A noite era quente e calma,
Eu estava em minha cama quando, sorrateiramente, te aproximaste.
Encostaste teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor.
Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos
Até nos mínimos lugares.

Eu adormeci.
Hoje, quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente,
Mas em vão.
Deixaste no meu corpo e no lençol provas irrefutáveis
Do que entre nós ocorreu durante a noite.

Esta noite recolho-me mais cedo para, na mesma cama, te esperar.
Quando chegares, quero agarrar-te com avidez.
Quero apertar-te com todas as forças de minhas mãos.
Não haverá parte do teu corpo em que meus dedos não passarão.

Só descansarei quando vir sair sangue quente do teu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti...
Mosquito filho da puta

22/05/2010

A poupança passa pela lei das rendas

Os banqueiros têm de perceber uma coisa: não há poupança num país preso no crédito à habitação. A ausência de um mercado de arrendamento criou uma dívida bruta de 215% do PIB.

I. Faria de Oliveira, líder da CGD, é claro: o problema de Portugal "é o consumismo exagerado" visível "no número de casas próprias, de carros de família, de férias no estrangeiro, de refeições em restaurantes". De seguida, Faria de Oliveira diz que, perante estes factos (que criam uma dívida bruta de 215%), os portugueses têm de mudar "radicalmente de vida". No fundo, os banqueiros vieram dizer que é preciso uma mudança de mentalidades em Portugal. Ótimo.

II. Só que há aqui um buraco no raciocínio dos banqueiros: o vício do crédito não é apenas uma questão de mentalidade. É também uma questão de necessidade: em Portugal, "ter casa" é sinónimo de "crédito à habitação". Isto porque Portugal é o único país - deste e do outro mundo - sem um mercado de arrendamento normal. A lei das rendas de Salazar continua por aí, e essa permanência destruiu o mercado de arrendamento . Se eu fosse senhorio, também deixaria os meus prédios cair de podres, porque essa coisa de receber 15 euros por um andar no centro de Lisboa é um roubo nojento.

III. Os bancos portugueses, durante décadas, conviveram muito bem com a ideia de atuarem num país sem mercado de arrendamento e, por arrastamento, viciado no crédito à habitação. Agora, meus caros banqueiros, passa-se o seguinte: se querem poupança, então, façam lóbi para acabarmos, de uma vez por todas, com a lei mais estúpida deste e do outro mundo: a lei das rendas de Salazar, que continua activa em 2010.

IV. A "casa própria" não era uma mania de grandeza, não era sinal de novo-riquismo. Era o único caminho para se sair de casa dos país.

Henrique Raposo
in «Expresso», 20.05.2010

Campeão, campeõõõõõõõõõõõõõõõõõõõõões

Dê para onde der: o homem é um génio!

O Mundo está sempre a mudar

Não sei o que se passou em Bruxelas entre os dias 7 e 9 de Maio. O primeiro-ministro Português diz-nos que terá sido decidido “salvar o euro”, desígnio tornado necessário porque, na(s) última(s) semana(s), “o mundo mudou”.

O mundo está sempre a mudar. Aforradores e investidores confiam agora menos no euro. Tratam, por isso, de o vender, vendendo também, entretanto, os activos em euros. Desvalorizam um e outros e fazem subir a taxa de juro dos empréstimos em euros. Acontece: o euro já desceu, já subiu, e agora volta a descer.

Os investidores confiam agora menos no euro, em si, por dúvidas relacionadas com o comportamento do BCE, com o sistema de governo e com a própria economia da UE.

Razões de peso, e alguma emoção. Gostam também menos do euro porque alguns activos em euros lhes parecem, agora, demasiado arriscados.

Entre eles a dívida pública portuguesa — como se vê, desde há algum tempo, pelo prémio de risco específico que passaram a exigir-lhe. Decidiram, por isso, os líderes da União que Portugal teria de diminuir o seu défice público, dando um contributo para “salvar o euro” num contexto em que “o mundo mudou”. Por mim, preferia que tivéssemos decidido o mesmo, em Lisboa, para “salvar Portugal”, no contexto de uma crise de crédito em que
“Portugal também tem de mudar”.

Daniel Bessa
in «Expresso», 22.05.2010

Geração da demagogia

Padre Couto propõe que Guebuza explique a “geração da viragem”, é o convite do reitor da UEM ao Presidente da República.

Numa acção bem encenada, o reitor da UEM endereçou, em público, um convite ao Presidente da República para que vá à UEM explicar melhor o que se pretende que seja entendido como “geração da viragem”.

Esta nova expressão da linguagem governamental foi usada pela primeira vez por Armando Guebuza, no seu primeiro discurso após a investidura para o seu segundo mandato como Presidente da República, em 14 de Janeiro de 2010.

Dando continuidade ao plano para injetar na opinião pública esta nova noção ideológica, o padre Filipe Couto - que foi colocado naquele cargo pelo próprio Armando Guebuza, no seu primeiro mandato - veio a público explicar que essa expressão não está a ser devidamente entendida.

Para o efeito, o reitor da UEM usou o recurso de retórica - convém não esquecer que ele é padre - que consiste em questionar o entendimento incorreto deste novo termo da propaganda ideológica.

Esta hábil manobra produziu os efeitos desejados, e levou a que, numa ação bem concertada, vários órgãos de comunicação social passassem para a opinião pública a ideia de que o padre Filipe Couto estaria em desacordo com Armando Guebuza, ou estaria a contestar tal designação - numa simulação de diversidade de pensamento -, quando estava efetivamente a contestar as interpretações indesejáveis que possam ser dadas à ideia da “viragem”.
“Na verdade, não sabemos se é viragem de quê. É para virar carro, casa, cidade? O que é para virar?” – questionou o padre Filipe Couto. “Se tal viragem serve para descartar os feitos das outras gerações já passadas, então está iminente um abandono e esquecimento da história heróica nacional” – acrescentou o reitor da UEM, ao mesmo tempo que solicitava ao Presidente da República que vá à UEM “elucidar” os jovens sobre o significado real da mensagem que pretende transmitir, quando se refere à “geração da viragem”.

Este episódio teatral está a ser visto por várias correntes de opinião como um claro indicador da falta de consistência desta nova formulação ideológica governamental. E a questão “geração da viragem” está já a suscitar muita inspiração humorística em vários sectores.

Filipe Couto fez aquelas declarações na passada sexta-feira, em Maputo, discursando durante uma cerimónia de graduação de estudantes da universidade que ele dirige.

in CANALMOZ - 10.05.2010

21/05/2010

O ensino em Portugal

A evolução do ensino de Matemática!

Na semana passada comprei um produto que custou 1,58€. Dei à funcionária da caixa 2,00 € e 8 cêntimos, para evitar receber ainda mais moedas.

A rapariga pegou no dinheiro e ficou a olhar para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que fazer. Tentei explicar-lhe que tinha que me dar 50 cêntimos de troco, mas ela não se  convenceu e chamou o gerente para a ajudar. Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar-lhe aquilo que aparentemente continuava sem entender.

Por que estou a contar isto? Porque dei conta da evolução do  ensino de matemática desde 1956, altura em que entrei para a escola primária.

Parece-me que foi assim:

1. Ensino de matemática em 1956:
Um lenhador vende um carro de lenha por 100$00.
O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda .
Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970:
Um  lenhador vende um carro de lenha por 100$00.
O custo de produção  desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda ou seja, 80$00.
Qual é o  lucro?

3. Ensino de matemática em 1980:
Um lenhador vende um carro de lenha por 100$00.
O custo de produção desse carro de lenha é 80$00.
Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990:
Um lenhador vende um carro de lenha por 100$00.
O custo de produção desse carro  de lenha é 80$00.
Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
(a)20$00  (b)40$00  (c)60$00  (d)80$00  (e)100$00

5. Ensino de matemática em  2000:
Um lenhador vende um carro de lenha por 100$00
O custo  de produção desse carro de lenha é 80$00.
O lucro é de 20$00.
A afirmação é correta?
[ ] SIM  [ ] NÃO

6. Ensino de matemática em 2010:
Um lenhador vende um carro de lenha por 100,00 €.
O custo de produção é 80,00 €
Se você souber ler,  coloque um X no 20,00 €, que é o valor do lucro.
[ ] 20,00 €   [ ] 40,00 €   [ ] 60,00€   [ ] 80,00 €   [ ] 100,00 € 

20/05/2010

Contra-mão

Sócrates parece aqueles velhinhos que se metem pelas auto-estradas em contra-mão, com o Teixeira dos Santos no lugar do morto, a gritarem que os outros é que vêm ao contrário.

De rabo entre as pernas, fartinhos de saberem que estavam errados, não conseguem agora disfarçar o mal que nos fizeram. Ainda estão a despedirem-se, agradecidos, do Constâncio, e já deram a mão a Passos Coelho, que lhes jura que conhece uma saída perto e sem portagem.

Estamos bem entregues! Vão-nos servindo a sopa do Sidónio, à custa dos milhões que ainda recebem da Europa, andam pelo mundo fora sem vergonha, de mão estendida, a mendigar e a rapar tachos, tratados pelos credores como caloteiros perigosos e mentirosos de má-fé.

Quando Guterres chegou ao Governo, a dívida pouco passava dos 10% do PIB. 15 anos de Guterres, Barroso, Sócrates e de muitos negócios duvidosos puseram-nos a dever 120% do PIB.

Esta tropa fandanga deu com os burrinhos na água, não serve para nada e o Estado do próprio regime se encarrega de o demonstrar. Falharam todas as apostas essenciais. Todos os dias se mostram incapazes. Mas com o Guterres nos refugiados, o Sampaio nos tuberculosos e na Fundação Figo, o Constâncio no Banco Central e o Barroso em Bruxelas, a gente foge para onde?!

Joaquim Letria
in «24 Horas», 04.05.2010

Homenzinho

Este homenzinho é brilhante. Grande Chefe faz discurso na ONU:

19/05/2010

Nacionalistas de Moçambique

«Nacionalistas de Moçambique», de Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, lançada pelo Texto Editora, recorda a vida política de dez pessoas que lutaram pela independência moçambicana, pagando com a prisão ou a vida.

Por ordem de apresentação: Noémia de Sousa, Aurélio Bucuane, Ricardo Rangel, Peter Balamanja, Matias M'boa, Malangatana Ngwenya, Júlio Mulenza, Rui Nogar, Zedequias Manganhela, Sebastião Mabote.

Uma leitura indispensável para compreender a injustiça colonial e o fanatismo revolucionário.
(capa de Malangatana)

18/05/2010

O défice de liderança política

O PEC foi apoiado no Parlamento pelo PSD de Manuela Ferreira Leite, que não negociou com o Governo. Foi uma decisão pessoal (e pouco consensual no seu partido) da líder cessante.

Nessa altura, não havia no PSD interlocutor capaz de se comprometer para os próximos anos, o que deu ao Governo desculpa para nada negociar. Passos Coelho, candidato à liderança do PSD, dizia-se desobrigado de compromissos com o Governo, sobretudo quanto ao PEC e a impostos.

O CDS e o Bloco de Esquerda tinham entretanto avançado com propostas de alteração ao PEC. O Governo nem as discutiu. E não permitiu adiar o voto parlamentar de apoio ao PEC (adiamento que permitiria ter já em funções o novo líder do PSD). Estranho, quando era necessário um consenso multipartidário credível.

Com Passos Coelho eleito líder, o PSD apresentou propostas para o PEC. Longe de representarem uma alternativa, tais propostas seriam, quando muito, complementos ao PEC do Governo. Mas nada justificava a agressividade com que as recebeu o ministro Vieira da Silva, classificando-as de "encenação" e de "uma mão-cheia de nada". Não havia no Governo vontade de negociar o PEC.

Entretanto, a situação nos mercados agravou-se perigosamente, com a dívida portuguesa a pagar juros cada vez mais altos. O Governo reagiu bramando contra o "ataque especulativo". Dá jeito porque atira as culpas da situação para outros, mas nada resolve.

Perante o deslize para o abismo, Passos Coelho pediu um encontro com Sócrates. A conversa suscitou esperanças de uma base política alargada ao aperto do cinto. Mas logo veio o banho de água fria: o Governo reiterou que iria avançar com as grandes obras públicas.

Com calma e um sentido de Estado que anteriores posições suas não faziam prever, Passos Coelho lamentou a atitude do Governo mas não partiu a loiça. Pouco tempo passou - com o acesso do país ao crédito externo cada vez mais caro e difícil - para o primeiro-ministro, em estado de aflição, ser forçado a recuar pelos nossos parceiros na zona euro. Adiou alguns grandes projetos e comprometeu-se com mais medidas de redução do défice. Para este novo PEC Sócrates solicitou o apoio do PSD.

O PSD acedeu, colocando condições razoáveis, que o Governo em geral aceitou. Ainda bem. Os mercados não confiam em reduções drásticas do défice sem apoio parlamentar maioritário. Pena é que se tenha perdido tanto tempo - e tanto dinheiro.

O comportamento errático do primeiro-ministro, reagindo com atraso e a reboque dos acontecimentos, em vez de os antecipar, tem desde há muito um efeito nefasto na opinião pública. Não lhe transmitindo uma ideia realista da gravidade da situação, não a prepara para os inevitáveis sacrifícios. Falta explicar às pessoas os problemas do país, com verdade e sem cenários cor-de-rosa, ou seja, as autênticas razões da austeridade.

Os mercados também reparam no optimismo de Sócrates. Eles vêm os gregos reagirem violentamente contra a austeridade, em parte porque o seu anterior governo não apenas manipulou as estatísticas enviadas a Bruxelas como enganou o próprio povo, fazendo-o crer que podia viver como se fosse rico, ao mesmo tempo que as exportações gregas perdiam competitividade, estando já excluída a desvalorização da moeda. Tal como cá.

O Governo escondeu a crise estrutural portuguesa, em particular o défice externo (assunto para ele tabu), com a crise internacional, culpa dos outros. Depois, atribuiu as responsabilidades pelo actual aperto aos especuladores, como se não se soubesse que Portugal gasta mais de 10% acima do que produz, pedindo emprestado para cobrir a diferença. Assim, em todo o mundo houve quem apostasse em que não pagaríamos a crescente dívida externa; outros investidores simplesmente tiveram medo e livraram-se dela. Por isso encareceu tanto o crédito a Portugal.

Em 1983, pela segunda vez em cinco anos, o FMI impôs a Portugal grandes sacrifícios como condição para os estrangeiros nos emprestarem dinheiro. Mas o programa de austeridade resultou. Em grande parte por mérito do então primeiro-ministro Mário Soares, que não só deu total apoio ao seu ministro das Finanças, Ernâni Lopes, como falou claro aos portugueses, tornando-os conscientes da situação e das suas exigências. É uma liderança política como essa que agora falta.

Francisco Sarsfield Cabral, Jornalista
in «Público», 17.05.2010

7º lugar na bancarrota

Portugal "sobe" para 7º lugar no clube de bancarrota

A probabilidade de default (incumprimento da dívida soberana) no caso português voltou a ultrapassar os 21% e colocou o país, de novo, no TOP 10 do risco mundial. Portugal já subiu, de novo, para o 7º lugar.

O mercado dos seguros (veículos financeiros conhecidos pelo acrónimo CDS, de credit default swaps) sobre a dívida soberana portuguesa voltou a aquecer.

Depois de quase uma semana de baixa, a tendência inverteu-se na 6ª feira, e hoje o custo dos cds voltou a subir acima dos 280 pontos base (um diferencial de mais de 230 pontos base em relação ao custo dos CDS relativos à dívida alemã).

Esta alta projetou Portugal, de novo, para o "clube" dos 10 de maior risco mundial. A "reentrada" fez-se, logo, diretamente, durante a manhã, para o 8º lugar. À tarde já "subiu" para 7º lugar, agora acima do risco da Letónia, da região da Sicília e do estado da Califórnia, segundo o monitor de risco da CMA Datavision. Portugal é, hoje, o terceiro país com maior aumento diário.

Também a Grécia continua a ver, desde 6ª feira, a sua posição agravar-se. Voltou a subir para o 3º lugar do TOP 10. A Irlanda, também, acompanha este movimento de alta, estando, de novo, acima dos 16% de risco de default. A Espanha subiu acima dos 15%.

Decorrerá, hoje, em Bruxelas uma reunião do Eurogrupo (ministros das Finanças e da Economia dos 16 membros da zona de moeda única). Os pacotes de austeridade de diversos países estarão em apreciação (como no caso do português), bem como o ataque ao euro que tem vindo a desenvolver-se desde Fevereiro.

Jorge Nascimento Rodrigues
in «Expresso», 17.05.2010

Macacos de imitação

Cópia de rapper europeus: "música" com pobreza em tdos os sentidos, sem qualidade sonora, sem estética, com mensagem absurda e errada - um estilo de meninos ricos!

17/05/2010

Dia triste


Intervalo publicitário para assinalar um dia triste para Portugal, vendido como "moderno" e um "avanço civilizacional".

Pobres de espírito!



16/05/2010

TGV Badajoz-Poceirão

Espanha aperta o cinto, isto é, corta na despesa e investimento públicos. Espanha, é governada por uma sucursal da Internacional Socialista e é Zapatero quem apresenta essa receita.

Pela Lusitânia, a sucursal socretina defensora do investimento público como varinha mágica - a receita Keynesiana, dizem os cábulas - tem agora de conviver com o muito provável adiamento da linha TGV Madrid-Badajoz.

Acossados por uma Europa indisponível para pagar os calotes portugueses, a governança lusitana viu-se obrigada a anunciar o congelamento de várias obras públicas e a desmentir-se quanto às garantias de "não subida de impostos".

Na sua miopia idiológica, a sucursal socretina prepara-se para subir IVA e comer (para início) subsídios de Natal em lugar de cortar nos gastos, luxos e mordomias.

É uma "receita" esmagadora, mortal, para muitas empresas e trabalhadores portugueses.

No fim, restará a excelente ligação ferroviária entre duas capitais europeias: Badajoz-Poceirão.


(fotografia de Märklin)

15/05/2010

Irmãos Dalton

O desgoverno de Portugal começou em 1995 com a praga de ratização.

A lista de personagens que entraram para desempenhar papéis de "maus da fita", é interminável. A cow-boyada, está à vista.

Por ocasião do empréstimo multimilionário à Grécia, este jornal presta homenagem aos nomeados (por falta de espaço, não se referem todos os artistas) para o "Prémio Irmãos Dalton".

14/05/2010

Corrigir o passado

A armadilha do que devíamos ter sido

Essa ideia de que o passado tem de ser revisto e editado à luz do presente gera equívocos e constrangimentos que, quase invariavelmente, recaem sobre aqueles que poucas ou nenhumas responsabilidades tiveram nesse passado.

Só assim se explicam as polémicas que envolvem Manuel Alegre e a implantação de uma estátua dedicada aos soldados mortos no Ultramar, em Santa Comba Dão.

Assim, num país onde elementos das Forças Armadas entregaram informações e armamento a movimentos como o MPLA, a Frelimo ou o PAIGC, e fizeram-no enquanto decorriam as negociações com vista às independências precisamente para que as independências terminassem com esses movimentos no poder; quando nunca foram segredo os telegramas enviados para Lisboa por estruturas militares do MFA, por exemplo de Moçambique, ameaçando render-se caso Portugal não reconhecesse a "Frelimo como único e legítimo representante do povo de Moçambique" e quando se sabe que essas mesmas Forças Armadas deixaram para trás portugueses que tinham sido raptados por esses movimentos às vezes com a própria conivência de militares portugueses, não deixa de ser um pouco desconcertante que um cidadão português, no caso Manuel Alegre, se veja obrigado a esclarecer que cumpriu o serviço militar.

Na mesma linha de paradoxo vem a notícia sobre a decisão da Câmara de Santa Comba Dão de erigir um monumento aos mortos na guerra do Ultramar (e terão sido dezasseis os jovens daquele concelho que aí perderam a vida) no local onde anteriormente se encontrava uma estátua homenageando Salazar.

A estátua de Salazar foi destruída por uma bomba em 1978 e desde então é recorrente a polémica em torno da sua reedifi cação. Alheios a essa polémica deveriam ser os 16 homens mortos na guerra. Salazar é um assunto. Os mortos na guerra - e note-se que Portugal teve também conflitos militares em África antes de 1961, nomeadamente durante a I República - tal como a própria guerra são outro.

Enquanto continuarmos a entender o passado não como a nossa História comum mas sim como algo em que devíamos ter sido o que agora somos então vamos continuar a andar às voltas embaraçados em estátuas aos mortos na guerra e documentos que atestem o cumprimento do serviço militar nessa mesma guerra.

Helena Matos
in «Público», 13.05.2010

Mais Socialismo?

13/05/2010

Os Papas e as esquerdas

João Paulo II lutou contra o totalitarismo comunista da Europa de Leste. Bento XVI luta contra a "esquerda caviar" da Europa ocidental. Bento XVI é mais interessante do que João Paulo II.

I. Tal como afirma o dirctor do i, Bento XVI é mais interessante do que João Paulo II . João Paulo II é, com certeza, uma figura central do século XX. Karel Wojtyla foi uma peça fundamental no derrube do totalitarismo comunista. Mas, vamos lá contextualizar, João Paulo II não estava sozinho no combate à esquerda totalitária. Em grande medida, o Papa-que-fazia-os-800-metros-barreiras-na-boa tinha todos os políticos do Ocidente ao seu lado. A divisão Oeste - Leste era política e estratégica, logo, isso facilitava as coisas para o Vaticano.

II. Ora, o combate de Bento XVI não é político, mas sim intelectual e moral. Bento XVI não está a lutar contra a velha esquerda comunista, mas sim contra o relativismo moral e cultural da esquerda caviar. Este é um combate mais difícil, porque não existe um "inimigo" claro do "outro lado". É um combate puramente intelectual e moral. Era "fácil" atacar a esquerda comunista do outro lado do muro. Não é fácil atacar a esquerda caviar que é a própria essência da Europa Ocidental.

III. João Paulo II era odiado pela extrema-esquerda, aquela coisa que não perdoa a história pela queda do muro de Berlim. Mas Bento XVI é odiado por toda a esquerda europeia, porque este Papa está empenhado na luta contra a essência "progressista" de hoje: o relativismo moral e cultural, a consagração do espírito derrotista e anti-ocidental, a imposição de um vácuo histórico e religioso (vulgo: o politicamente correto) . O combate de João Paulo II pertence ao passado, e está decidido: o comunismo perdeu para sempre. O combate de Bento XVI é actual, e não está decidido. Mais uma razão para considerar Bento XVI, o intelectual poderoso, mais interessante do que João Paulo II, o político atlético.

Henrique Raposo
in «Expresso», 11.05.2010


(selo comemorativo emitido pelos CTT - Correios de Portugal)

12/05/2010

Sua Eminência %$?#&!??!!

É conhecida a difícil convivência socretina com diplomas, títulos e cognomes. É um facto.

Também se aceita que o sectarismo republicano-maçónico dificulte reconhecer títulos de reis, condes e marqueses ou a santidade de autoridades religiosas.

Já é difícil perceber que, qual troca-tintas, se chame "Camarada" ao Rei de Espanha, "Sua Alteza" ao Presidente Lula do Brasil, "Senhor Engenheiro" a um feiticeiro, "Senhor Doutor" a um bancário ou, santa ignorância, "Sua Eminência" ao Papa Bento XVI.

Mas foi isso que se assistiu hoje, quando um governante português, se referiu a "Sua Eminência o Papa".

Em nome da boa educação, seria conveniente que o sujeito soubesse que (universia):

Eminência, do latim eminentĭa, designa pessoa de alta posição social ou reputação; no domínio da anatomia, significa elevação ou saliência, especialmente em osso; é também a forma de tratamento que se usa ao dirigir-se a cardeais;

Sua Santidade, é o pronome de tratamento próprio para líderes religiosos notáveis, com destaque para o Papa;

Não interessa se a entidade é mais ou menos santa. "Santidade" não tem a ver com isso.

Diz-se "Sua Santidade o Papa" e nunca "Sua Eminência o Papa", tal como não se chama "Engenheiro" a um aldrabão qualquer. Ponto!

Bancarrota socretina

Está consumada a bancarrota do Estado que, por pena que vista ainda a cor socratina, é e será português. O que prevenimos, e tantos negaram confiados afinal na irresponsabilidade e satisfação do interesse pessoal do primeiro-ministro e do seu grupo, sucedeu.

Mais tarde falarei sobre as consequências, mas por agora é preciso saber que se aproxima a redução de salários, pensões e subsídios, o pagamento de indemnizações absurdas a construtoras e bancos por obras contratadas nestes últimos dias de socratismo moribundo e que serão adiadas, e a imposição de uma tutela financeira e económica da União Europeia e do FMI sobre Portugal durante uma década. Enquanto não reequilibrar, pela poupança, as contas públicas, Portugal será um protectorado da União Europeia e do FMI, com especial ascendência da Alemanha, o maior credor.

Não adianta agora o primeiro-ministro comprometer-se na dura reunião do Eurogrupo de 07.05.2010, que afinal vai baixar agora o défice em mais 1% e não apenas nas calendas gregas, para onde atirou a austeridade.

Pode prometer o céu aos parceiros europeus e, finalmente, a terra aos portugueses: ninguém acredita mais nele. Os parceiros europeus, a União Europeia e o FMI, sabem muito bem que promete uma coisa e faz outra: promete conter o défice e celebra à pressa, no dia da subida exponencial dos juros e da queda da bolsa, um contrato de 1,244 mil milhões de euros da concessão rodoviária do Pinhal Interior ao consórcio Mota/Engil-BES (para construção das absolutamente indispensáveis estradas do IC3 - Tomar/Coimbra (IP3/IC2), incluindo ligação a Condeixa; IC8 - Proença-a-Nova/Perdigão (A23); EN236-1 - Variante do Troviscal; ER238 - Cernache do Bonjardim/Sertã (IC8); EN238 - Sertã/Oleiros; e EN342 - Lousã/Góis/Arganil/Côja, incluindo ligação ao IC6; e requalificação e exploração de outras estradas nessa zona).

Os parceiros europeus e as instituições financeiras internacionais sabem que no dia seguinte ao compromisso de reduzir o défice em 1%, celebrou, neste sábado, 8-5-2010, o contrato de construção do TGV do Poceirão ao Caia, para o qual acredito que tenha pedido, na sexta, 07.05.2010, o apoio de Sarkozy, numa cimeira de motivo real disfarçado (a inovação energética...), prometendo encomenda de equipamento francês, naquele que é o seu último grande negócio.... O TGV do Poceirão!... Sócrates pode não ter dinheiro para pagar salários, pensões e subsídios de desemprego, mas à beira da bancarrota, o Estado gasta o que não tem no TGV do Poceirão e na variante do Troviscal!...

Questionado sobre o assunto na visita ao extraordinário exemplo do Parque Tecnológico de Óbidos, focado nas indústrias criativas, no sábado 08.05.2010, o Presidente da República pediu confiança no... Ministro das Finanças e revelou que o primeiro-ministro de nada o informou e que o primeiro-ministro não falou com ele nos últimos dias!...

Foi a declaração mais dura do Prof. Cavaco Silva sobre José Sócrates, desde que tomou posse: reduziu Sócrates à irresponsabilidade e inutilidade. Sócrates não informou o Presidente da República de que comprometeu o Governo a reduzir o défice do Estado, de que Cavaco Silva é presidente, em mais 1%!... Mas telefonou ao líder da oposição!... Será que reuniu o Conselho de Ministros para definir esse compromisso do Estado português?... Um Governo sem rei - Sócrates parece um D. Afonso VI, na fase pré-clausura - e sem roque - Teixeira dos Santos assemelha-se agora ao caído em desgraça Conde de Castelo... mas Pior.

Mas insisto que de nada adianta o que Sócrates prometa: porque ninguém acredita e porque é tarde. Não adiantava correr mais do que o urso, adiantava correr mais do que os outros que fugiam do pânico, como fez a Irlanda, quando estabeleceu um programa férreo de austeridade na despesa pública e assim ganhou credibilidade dos mercados.

Mais: depois da Grécia, é Sócrates com a sua política despesista que afunda não apenas o seu país, mas também o dos outros, quando se recusou, na prática, a prevenir o contágio do pânico.

A passagem da barreira dos 7% (a cotação fechou na sexta a 7,05%) do juro da dívida do Estado português a dez anos, na sexta-feira, dia 07.05.2010, representa a confirmação da inevitabilidade da bancarrota de Portugal. Agora mesmo, o juro da dívida soberana portuguesa  a dez anos já vai em 7,32%...

Quando passou a barreira psicológica dos 5%, em 23 de Abril de 2010, há duas semanas, como aqui assinalei, logo se percebeu que a marcha do País para uma segunda tragédia grega era inevitável.

Confirma-se agora.

Mais ainda, como muito bem acentuava o Jornal de Negócios, os juros da dívida de curto prazo (dois e três anos) são agora mais caros, desde sexta-feira, do que os da dívida de longo-prazo (dez anos), o que significa que os investidores desconfiam mais da capacidade de Portugal lhes pagar no curto prazo. De acordo com a a consulta que fiz agora no sítio do «Wall Street Journal», antes da abertura dos mercados de segunda-feira, 10-5-2010, o juro da dívida do Estado português a dois anos já vai nos 8,78%!...

Tenho insistido que importa perceber a noção de bancarrota. Um país da Zona Euro não deixa de pagar (não chega ao default) porque beneficia da proteção das instâncias comunitárias, dos outros países do euro e do FMI, pois se essas instâncias deixassem que isso acontecesse, era o próprio euro e o sistema monetário internacional que ficavam em causa.

Não haverá, portanto, aqui uma Argentina que na ressaca da dolarização da sua economia, decretou uma moratória no pagamento da dívida e limitou os levantamentos bancários a 700 dólares. Bancarrota é Portugal declarar a sua incapacidade à União Europeia e ao FMI de cumprir o pagamento da dívida se não beneficiar da caridade deles com empréstimos de favor. É essa declaração formal que eu creio que o primeiro-ministro fez aos seus colegas da União Europeia durante este fim de semana.

Nas circunstâncias aflitivas do défice e da dívida pública portugueses (que ninguém acredita tenham o valor que o Governo indica), o Estado não tem condição de suportar o pagamento deste nível de juros, e dos juros que aí vêm, pois cada vez mais os investidores reclamarão um juro maior para emprestarem dinheiro a Portugal. E, de acordo com informação de 14 de Abril de 2010, o Estado português precisa de cerca de 20 mil milhões de euros até final do ano para pagar juros e cupões de obrigações.

Este é o diagnóstico da situação actual. Nem é preciso vir o Prof. Paul Krugman explicar no seu post, de 07.05.2010, "O Nao" (sic) - citado pelo Jornal de Negócios: "Portugal não está bem: as taxas de juro estão onde a Grécia estava apenas há poucas semanas".

O fim da Economia da Mezinha, uma adaptação socratina da voodoo economics.

A bancarrota.

António Balbino Caldeira
in «Do Portugal Profundo», 09.05.2010

Irena Sendler, uma heroína

A polaca Irena Sendler, que salvou cerca de 2500 crianças de serem encaminhadas para campos de concentração nazi, faleceu exatamente há dois anos a 12.05.2008 num hospital de Varsóvia e estaria com 100 anos.

Sendler foi considerada como uma das grandes heroínas da resistência polaca ao nazismo, tendo estado nomeada para o Prémio Nobel da Paz.

Sendler organizou a saída de cerca de 2500 crianças do Gueto de Varsóvia durante a violenta ocupação alemã, na Segunda Guerra Mundial. Ela - que trabalhava como assistente social - e a sua equipa de 20 colaboradores salvaram as crianças entre Outubro de 1940 e Abril de 1943, quando os nazis deitaram fogo ao Gueto, matando os seus ocupantes ou mandando-os para os campos de concentração.

Durante dois anos e meio, Irena Sendler conseguiu ludibriar os nazis e fazer sair do Gueto adolescentes, crianças e bebés - muitos deles disfarçados sob a forma de pacotes - e enviá-los para o seio de famílias católicas, para orfanatos, conventos ou fábricas.

Em Varsóvia viviam 400 mil dos 3,5 milhões de judeus que habitavam a Polónia.

"Fui educada na ideia de que é preciso salvar qualquer pessoa [que se afoga], sem ter em conta a sua religião ou notoriedade", dizia Irena Sendler.

Nascida a 15 de Fevereiro de 1910, a figura de Irena Sendler permaneceu relativamente desconhecida na Polónia, à imagem de Oskar Schindler, que morreu na pobreza, mas que viria a ser imortalizado no cinema pelo realizador Steven Spielberg na película "A Lista de Schindler".

Só em Março de 2007 a polaca foi homenageada de forma solene no seu país, tendo o seu nome sido proposto para o Prémio Nobel da Paz. Em 1965, porém, o memorial israelita Yad Vashem tinha já atribuído a Sendler o título de "Justo Entre as Nações", reservado aos não-judeus que salvaram judeus.

in «Público», 12.05.2008

11/05/2010

Celibato e padres

10/05/2010

Madrilenos na Caparica

Milhões para alguns

Há poucos dias Portugal foi alvo de ataque nos mercados internacionais com as agências internacionais de notação financeira a baixarem a classificação do risco que atribuem à dívida do Estado português. Isto traduz-se em juros mais altos para o financiamento do Estado nos mercados internacionais. Por outras palavras, vamos ter de trabalhar mais para pagar apenas os juros da dívida, que se subtraem assim à riqueza produzida no país.

Mas esta explicação, de que tudo é culpa de terceiros, é por si só demasiado simplista. Porque é que atacaram Portugal e não a Holanda ou a Suécia? Pela simples razão de que Portugal se pôs a jeito. Estamos demasiado endividados e com dificuldades em pagar os juros das nossas dívidas e esses países não. Isto não é sustentável: o leitor ponha-se na posição de quem nos empresta dinheiro e olha para nós como um país que não produz o que gasta, que se endivida descontroladamente vivendo à custa do trabalho dos outros, e que nem os juros da dívida parece ser capaz de pagar. Continuaria a emprestar dinheiro a um país ou uma pessoa assim?

Se nada de substancial se alterar, o que vai acontecer quando do estrangeiro deixarem de nos emprestar dinheiro? Nessa situação de colapso económico, será que deixaremos de poder comprar produtos que não produzimos e que são essenciais ao funcionamento da economia, como o petróleo, ou à vida das pessoas, como comida ou medicamentos? Ou para evitar isso o Estado baixará os salários e as pensões para pagar as dívidas? Ou seremos expulsos do euro, o que provavelmente trará uma inflação galopante que destruirá as poupanças e o poder de compra dos salários e das pensões? Perante esta situação, o que faz o Governo? Como o nosso problema é a dimensão da dívida, arranja ainda mais dívidas. Ainda agora foi anunciado mais um contrato de concessão de auto-estradas (Pinhal Interior), em que o Estado presta garantias (quase equivalentes a dívida, a pagar pelos contribuintes) de milhares de milhões de euros. As estradas não deveriam ser a prioridades nos investimentos em infra-estruturas de transportes, pois (i) a actual predominância da rodovia sobre a ferrovia é insustentável por razões ambientais e energéticas, logo a quota de mercado da rodovia tende a reduzir-se, (ii) a rede de estradas e auto-estradas já é bastante boa, e (iii) há debilidades gritantes em outros sectores importantes para a sustentabilidade e competitividade económica, como a ferrovia e os portos.

Por isso na situação actual este contrato obviamente não é do interesse do país. Segundo o PÚBLICO de 28 de Abril, uma fonte do consórcio que ganhou a concessão "sublinhou como positivo o facto de o contrato ter sido assinado já depois de as agências de notação financeira internacional terem baixado em dois níveis a análise de risco da dívida soberana do país". Não tenho dúvidas de que foi positivo para o consórcio, mas é extremamente negativo para os contribuintes que ficam com a responsabilidade de garantir o pagamento de milhares de milhões de euros, que se somarão a uma dívida sufocante com taxas de juro cada vez mais elevadas, sem que destas obras resultem benefícios relevantes para a economia e que ajudem a pagar a dívida. E o Governo já reafirmou que vai continuar a endividar o país para financiar as suas grandes obras, que, se forem analisadas com detalhe, se constata que são injustificáveis com base no interesse do país.

Vejam-se os seguintes exemplos:
1) a nova Linha Lisboa-Porto que não permite o tráfego de comboios de mercadorias, cuja melhoria neste momento é muito mais importante para a economia do que o de passageiros;
2) a ponte Chelas-Barreiro, a construir no local errado, pois aumenta em 40% a distância de Lisboa ao novo aeroporto relativamente à alternativa Beato-Montijo, não permite a passagem das linhas de alta velocidade no aeroporto em plena via, sacrificando assim a qualidade dos acessos a muitas cidades, destrói metade do porto de Lisboa, pondo em causa empresas e empregos, é mais cara que a alternativa, etc.;
3) outras auto-estradas;
4) o terminal de contentores de Alcântara, uma obra provisória com grandes inconvenientes para a cidade de Lisboa, quando o porto se poderia expandir para a Margem Sul para locais que possibilitam um porto com futuro e muito maior qualidade e competitividade (fundamentação mais detalhada destas questões pode ser consultada em http://www.adfer.pt/).

Concluindo, o Governo, que já começou a impor fortes sacrifícios aos portugueses (basta ver o PEC) vai agravar ainda mais a situação económica do país, o que levará ao colapso económico ou, para o evitar, obrigará a agravar os sacrifícios no futuro. Creio que os portugueses aceitariam sacrifícios se estes fossem justos e para benefício de todos, mas não é esse o caso: que autoridade moral tem este Governo para impor sacrifícios ao povo, se a necessidade de os fazer em grande parte é consequência de dívidas que o próprio Governo fez e tenciona continuar a fazer para benefício de alguns e não para o desenvolvimento do país?.

Mário Lopes
Professor do Dept. de Eng.ª Civil do Instituto Superior Técnico
Membro da Direcção da ADFER-SIT (Associação para o Desenvolvimento de Sistemas Integrados de Transportes)
in «Público», 10.05.2010


A farsa socrática: vamos ter meio TGV

I. Meio TGV, eis a herança da modernidade socrática. E este meio TGV ainda é uma migalha desnecessária da velha teimosia de José Sócrates: o TGV até ao Poceirão também deveria ter sido suspenso. Porque é um pouco patético esta coisa de Portugal ter um TGV que não chega a Lisboa. José Sócrates não quis admitir que estava 100% errado. Com este semi TGV, quis mostrar que, vá, estava errado apenas a 70%.

II. José Sócrates fez uma campanha eleitoral assente numa mentira económica. As eleições de Setembro foram uma pequena farsa: a realidade era negra, mas José Sócrates navegou na falácia rosa. Depois das eleições, José Sócrates teve vários meses para admitir o erro. Mas nada mudou naqueça cabeça. Ainda na semana passada, o primeiro-ministro recusava qualquer desvio no seu caminho czarista. Foi preciso um puxão de orelhas das autoridades europeias para José Sócrates admitir, finalmente, que estava errado. Como diz Martim Silva, José Sócrates foi mesmo o último a perceber o óbvio. E, agora, no final desta farsa, José Sócrates deixa-nos com esta situação que parece saída de uma anedota: meio TGV. Para que serve um TGV que pára no Poceirão? Custava assim tanto suspender a obra por completo?

III. Alguns meninos do PS parece que estão zangados com José Sócrates. Estes meninos queriam que o primeiro-ministro continuasse na fantasia. A realidade, essa entidade suja, é coisa para a direita. A esquerda, essa senhora excelsa, apenas pode habitar a fantasia. Os outros que apaguem a luz, não é?

IV. É evidente que Teixeira dos Santos é o novo primeiro-ministro de Portugal. Graças a deus.

Henrique Raposo
in «Expresso», 10.05.2010


Volta, Lino!

Ainda não estou seguro de obter uma resposta para as dúvidas que me afligem: afinal, vêm ou não os madrilenos a banhos à Costa da Caparica?

De facto, tudo está por definir. De um lado, os que advogam a ponderação de gastos numa altura em que as finanças ameaçam falência. Do outro, os adeptos do gastar a qualquer preço, que a vida são dois dias e o de hoje já vai na conta.

Não se sabe, portanto, quem ganha. Apenas se sabe quem já perdeu: os portugueses, para não variar.

Num breve instante de bom senso, o ministro das Finanças chegou a defender a revisão das grandes obras. Mas logo o ministro Mendonça ("Também sou economista, sabe?"), apoiado na teimosia de Sócrates, virou o caso do avesso: comprometa-se o futuro, que o presente já não tem conserto.

É claro que há uma extensa lista de culpados. À partida, os especuladores: bem avisados temos sido contra eles pelos beneméritos progressistas, à frente dos quais o putativo sucessor de Sócrates, refugiado no sorvedouro do Município lisboeta.

Mas não é possível absolver a negligência da senhora Merkel, que ainda não enviou (como era seu estrito dever) o dinheirinho dos alemães para que possamos brincar aos comboios e aos aeroportos.

Entretanto, fica a petulância do actual "Jamé". Com fina elegância verbal, trata os ministros de Soares, de Cavaco, de Guterres, de Barroso e de… Sócrates por "homens do passado".

Volta, Lino, estás perdoado!

António Freitas Cruz
in «Jornal de Notícias», 09.05.2010