27/02/2012

Grécia: as consequências da crise

A. Zeus vende o trono para uma multinacional coreana.


B. Aquiles vai tratar o calcanhar na saúde pública.

C. Eros e Pan inauguram prostíbulo.

D. Hércules suspende os 12 trabalhos por falta de pagamento.

E. Narciso vende espelhos para pagar a dívida do cheque especial.

F. O Minotauro puxa carroça para ganhar a vida.

G. Acrópole é vendida e aí é inaugurada uma Igreja Universal do Reino de Zeus.

H. Eurozona rejeita Medusa como negociadora grega: "Ela tem minhocas na cabeça".

I. Sócrates inaugura Cicuta's Bar para ganhar uns trocados.

J. Dionisio vende vinhos à beira da estrada de Marathónas.

K. Hermes entrega currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.

L. Afrodite aceita posar para a Playboy.

M. Sem dinheiro para pagar os salários, Zeus libera as ninfas para trabalharem na Eurozona.

N. Ilha de Lesbos abre resort hétero.

O. Para economizar energia, Diógenes apaga a lanterna.

P. Oráculo de Delfos vaza números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.

Q. Áries, deus da guerra, é pego em flagrante desviando armamento para a guerrilha síria.

R. A caverna de Platão abriga milhares de sem-teto.

S. Descoberto o porquê da crise: os economistas estão falando grego!

25/02/2012

100 anos de moda em 100 segundos

24/02/2012

Adios Nonino. Piazzolla

Esse vídeo é realmente fantástico, um tango maravilhoso tocado por Carel Kraayenhof, e quando a orquestra e o coral entram então é de arrepiar. O casamento é de um príncipe holandês e uma argentina e ela vai às lágrimas com a homenagem à música típica da sua pátria.
A música, Adios Nonino, do mestre Astor Piazolla e Bob Zimmerman. O solista é o alemão Carel Kraayenhof.

Antes uma pequena historinha:

"Em 1959, na República Dominicana, e quando faltavam minutos para começar seu recital, Piazzola ficou sabendo que na Argentina distante seu pai havia morrido. Subiu ao palco em silêncio, tocou com a agonia de sempre e quando tudo terminou voltou para casa, pediu para ficar sozinho e compôs aquele que seria seu tango mais tocado e conhecido: Adiós Nonino. Era assim, em italiano, que Diana e Daniel, filhos de Piazzola chamavam o avô".

(Eric Nepomuceno, no encarte Piazzola: O Homem que reinventou Buenos Aires, que acompanha o CD Arthur Moreira Lima interpreta Piazzola).

Aqui, em homenagem a uma Mulher e Mãe brilhante

23/02/2012

Stefan Zweig 23 fevereiro

A 23 de fevereiro de 1942 desapareceu Stefan Zweig, o escritor austríaco que importa ler por várias razões, sendo todas elas ligadas aos dias de hoje:

Uma delas, porque, como a grande distância, antecipou o Brasil como País de Futuro, precsiamente num livro com esse nome.

Depois, porque biografou o navegador português Fernão de Magalhães como mais ninguém fez.

E, finalmente, porque deixou registo do suicídio da Europa em duas Guerras Mundiais que viveu, no seu livro "O Mundo de ontem / Die Welt von Gestern" (ed. Assírio Alvim, em Portugal) em cujos traços de época de loucura se vê muita da irracionalidade dos dias de hoje.

Um autor a ler, em edições modernas ou a procurar no alfarrabista.

Stefan-Zweig-Weg, em Munique

20/02/2012

Não ser piegas é...

… jogar bilhar em quaisquer circunstâncias (mesa na província da Zambézia, Moçambique):

19/02/2012

O problema grego não é economia

A Grécia está crescentemente polarizada entre dois "partidos": o do euro e o do regresso à dracma. A mais recente sondagem indica que 79% dos gregos rejeitam o memorando da troika, mas que 70% não aceitam em nenhuma circunstância abandonar a moeda única. Só 15% crêem que a dracma lhes abriria melhores perspetivas.

A linha divisória entre estes dois "partidos" é em parte ideológica: a saída do euro é defendida na extrema-esquerda, em termos anticapitalistas, e na extrema-direita, numa base nacionalista. Mas não só. Os milhares de gregos que colocaram as suas reservas na Suíça apostam num regresso à dracma, denuncia a imprensa. Poderiam então comprar "o património nacional a preço de saldo". Também serão tentados pela dracma muitos lobbies que temem que as reformas impostas pela UE destruam o sistema de clientelismo e a impunidade fiscal em que prosperaram.

Os gregos conhecem o preço da opção. Christophoros Passaridis, o cipriota Nobel da Economia, avisa-os: o eventual regresso à dracma levaria a uma desvalorização monetária na ordem dos 60%, muito mais violenta do que os cortes da troika.

A Grécia não é "a preto e branco". As imagens do fogo em Atenas, transmitidas pela televisão para o mundo inteiro, produzem uma mistificação. A situação social é certamente explosiva. Mas convém lembrar que as vagas de violência em Atenas são sempre promovidas por um ou dois milhares de encapuzados, fardados de negro, que se reclamam do "anarquismo". O problema é que desta vez eram mais do que o costume, o que inquieta os editorialistas.

O jornalista ateniense Nikos Chrysoloras lembra no Guardian que houve 100 mil manifestantes na rua, na maioria pacíficos, e que mais de quatro milhões de atenienses não aderiram ao protesto. Para Chrysoloras, o que seguramente lançaria o caos na Grécia e provocaria uma onda de desestabilização no Mediterrâneo Oriental, com graves consequências para a Europa, seria a sua saída do euro.

Resumi, na semana passada, o olhar que os gregos têm sobre a origem da crise nacional e o seu "irreformável" sistema político, económico e social. Esta semana foi marcada por espetaculares atos de contrição.

No discurso da noite de domingo, antes da votação do memorando, o antigo primeiro-ministro Giorgios Papandreou declarou: "O nosso sistema político é coletivamente responsável por todos os funcionários que nós empregámos por favoritismo, pelos privilégios que nós concedemos por lei, pelas exigências escandalosas que nós satisfizemos, pelos sindicalistas e homens de negócios que nós favorecemos e pelos ladrões que não metemos na cadeia."

Os gregos dizem que não tinham a noção de que viviam acima das posses. Respondendo a esta queixa, escrevia ontem, no diário Ta Nea, o economista Panayotis Ioakeimidis, professor da Universidade de Atenas: "Todos partilhamos a responsabilidade. Mas um reformado que recebe 500 euros por mês não conhecia e não era obrigado a conhecer o montante da dívida na percentagem do PIB, nem a data de vencimento das obrigações, nem o momento em que os mercados financeiros fechariam as portas a um país que despudoradamente não deixava de pedir emprestado."

Quem é responsável? "O problema da Grécia não é económico. É profundamente político e cultural. São o sistema e o mundo políticos que, em primeiro lugar, têm responsabilidade pela crise que assola a Grécia. De resto, todos temos uma parte da responsabilidade, maior ou menor. E a dos economistas é grande."

A dois meses das eleições (29 de Abril ou 6 de Maio), os partidos políticos começam a estilhaçar-se. De momento, a Nova Democracia, de Antonis Samaras, afastada do poder em 2009, beneficia da implosão do Pasok, de Papandreou e de Evangelos Venizelos, atual ministro das Finanças, que surge nas sondagens na casa dos 8% a 12%. Explicou ao Monde o politólogo George Sefertzis: "Há dois partidos em cada um deles: um centrista e um populista. Estão em vias de implosão. A crise enfraquece a classe média e o sistema clientelista que acompanhou a sua progressão." A recomposição do quadro político levará tempo e é uma incógnita. O jornal To Vima teme a depressão do centro moderado e o reforço dos pólos, "a direita popular" e a "esquerda populista".

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, tem razão em dizer que o seu país não está disposto a meter mais dinheiro "num poço sem fundo". Mas não pode, por exemplo, insinuar a vontade de fazer adiar as eleções na Grécia. Entre gregos e alemães houve dois anos de jogo perverso. Berlim demorou a agir, seguindo a vontade alemã de punir os gregos, e permitiu que a crise se generalizasse à zona euro. Para evitar a bancarrota, Atenas aprovou acordos que não tencionava cumprir. E, de facto, dado o "sistema grego", os políticos dificilmente poderiam fazer reformas, sob pena de harakiri eleitoral. Assiste-se hoje - talvez demasiado tarde - a um vislumbre de mudança na Grécia, graças à percepção da iminente falência.

A semana foi também marcada por uma escalada verbal entre Berlim e Atenas. Os gregos dizem-se insultados por declarações alemãs e ameaçados pela suposta vontade de Berlim os afastar do euro. "Não humilhem os gregos", apela no New York Times o jornalista Alexis Papahelas, director do Kathimerini. Sobretudo quando a Grécia percebeu que tem de mudar.

Não é apenas a crise do euro ou a queda da Grécia que estão em cima da mesa. Está em gestação uma crise política à escala europeia, entre soberanias nacionais e decisões comunitárias. Os mecanismos democráticos funcionam a nível nacional e não a nível comunitário. Em épocas de expansão, é fácil conciliar as decisões democráticas nacionais e as decisões intergovernamentais da UE. Em épocas de crise, o risco de conflito é muito elevado. Os políticos, tanto nos "países do Sul" como nos "países AAA", estão sob crescente pressão das opiniões públicas, logo dos eleitorados. Às reacções antigregas e anti-Sul, pode suceder-se uma vaga de reacções anti-alemãs. Seria a mais rápida via de desagregação da UE.

O primeiro-ministro italiano, Mario Monti, e uma eurodeputada francesa, Sylvie Goulard, escreveram há dias: "Entre as questões que a crise actual suscitou, nenhuma é mais importante e nenhuma é menos debatida do que a democracia na Europa." É o recado da semana.


Jorge Almeida Fernandes
in «Público» 18.02.2012

17/02/2012

Movimento perpétuo

Extremo ocidental
Os "direitos adquiridos" dos "cavaquistas anónimos"

Há um politicamente correto que só subsiste porque em Portugal se fala muito e se pensa pouco

A física dos direitos adquiridos

Noronha do Nascimento é um homem antigo. Nota-se na pompa, na pose, no discurso. Como homem antigo, o nosso presidente do Supremo Tribunal de Justiça é também alguém formado no tempo das "duas culturas", a científica e a humanística, e, por isso, se sabe citar Camilo, tem mais dificuldades com a segunda lei da termodinâmica. Não fosse isso e certamente não teria falado como falou de "direitos adquiridos" no seu discurso de abertura do ano judicial.

Bem sei que esta lei é uma das mais difíceis de entender da física, pois não é intuitivo que, em todos os sistemas fechados, exista uma tendência para a entropia subir. No entanto, é esta lei que explica por que razão não é possível construir uma máquina de movimento perpétuo. Se a transpusermos para a vida do dia-a-dia, ela também nos ajuda a perceber porque é que uma casa se desarruma, mesmo que não a desarrumemos deliberadamente. Assim, se a única forma de manter uma máquina a trabalhar é nunca deixar de adicionar energia, só a "energia" de uma dona de casa mantém o lar arrumado.

Na vida das sociedades, na economia, o equivalente ao movimento perpétuo é o progresso inelutável: um como o outro correspondem a utopias irrealizáveis. A história da humanidade está cheia de episódios de civilizações que entraram em colapso, existindo até algumas que desapareceram, quando desapareceu a sua fonte de energia - um caso bem interessante é o do fim da civilização da ilha da Páscoa, provocado pelo consumo das suas florestas até à última árvore. Muitos dos problemas que vivemos hoje no Ocidente também podem ser relacionados com a diminuição de algumas das suas "fontes de energia". Basta pensar na crise demográfica ou na dificuldade em fazer funcionares dos motores da inovação, sobretudo na Europa.

Quando chegam a estes pontos críticos - e nós, em Portugal e na União Europeia, estamos num ponto crítico -, as sociedades, se continuam a viver como antes viviam, não se regeneram, antes entram em colapso. Para os habitantes da ilha da Páscoa abater as árvores das suas florestas era o que estavam habituadas a viver - era um hábito adquirido... -, pelo que as abateram até não restar mais nenhuma. Para venerandas figuras a chegarem ao momento de se tornarem pensionistas (mesmo se abastados pensionistas), a ideia de que não receberão as reformas tal e qual como esperavam receber deve ser tão estranha como teria sido a de procurar fontes de energia alternativas às florestas em via de desaparecimento. Por isso chamam às suas expetativas "direitos adquiridos" e enroupam-nas com argumentos sibilinos.

Como num sistema fechado a tender para a máxima entropia, para a morte térmica, as sociedades em que vivemos deixaram de ter energia suficiente para acrescentarem a riqueza necessária à consagração dessas expectativas. Não é um mal temporário e passageiro, é um mal profundo e há muito diagnosticado, um mal fatal, se tudo continuar como dantes. Daí que seja uma falácia tomar como "adquiridos" direitos que só seriam sustentáveis, se a nossa máquina económica continuasse a trabalhar com o vigor de há algumas décadas. A actual crise só precipitou essas evidências.

O tremendismo apocalítico

Como homem antigo, Noronha do Nascimento cita Rousseau. Cita mal. Duplamente mal. Primeiro porque o seu "contrato social" não vem na linha dos propostos por Hobbes e Locke, como sugere, antes se lhes opõe. Depois porque, para Rousseau, a sociedade ideal é governada não democraticamente, antes por uma suprema "vontade geral" - "cada um de nós coloca na comunidade a sua pessoa e todos os seus poderes, sob a direcção suprema da vontade geral" -, o que implica abdicar de todos direitos individuais (e não apenas dos "adquiridos") - "a total alienação por cada associado de ele próprio e de todos os direitos, para toda a comunidade".

O princípio das sociedades democráticas é diferente. Baseia-se na ideia de que os homens são imperfeitos, o governo deve ter poderes limitados e é natural a existência de conflitos. Não há pois, ao contrário do que sugere o presidente do Supremo, qualquer "noção subliminar do contrato tacitamente aceite pelo povo", um povo que só aceitaria o governo, se este cumprisse certas "prestações contratuais". Esta curiosa forma de raciocinar leva-o a descrever para Portugal uma situação pré-revolucionária, tipo vésperas da Revolução Francesa - diagnóstico que, porém, não parece colar à realidade, como ainda ontem se viu com o relativo fracasso da greve dos transportes.

O que nos leva ao tremendismo da sua anunciada "caixa de Pandora" capaz de nos levar ao "Inverno (ou ao Inferno) do nosso descontentamento". Aqui Noronha não está sozinho. Não têm faltado porta-vozes desse povo que, para surpresa geral, ainda não assaltou a nossa Bastilha, fosse ela qual fosse. Maria José Morgado até já vê magistrados a passar fome (porventura fome dos brioches de Maria Antonieta...). E os "cavaquistas anónimos" que, este fim-de-semana, irromperam na cena política, dizem-se prontos a marchar contra o ministro das Finanças.

Tudo isto de pouco valeria, se não tivesse recebido algum gás vindo de Belém, onde afinal mora um Cavaco Silva que também é, à sua maneira, um homem antigo. Só assim se compreende o seu evidente mal-estar - o seu desastroso mal-estar - com as pensões que recebe. É que se tivesse hoje 40 ou 50 anos saberia, como sabem todos os que andam por essas idades, que no futuro nunca haverá dinheiro para pagar reformas semelhantes àquelas de que ainda beneficia a sua própria geração. E, no entanto, todos os que têm 40 ou 50 anos "descontaram toda a vida", talvez até mais do que descontou Cavaco Silva. O sistema de Segurança Social do seu tempo acabou, e ele é apenas a menor das vítimas, algo que tem a obrigação de saber.

Os cavaquistas clandestinos

Não deixa também ser curioso - mas não é surpreendente - que os nossos "cavaquistas anónimos" tenham adotado parte da linguagem política da oposição.

(Breve nota: como é possível que, em democracia, com uma imprensa livre, se aceite que alguém se proteja com o anonimato para proferir opiniões? Que regras são estas? Que escrutínio podem ter tais afirmações? O que é que isso revela de doentio e obscuro na relação com a opinião pública?)

O Expresso anunciava, por exemplo, que o Presidente estaria contra o "Estado mínimo". Estado mínimo? Saberá o Expresso (saberá o Presidente) que o Estado gasta, em Portugal, metade da riqueza do país? Será razoável considerar que teremos um "Estado mínimo", se se cumprir o prometido por este Governo, isto é, uma redução, em 2015, para 43,5% do peso das despesas públicas no PIB. 43,5% de toda riqueza produzida em Portugal vai para o Estado e ainda falamos de "Estado mínimo"? O que será então o Estado máximo?

O PÚBLICO dava mais um passo: anunciava que um número indefinido de "cavaquistas anónimos" considerava Vítor Gaspar um "ultraliberal". Não chegava liberal, ou mesmo neoliberal - o insulto preferido por estes dias -, era preciso dar o salto para "ultraliberal". Saberá o PÚBLICO (saberão os "cavaquistas anónimos") o que é um ultraliberal? Como classificariam então Ron Paul, candidato nos EUA à nomeação pelo Partido Republicano? Como extraterrestre?

Infelizmente todo este non senseé revelador. Traduz a incapacidade de discutir políticas sem ser no quadro de referências que, mesmo sendo muito marcadas ideologicamente, se pretendem apresentar como neutras. É uma lógica que tem de ser quebrada, pois o verdadeiro "fanatismo ideológico", tão criticado por alguns, não está em quem tenta apagar o fogo da dívida e do défice, mas em quem insiste em que se deixe arder em nome de valores ditos superiores. É que esses supostos valores, ou dos chamados "avanços civilizacionais irreversíveis", muitos propalados apenas em nome da manutenção de inconfessáveis direitos adquiridos, são na prática tão utópicos, irrealistas e autodestrutivos como a convicção de que haveria sempre árvores para cortar na ilha da Páscoa.

Os "cavaquistas anónimos" apenas vieram dar força a este politicamente correcto, que só subsiste porque em Portugal se fala muito e se pensa pouco.

 
José Manuel Fernandes, Jornalista
in «Público»

16/02/2012

Encurtamento da Páscoa

O Governo prepara encurtamento da Páscoa: Jesus Cristo morre crucificado e ressuscita no mesmo dia.

Depois de ter acabado com o Corpo de Deus, o 15 de Agosto, o 5 de Outubro, o 1 de Dezembro e de não ter dado tolerância de ponto aos funcionários públicos no Carnaval, Passos Coelho prepara uma pequena  alteração ao ano litúrgico, nomeadamente a Semana Santa, de forma a obter uma versão da Páscoa mais adaptada a um país que quer ser mais competitivo.

"A Última Ceia a uma quinta-feira é coisa de garoto mimado e irresponsável que chula os pais e o Estado.

Acabou-se a Sexta-Feira Santa e a Última Ceia passa a lanche ajantarado no sábado até às 23 horas, no máximo.

Domingo de Páscoa passa a ser o dia do julgamento, paixão, crucificação, morte, sepultura e ressurreição.

Também Jesus Cristo tem de deixar de ser piegas!",  revelou Passos Coelho.

13/02/2012

Acordo ortográfico moçambicano

«Eh Oena, Nós aqui em Moçambique sabemos que os mulungos de Lisboa fizeram um acordo ortográfico com aquele tocolocha do Brasil que tem nome de peixe. A minha resposta é: naila.
Os mulungos não pensem que chegam aqui e buissa saguate sem milando, porque pensam que o moçambicano é bongolo. O moçambicano não é bongolo não; o moçambicano estiva xilande.
Essa bula bula de acordo ortográfico é como babalaza de chope: quando a gente acorda manguana, se vai ticumzar a mamana já não tem estaleca e nem sequer sabe onde é o xitombo, e a gente arranja timaca com a nossa família.

E como pode o mufana moçambicano falar com um madala? Em português, naturalmente. A língua portuguesa é de todos, incluindo o mulato, o balabasso e os baneanes. Por exemplo: em Portugal dizem "autocarro" e está no dicionário; no Brasil falam "bus" e está no dicionário; aqui em Moçambique falamos "machimbombo" e não está no dicionário. Porquê?

O moçambicano é machimba? Machimba é aquele congoaca do Coelho que pensa que é chibante junto com o chiconhoca ministro da economia de Lisboa. O Coelho não pensa, só faz tchócótchá com o th'xouco dele e aquilo que sai é só matope.

Este acordo ortográfico é canganhiça, chicuembo chanhaca! Aqui na minha terra a gente fez uma banja e decidiu que não podemos aceitar.

Bayete Moçambique!
Hambanine.»

Assina: Zé Macaneta
TRADUÇÃO LIGEIRA
MULUNGO = BRANCO 
TOCOLOCHA = MACACO
BUISSA SAGUATE = DAR GORJETA
MILANDO = PROBLEMA
BONGOLO = BURRO
TICUMZAR = RECUSAMO-NOS A TRADUZIR (%&%;+$#&«p;a<;%*!§)

NR: este texto é uma merecida homenagem ao poeta Vasco Graça Moura pelo seu papel de irredutível lusitano para os lados de Belém

12/02/2012

Tempestade sobre Maputo

Tempestade impressionante sobre a cidade de Maputo, a 11/02/2012 (filme concentrado em 2 minutos).

Raios e coriscos sobre Guebuza!

11/02/2012

Grécia

Entre o póquer e a tragédia

A crise grega aproxima-se de um desenlace. Cresce o número dos que, na Europa, passaram a apostar numa falência da Grécia, porque não faz as reformas exigidas, e daqueles que, na Grécia, estão persuadidos de que os europeus serão obrigados a pagar, façam eles o que fizerem. Este resumo, feito por um diplomata, indica que estamos num momento de fronteira. Para Bruxelas, a falência da Grécia é um pesadelo, pelo risco de efeito em cadeia sobre os países do euro, a começar por Portugal e Espanha. Para os gregos, que repudiam a austeridade mas querem permanecer no euro, a rutura significaria uma catástrofe. Joga-se póquer.

Para lá dos muitos erros e hesitações, a UE queima as derradeiras ilusões de controlar a situação grega. É simples: os governos gregos não querem, e talvez não possam, fazer a maioria das reformas exigidas. A questão excede os interesses eleitorais dos partidos - eleições em Abril - ou a exasperação social: após drásticos sacrifícios, os gregos não vêem perspetiva de saída da crise. O problema excede também o debate sobre a bondade ou a perversão das receitas de austeridade impostas a Atenas. O centro do problema é outro: diz respeito ao Estado, é eminentemente político.

Para que a Grécia se salve, será necessário reformar de alto a baixo o Estado e os "pactos" em que economia e sociedade assentam. O ultimato europeu sobre as reformas, que será debatido amanhã no Parlamento grego, significa fazer explodir o sistema político grego. Nada mais, nada menos.

É inevitável uma passagem pela História. O Estado grego não funciona como os outros. Estigmatizar os gregos é um exercício mistificador. O problema está nas instituições. O Estado, que por vezes foi autoritário, é ao mesmo tempo tentacular e débil.

Após a emancipação do Império Otomano, em 1829, o Estado foi formalmente construído por funcionários alemães que acompanharam o príncipe bávaro Otão. A Grécia era um mosaico populacional e territorial, unido pela religião e pela língua. "A centralização foi imposta por um exército de mercenários europeus contra a resistência de uma sociedade que vivia num quadro político, institucional e cultural otomano, ou seja, fragmentado e reticular", lembra Georges Prevelakis, especialista em geopolítica balcânica.

Ao longo dos séculos XIX e XX, esse Estado foi sendo construído, com avanços e regressões, na base de um compromisso. Prossegue Prevelakis: "O poder serviu-se do aparelho de Estado não apenas como instrumento de repressão mas também como um sistema de distribuição de uma espécie de renda ou tributo. A principal moeda de troca foi o emprego pelo Estado. Um lugar na administração traduzia-se num primeiro tempo em submissão e, depois, em votos".

"O princípio central da sociedade grega foi sempre o clientelismo político, um sistema em que o apoio político é concedido em troca de vantagens materiais", escreve o jornalista Takis Michas. "Neste contexto, é primordial o papel do Estado enquanto principal fornecedor de prestações a grupos e indivíduos." Corrobora o economista Kostas Vergopoulos: "Desde meados do século XIX que nada se pode fazer na Grécia sem passar obrigatoriamente pela máquina do Estado."

Para distribuir uma renda às clientelas, o Estado foi forçado a elevar a carga fiscal sobre a economia, suscitando uma cultura de fraude fiscal; e a recorrer ao empréstimo estrangeiro, o que gerou colapsos das finanças públicas. Atenas esteve sob tutela de uma comissão financeira internacional entre 1897 e 1936, para garantir o pagamento do serviço da dívida aos credores.

Após a queda da "Ditadura dos Coronéis", em 1974, o sistema não mudou, foi modernizado e alargado. Os dois partidos dominantes, o Pasok (social-democrata) e a Nova Democracia (conservador), reorganizaram as redes de patrocínio, graças à adesão à Comunidade Económica Europeia, em 1981. Sobretudo o Pasok, liderado por Andreas Papandreou (pai do ex-primeiro-ministro), promoveu um generoso welfare state assente numa lógica eleitoralista e não numa racionalidade económica, sublinha o politólogo Christos Lyrintsis.

As empresas públicas são a extensão do tentacular Estado clientelar. Os sindicatos, designadamente os do funcionalismo e do sector público, são parte activa deste sistema.

A adesão ao euro resolveu o impasse em que o sistema se encontrava em meados dos anos 1990. Abriu a torneira dos mercados financeiros. Atenas não reunia condições para entrar na moeda única. Deve-o - ironicamente - a Paris e Berlim, guiados por interesses geoestratégicos - estabilizar os Balcãs e o Mediterrâneo Oriental. A Grécia era um pequeno país cuja eventual bancarrota não assustava a próspera UE.

Havia outro factor: "A Grécia ocupa um lugar central no imaginário europeu." A própria criação do Estado grego moderno foi "um grande empreendimento identitário europeu". A Grécia Antiga era a raiz da sua cultura.

Como reformar o Estado clientelar? "A classe política recusa o questionamento da sua política estatista, pois ela permite-lhe constituir clientelas políticas. Na Grécia não se vota por ideologias, vota-se por quem nos ajuda materialmente", diz ao Libération o historiador Nicolas Bloudanis. A tragédia grega é que o seu sistema político impede os seus governos de enfrentar a crise da dívida. Resta a experiência da arriscada explosão do sistema.

Ontem, Atenas parecia estar "a ferro e fogo" e o Governo ameaçava desfazer-se. Sob impulso da Alemanha, e empurrada por opiniões públicas crescentemente hostis à ajuda a Atenas, a UE lançou um ultimato, visando desta vez promover uma espécie de "state building" dentro da própria União. É um jogo de alto risco, que poderá despertar o latente anti-ocidentalismo grego.

A Grécia tem pela frente a escolha entre "ser Europa" ou "regressar aos Balcãs". Mas também é complicada a escolha da UE. Pensando em geopolítica, avisa Prevelakis: "Uma eventual saída da UE, ou mesmo da zona euro, transformaria de novo a Grécia num campo de batalha entre interesses ingleses, alemães, franceses, americanos, russos e chineses." Humilharia e enfraqueceria a Europa, que se quer modelar e "seria obrigada a confessar o fracasso em "europeizar" um Estado, membro há 30 anos e que considera o berço da democracia"

Jorge Almeida Fernandes
in «Público», 11.02.2012

07/02/2012

Primavera árabe

Um árabe cheio de sede atravessava o deserto há várias horas quando ao longe vislumbrou uma banca.
Na esperança de lá ter água, acelerou o passo. Uma hora depois chega finalmente e aproxima-se:
- Boa tarde, tem água?
- Não, a única coisa que tenho são gravatas para venda.
- Gravatas? Quem é que compra isso no deserto??
- Olhe que estão em promoção, cinco euros cada uma. Quer comprar?
- Claro que não! Estou cheio de sede e o que eu queria era água!
- Tenho aqui umas que combinam com a sua túnica...
- Não quero nada disso, já disse! Quero é matar a sede.
- Ok. Mas olhe, depois daquela duna ali, se virar para Oeste encontra um oásis a cerca de 4km.
- A sério?!
- Garantido!
- Então vou-me pôr a caminho.
Passadas cinco horas e já rente à noitinha, o árabe volta ao local da banca das gravatas:
- Então, encontrou o oásis?
- Encontrei.
- E?
- O cabr** do porteiro diz que não se pode entrar sem gravata ....

05/02/2012

Pão e circo

Chama-se "Agora é que conta", passa na TVI" e é apresentado por Fátima Lopes.

O programa começa com dezenas de pessoas a agitar uns papéis. E os papéis são contas por pagar. Reparações em casa, prestações do carro, contas da eletricidade ou de telefone. A maioria dos concorrentes parece ter, por o que diz, muito pouca folga financeira.

E a simpática Fátima, sempre pronta a ajudar em troca de umas figuras mais ou menos patéticas para o País poder acompanhar, presta-se a pagar duzentos ou trezentos euros de dívida. "Nos tempos que correm", como diz a apresentadora - e "os tempos que correm" quer sempre dizer crise - , a coisa sabe bem.

No entretenimento televisivo, o grotesco é quase sempre transvestido de boas intenções.

Os concorrentes prestam-se a dar comida à boca a familiares enquanto a cadeira onde estão sentados agita, rebolam no chão dentro de espumas enormes ou tentam apanhar bolas de ping-pong no ar. Apesar da indigência absoluta do programa, nada disto é novo. O que é realmente novo são as contas por pagar transformadas num concurso "divertido".

Ao ver aquela triste imagem e a forma como as televisões conseguem transformar a tristeza em entretenimento, não conseguimos deixar de sentir que esta é a "beleza" televisiva onde tudo se vende, até as pequenas desgraças quotidianas de quem não consegue comprar o que se vende.

Houve um tempo em que gente corajosa se juntava para lutar por uma vida melhor e combater quem os queria na miséria. E ainda há muitos que não desistiram. Mas a televisão conseguiu de uma forma extraordinariamente eficaz o que os séculos de repressão nem sonharam: pôr a maioria a entreter-se com a sua própria desgraça. E o canal ainda ganha uns cobres com isso. Diz-se que esta caixa mudou o Mundo.


Entretanto a apresentadora recebe 40.000 euros por mês. Foi o valor da transferência da SIC para a TVI. Uma proposta irrecusável segundo palavras da própria.

A pobre da Fátima Lopes só ganha 1290 euros por dia. Brincando com miséria dos miseravelmente felizes.



01/02/2012

Perspicácia

Momento de reflexão feminina:"Fui ao Pingo Doce, e levava isto no carrinho:
      
1 litro de leite
1 caixa de ovos
1 pacote de sumo de laranja
1 embalagem de fiambre
1 alface
1 pacote de café
      
Estava a colocar as compras no tapete rolante da caixa e atrás de mim estava um fulano perdido de bêbado a observar enquanto a funcionária fazia os registos.
      
Quando ela terminou, ele disse:

- "Deves ser solteira...".

Fiquei admirada com este comentário, mas curiosa porque de facto sou solteira.
Olhei para os seis artigos que tinha acabado de comprar e não achei que houvesse nada que pudesse denunciar o meu estado civil.

Sem conseguir conter-me de curiosidade, disse: "Você está absolutamente certo. Mas como é que chegou a essa conclusão?"

O bêbado respondeu: "Porque és feia como a merda!!!"