30/06/2011

Pobres portugueses

Estava há dias a falar com um amigo meu nova-iorquino que conhece bem Portugal.

Dizia-lhe eu à boa maneira do "coitadinho" português:
Sabes, nós os portugueses, somos pobres ...

Esta foi a sua resposta:
"Como podes tu dizer que sois pobres, quando sois capazes de pagar por um litro de gasolina, mais do triplo do que pago eu? Quando vos dais ao luxo de pagar tarifas de electricidade e de telemóvel 80 % mais caras do que nos custam a nós nos EUA? Como podes tu dizer que sois pobres quando pagais omissões bancárias por serviços e por cartas de crédito ao triplo que nós pagamos nos EUA? Ou quando podem pagar por um carro que a mim me custa 12.000 US Dólares (8.320 EUROS) e vocês pagam mais de 20.000 EUROS, pelo mesmo carro? Podem dar mais de 11.640 EUROS de presente ao vosso governo do que nós ao nosso.


Nós é que somos pobres!!!!!!!

Por exemplo em New York o Governo Estatal, tendo em conta a precária situação financeira dos seus habitantes cobra somente 2 % de IVA, mais 4% que é o imposto Federal, isto é 6%, nada comparado com os 23% dos ricos que vivem em Portugal. E contentes com estes 23%, pagais ainda impostos municipais.

Um Banco privado vai à falência e vocês que não têm nada com isso pagam, outro, uma espécie de casino, o vosso Banco Privado quebra, e vocês protegem-no com o dinheiro que enviam para o Estado.*

*E vocês pagam ao vosso Governador do Banco de Portugal, um vencimento anual que é quase 3 vezes mais que o do Governador do Banco Federal dos EUA...

Um país que é capaz de cobrar o Imposto sobre Ganhos por adiantado e Bens pessoais mediante retenções, necessariamente tem de nadar na abundância, porque considera que os negócios da Nação e de todos os seus habitantes sempre terão ganhos apesar dos assaltos, do saque fiscal, da corrupção dos seus governantes e dos seus autarcas. Um país capaz de pagar salários irreais aos seus funcionários de estado e da iniciativa privada.

Os pobres somos nós, os que vivemos nos USA e que não pagamos impostos sobre o ordenados e ganhamos menos de 3.000 dólares ao mês por pessoa, isto é mais ou os vossos 2.080 ?uros. Vocês podem pagar impostos do lixo, sobre o consumo da água, do gás e da electricidade. Aí pagam segurança privada nos Bancos, urbanizações, municipais, enquanto nós como somos pobres nos conformamos com a segurança pública.

Vocês enviam os filhos para colégios privados, financiados pelo estado (nós) enquanto nós aqui nos EUA as escolas públicas emprestam os livros aos nossos filhos prevendo que não os podemos comprar.

Vocês não são pobres, gastam é muito mal o vosso dinheiro.
Vocês, portugueses, não são pobres, são é muito estúpidos........."

29/06/2011

Um saco de gatos

O Bloco de Esquerda é um covil de comunistas arco-íris, com mal disfarçadas tendências estalinistas-maoistas-trotsequistas.

Até há poucos dias, "o negócio corria bem". Tirando partido do compadrio da infiltrada comunicação social, da rapidez de respostas do grilo-falante e da exploração de temas fraturantes, o partido da esquerda-caviar mordia os calcanhares dos socretinos.

De março em diante, ficou à vista de todos os portugueses que o BE não é mais do que um grupelho de passarocos imprestáveis para qualquer solução para Portugal e cuja cassete está com a fita gasta.

Com uma hecatombe eleitoral no pelo, a discussão interna rebentou qual bomba-relógio e as recriminações e purgas estalinistas sucedessem-se.

O mestre Louçã resiste a pedir a demissão. E ainda bem, porque a autofagia esquerdista é boa para Portugal.

Longa vida para o camarada Louçã na sua marcha pela explosão do Bloco de Esquerda.

Anacleto

António Neves Anacleto, avô da inteligência que dá pelo nome de Francisco Anacleto Louçã, foi um persistente oposicionista ao regime salazarista. Viveu em Moçambique.

Em 1974, cercado pela nova ditadura frelimista que nascia na ponta das baionetas, escreveu um livro «Sabujice e Traição» em que denunciava o canto da sereia que se ouvia. Fez previsões, anunciou perseguições.

Um livro que o Xico deveria ler. Porque é isso que propõe o seu Bloco!


28/06/2011

Andar de barco

27/06/2011

Gestão Financeira moçambicana

Um mendigo diz ao outro:
- Ontem tive um excelente jantar no Mimos.

- Como conseguiste?
- Eh pá, um turista me deu uma nota de 100 Mt porque eu disse que guardei o carro dele. Fui a correr ao Mimos e pedi uma refeição bem completa. Quando veio a conta eram 650 Mt.

- Então como é que pagaste???
- Não paguei hehehehe... Quando a conta chegou, eu disse que não tinha dinheiro. O gerente mandou chamar a policia e a polícia me levou preso.

- Chi, e como é que já estás aqui mesmo?
- Quando estávamos a chegar a esquadra, eu tirei os 100 Mt e dei ao polícia. Ele mandou-me logo embora.

26/06/2011

Juro "palavra dora"

25/06/2011

Pimenta Negra

Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro» dá emprego. Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro. Ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele. A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos "ricos". Aquilo que têm, não detêm. Pior, aquilo que exibem como seu é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitariam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por os lançar a eles próprios na cadeia. Necessitariam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.

O maior sonho dos nossos novos-ricos é, afinal, muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias.
Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos, ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.

As casas de luxo dos nossos falsos ricos são menos para serem habitadas do que para serem vistas
. Fizeram-se para os olhos de quem passa. Mas ao exibirem-se, assim, cheias de folhos e chibantices, acabam atraindo alheias cobiças. O fausto das residências chama grades, vedações electrificadas e guardas privados. Mas por mais guardas que tenham à porta, os nossos pobres-ricos não afastam o receio das invejas e dos feitiços que essas invejas convocam.

Coitados dos novos ricos. São como a cerveja tirada à pressão. São feitos num instante mas a maior parte é só espuma
. O que resta de verdadeiro é mais o copo que o conteúdo. Podiam criar gado ou vegetais. Mas não. Em vez disso, os nossos endinheirados feitos sob pressão criam amantes. Mas as amantes (e/ou os amantes) têm um grave inconveniente: necessitam ser sustentados com dispendiosos mimos. O maior inconveniente é ainda a ausência de garantia do produto. A amante de um pode ser, amanhã, amante de outro. O coração do criador de amantes não tem sossego: quem traiu sabe que pode ser traído.

Os nossos endinheirados-às-pressas não se sentem bem na sua própria pele
. Sonham em ser americanos, sul-africanos. Aspiram ser outros, distantes da sua origem, da sua condição. E lá estão eles imitando os outros, assimilando os tiques dos verdadeiros ricos de lugares verdadeiramente ricos. Mas os nossos candidatos a homens de negócios não são capazes de resolver o mais simples dos dilemas: podem comprar aparências, mas não podem comprar o respeito e o afecto dos outros. Esses outros que os vêem passear-se nos mal-explicados luxos. Esses outros que reconhecem neles uma tradução de uma mentira. A nossa elite endinheirada não é uma elite: é uma falsificação, uma imitação apressada.

A luta de libertação nacional guiou-se por um princípio moral: não se pretendia substituir uma elite exploradora por outra, mesmo sendo de uma outra raça. Não se queria uma simples mudança de turno nos opressores.
Estamos hoje no limiar de uma decisão: quem faremos jogar no combate pelo desenvolvimento? Serão estes que nos vão representar nesse relvado chamado "a luta pelo progresso"? Os nossos novos ricos (que nem sabem explicar a proveniência dos seus dinheiros) já se tomam a si mesmos como suplentes, ansiosos pelo seu turno na pilhagem do país.

São nacionais mas só na aparência
. Porque estão prontos a serem moleques de outros, estrangeiros. Desde que lhes agitem com suficientes atrativos irão vendendo o pouco que nos resta. Alguns dos nossos endinheirados não se afastam muito dos miúdos que pedem para guardar carros. Os novos candidatos a poderosos pedem para ficar a guardar o país. A comunidade doadora pode ir ás compras ou almoçar à vontade que eles ficam a tomar conta da nação. Os nossos ricos dão uma imagem infantil de quem somos. Parecem crianças que entraram numa loja de rebuçados. Derretem-se perante o fascínio de uns bens de ostentação.

Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal
. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura, o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem. Os índios norte-americanos que sobreviveram ao massacre da colonização operaram uma espécie de suicídio póstumo: entregaram-se à bebida até dissolverem a dignidade dos seus antepassados. No nosso caso, o dinheiro pode ser essa fatal bebida. Uma parte da nossa elite está pronta para realizar esse suicídio histórico. Que se matem sozinhos. Não nos arrastem a nós e ao país inteiro nesse afundamento.

Mia Couto
 

25 de junho

No dia da independência de Moçambique (obra de Roberto Chichorro), saudações de Cuba!

24/06/2011

O filho do Xiconhoca

De 1975 até 2011, o filho do Xiconhoca deixou de ser visto como um perigoso reacionário, como era o pai, para agora assumir a qualidade de membro do Comité Central do partido (eternamente) no poder.

É o homem do "negóce", do esquema, do selvo-capitalismo, do tráfego acima-da-suruma...

23/06/2011

Xiconhocas, SARL

A família do Xiconhoca, agora no poder, ainda há-de explicar como enriqueceu e como é que é dona de Cahora-Bassa e de todos os grandes negócios (minerais de Tete, Vale do Zambeze, bancos, terras para biodisel, etc.).

Quem cabritos vende mas cabras não tem...

22/06/2011

Xiconhoca, anda cá

Tempos de ditadura, tempos de sofrimento, tempos de fome, tempos de guerra.

A mesma camarilha, agora convertida ao capitalismo tropical, continua no poder. São os novos exploradores, os néo-xiconhocas.

21/06/2011

Uma flor da presidência

O parlamento português elegeu Maria da Assunção Esteves como sua Presidente.

Trata-se de uma elevada e merecida honra às mulheres portuguesas na pessoa da primeira mulher a ocupar o cargo de Presidente da Assembleia da República de Portugal.

Um acontecimento histórico, um bom começo para a legislatura de mudança que agora se inícia.

Portugal sente outra força. O país passou a respirar melhor.

Governo de Salvação Nacional

É hoje a tomada de posse do novo governo português. Tem uma missão gigantesca: salvar Portugal.

É hoje que começa uma vida nova na Educação, provavelmente a área mais destruída pelo socialismo, pelo sindicalismo e pelo "eduquês".

Muitas esperanças estão neste homem: Nuno Crato.

Verão começa hoje

Aí está o tempo quente europeu. Hoje é verão mesmo.

20/06/2011

O polícia moçambicano tem de viver

Há segredos por baixo da farda, na escuridão eterna das profundezas de um agente da lei e ordem? Um lar, uma mulher e filhos tornam um polícia um cidadão comum? Perguntas como estas alimentam o imaginário dos moçambicanos.

@Verdade conversou com três agentes e desvendou que não é só uma farda que separa o polícia de um moçambicano anónimo.

A palavra "difícil" fez sempre parte do vocabulário dos agentes da Polícia da República de Moçambique que, a 10 dias da entrada em vigor da cesta básica, levam as mãos à cabeça, apontando para a "insensibilidade do Governo" como o principal entrave à melhoria das condições da polícia.

"Ganhamos muito pouco", diz Alberto Cossa. "Não ganhamos nada", corrige Tembe. Mas, "não vamos passar fome por causa desse salário miserável. O nosso negócio é outro", confessa João.

Desde a falta de documentos, transgressões ao código de estrada, electrodomésticos sem documentação, passando por telefones celulares à aparência, tudo serve para interpelar um cidadão e amealhar algum dinheiro.

Porém, o vida não corre de feição, uma constatação unânime entre os agentes.

"Aquilo que o Governo aumentou no salário da polícia é uma vergonha", diz João. Com o aumento de 233 meticais – um saco de arroz de 10 quilos custa 280 meticais –, os agentes passaram a auferir 3175, 20. Porém, ficaram automaticamente excluídos da candidatura à cesta básica. Os cidadãos elegíveis têm de ter 2.500 meticais como salário ou rendimento máximo. No entanto, os agentes da PRM, apesar de acharam que a medida é "ridícula"
acreditam que poderia ajudar a minimizar as dificuldades de quem precisa.

Logo ao início da manhã, pouco depois da habitual formatura, já muitos agentes da PRM estão nas ruas à procura de algo para comer. Até porque saco vazio não fica em pé "os bolsos dos cidadãos desatentos" garantem a cesta básica, algum valor para deixar em casa e dinheiro de transporte.

Retrato da corrupção
Cossa ficou viúvo um dia depois de ter entrado para a PRM, em 2002. A sua mulher, Clara Luzenda, morreu no parto da sua primeira e única filha. No primeiro ano, Cossa sofreu muito. Ganhava muito pouco e não tinha com quem deixar a filha. "Não sei o que teria sido de mim sem o apoio das minhas vizinhas", conta.

De quando é que começou a extorquir dinheiro aos cidadãos não tem memória, mas lembra- -se vagamente da forma. Tem ashes apenas. Uma das imagens mais fortes que lhe vem à memória é a da filha com dias de vida, ao seu colo, à procura do peito materno.

"Tinha de acordá-la a meio da noite para lhe dar o biberão com água de arroz e via a cabeça dela de um lado para o outro à procura da mama... Nessas alturas, sei que não conseguia segurar as lágrimas."

Como se aquela dor não bastasse e a responsabilidade de ser pai sozinho não fosse suficiente, o destino pregou-lhe nova partida. Três meses depois de perder Clara, Luís viu a filha a perder peso repentinamente. Também assim, de repente, sem mais.

"No dia 1 de Janeiro, a minha filha sentiu-se mal, levei-a para o hospital, e a 7 tivemos alta. Estava desidratada e disseram- -me claramente que tinha de lhe dar leite. Uma lata de leite custava 230 meticais e a minha filha precisava de quatro num mês. Eu não tinha onde ir buscar esse dinheiro. Foi por isso que comecei a extorquir os cidadãos. Tive de escolher entre a vida da minha filha e a minha honestidade."

Cossa tem 35 anos, Clarinha 9. Vivem ambos para os lados de Kongolote, onde já têm uma rotina instalada. De manhã, Cossa leva a fi lha à escola, a poucos quilómetros de casa, e segue para o trabalho de agente da lei e ordem numa esquadra da cidade de Maputo. Trabalha 24 horas e na sua ausência a filha fica em casa de uma vizinha.

Com o dinheiro que faz na rua, cerca de 300 meticais por dia consegue deixar 600 na casa da vizinha para que cuide da filha. Nas folgas ele é que vai buscá-la às 17h30, dá-lhe banho, prepara o jantar e depois vem o período preferido de ambos, o da brincadeira.

Quem o ouve pode pensar que conseguiu ser corrupto com a maior facilidade do mundo, mas na realidade não lhe é fácil falar do que aconteceu, embora nunca saia da pose de um biscateiro bem-disposto. Confessa que quando extorquiu os primeiros 200 meticais, se sentiu "vazio". "Parece que não estamos nem neste mundo nem no outro. Mas o cabrito come onde está amarrado", descreve.

Seguiu-se "uma revolta muito grande e uma sensação de injustiça".

Afinal, um agente da polícia tem de ter meios para ganhar a vida. O juramento é meramente cosmético. A necessidade é sempre maior do que a moral. Nos treinos, tudo correu "normalmente". Cossa queria ser um agente exemplar, mas até ser corrupto "para viver" levou pouco tempo. Nada fazia prever que a necessidade levasse a este desfecho.

Eu fui sempre corrupto
Após vestir a farda, Tembe passou a olhar para "todos os cidadãos" como se fossem "potenciais carteiras", confessa numa gargalhada. Com o total apoio dos agentes com mais anos na corporação, transformou-se num "mestre" na extorsão. "É sempre fácil tirar o dinheiro porque os moçambicanos não conhecem os seus direitos, assim como têm medo de uma farda.

"Felizmente, há muitos sinais de trânsito pouco visíveis na cidade de Maputo." Há um ano, comecei a trabalhar com a Polícia de Trânsito, com quem jamais quero deixar de colaborar. E, apesar de saber que o que faz é errado, acha-se no direito de ganhar 'o seu dinheiro.' "Se há pessoas que têm mobílias de 1.2 milhão de meticiais porque é que o Tembe não pode pelo menos comer carne em casa?", questiona.

Tembe diz que sente que, apesar do salário magro, jamais deixaria de ser polícia e explica que deste que está na PRM passou a encarar o trabalho de outra forma, como algo para "gerar dinheiro e melhorar a vida do polícia".

Mas, se "a vontade de enriquecer é agora maior", o medo de morrer também o é. "Acho que ainda hoje não acredito que consigo dar boa alimentação à minha família. Tenho um medo constante de tudo desmoronar.

A culpa é da negligência do Governo
"Há polícias que passam fome quando entram na corporação, mas também há aqueles que são corruptos porque é a sua forma de vida. Isto funciona como alerta. Por isso, os serviços sociais deviam acompanhar de perto os horários e providenciar alimentação aos agentes", explica João. "Não teríamos necessidade de comer na rua se a messe da polícia funcionasse.

"Acham normal que uma esquadra tenha um centro social que cobra 50 meticais por refeição?", pergunta. 3175 meticais dá para 63 pratos. "Se considerarmos que um polícia trabalha 15 dias por mês e toma duas refeições por dia, no fim do mês ele terá gasto 1500 meticais. Vocês acham que um agregado familiar de 5 pessoas pode viver com 1675 meticais num mês?", questiona.

Na PRM, a pobreza é igual ou maior do que a média do país. Ainda assim, João sabe que a corrupção não se explica assim de forma tão linear. A sociedade e a imprensa sempre alertaram para a existência de agentes mal formados e corruptos.

Porém, "não foi por ignorar esses valores que comecei a extorquir dinheiro aos cidadãos e aceitar subornos. Como qualquer pessoa tenho ambições. Se não me tivesse virado não teria construído nem um quarto no meu terreno. Hoje tenho uma casa de dois pisos e não posso negar que isso é dinheiro da corrupção", confessa e acrescenta: "isso é como tudo na vida. Há quem vive de amealhar 10, 20 ou 30 meticais, como também agentes que vivem de negócios
de 50 ou 100 mil meticais."

Efectivamente, um polícia tem as mesmas preocupações de pai e de homem de família por cumprir. João tem noção de que "há coisas" que não vai conseguir exigir dos filhos "como um pai exemplar". Como, por exemplo, sobre honestidade, integridade e valores fundamentais, diz, a rir, concluindo, que "por força das circunstâncias, nem eu voltei a ser honesto por ser polícia nem os meus filhos serão educados em circunstâncias normais, entre aspas."

No entanto, diz que tem sorte, porque os filhos não querem ser polícias!

19/06/2011

Acórdão do Tribunal da Relação

Eis uma fotografia da Justiça, para quem acha que ela anda mal:

Por isso, quando estiverem zangados com as chefias... uma sugestão com acolhimento do Tribunal da Relação!

Aqui vai a versão resumida:

Quartel da GNR, 4 de Agosto de 2009: cabo da Guarda solicita troca de serviço. Superior hierárquico opõe-se. O militar argumenta: *Vá pró caralho.*·

Acusado do crime de insubordinação, o cabo escapa a julgamento por decisão do juiz do Tribunal de Instrução Criminal.

A hierarquia recorre. O Tribunal da Relação de Lisboa decide:

«[...] *A utilização da expressão não é ofensiva, mas sim um modo de verbalizar estados de alma* [...] pois tal resulta da experiência comum, que *caralho é palavra usada* por alguns (muitos) *para *expressar, definir, explicar ou *enfatizar toda uma gama de sentimentos humanos* e diversos estados de ânimo. Por exemplo pró caralho é usado para representar
algo excessivo.

Seja grande ou pequeno de mais. Serve para referenciar realidades numéricas indefinidas: chove pra caralho..., o Cristiano Ronaldo joga pra caralho... [...] *não há nada a que não se possa juntar um caralho,*  funcionando este *como* verdadeira *muleta* oratória.»·

O juiz-desembargador Calheiros da Gama e o juiz militar major-general Norberto Bernardes corroboraram a decisão do juiz de instrução de não levar o cabo a julgamento. Virilidade verbal, dizem eles.

Os detalhes estão no «Diário de Notícias».

18/06/2011

Carta a Jorge Coelho

Caro Dr. Jorge Coelho, como sabe, V. Exa. enviou-me uma carta, com conhecimento para a direcção deste jornal. Aqui fica a minha resposta.

Em 'O Governo e a Mota-Engil' (crónica do sítio do «Expresso»), eu apontei para um facto que estava no Orçamento do Estado (OE): a Ascendi, empresa da Mota-Engil, iria receber 587 milhões de euros.

Olhando para este pornográfico número, e seguindo o economista Álvaro Santos Pereira, constatei o óbvio: no mínimo, esta transferência de 587 milhões seria escandalosa (este valor representa mais de metade da receita que resultará do aumento do IVA). Eu escrevi este texto às nove da manhã. À tarde, quando o meu texto já circulava pela internet, a Ascendi apontou para um "lapso" do OE: afinal, a empresa só tem direito a 150 milhões, e não a 587 milhões. Durante a tarde, o sítio do Expresso fez uma notícia sobre esse lapso, à qual foi anexada o meu texto.

À noite, a SIC falou sobre o assunto. Ora, perante isto, V. Exa. fez uma carta a pedir que eu me retratasse.

Mas, meu caro amigo, o lapso não é meu.
O lapso é de Teixeira dos Santos e de Sócrates. A sua carta parece que parte do pressuposto de que os 587 milhões saíram da minha pérfida imaginação. Meu caro, quando eu escrevi o texto, o 'lapso' era um 'facto' consagrado no OE. V. Exa. quer explicações? Peça-as ao ministro das Finanças. Mas não deixo de registar o seguinte: V. Exa. quer que um Zé Ninguém peça desculpas por um erro cometido pelos dois homens mais poderosos do país.

Isto até parece brincadeirinha.

Depois, V. Exa. não gostou de ler este meu desejo utópico: "quando é que Jorge Coelho e a Mota-Engil desaparecem do centro da nossa vida política?". A isto, V. Exa. respondeu com um excelso "servi a Causa Pública durante mais de 20 anos".

Bravo.
Mas eu também sirvo a causa pública. Além de registar os "lapsos" de 500 milhões, o meu serviço à causa pública passa por dizer aquilo que penso e sinto. E, neste momento, estou farto das PPP de betão, estou farto das estradas que ninguém usa, e estou farto das construtoras que fizeram esse mar de betão e alcatrão. No fundo, eu estou farto do atual modelo económico assente numa espécie de new deal entre políticos e as construtoras.
Porque este modelo fez muito mal a Portugal, meu caro Jorge Coelho. O modelo económico que enriqueceu a sua empresa é o modelo económico que empobreceu Portugal.

Não, não comece a abanar a cabeça, porque eu não estou a falar em teorias da conspiração. Não estou a dizer que Sócrates governou com o objetivo de enriquecer as construtoras.

Nunca lhe faria esse favor, meu caro. Estou apenas a dizer que esse modelo foi uma escolha política desastrosa para o país. A culpa não é sua, mas sim dos partidos, sobretudo do PS. Mas, se não se importa, eu tenho o direito a estar farto de ver os construtores no centro da vida colectiva do meu país. Foi este excesso de construção que arruinou Portugal, foi este excesso de investimento em bens não-transaccionáveis que destruiu o meu futuro próximo.
No dia em que V. Exa. inventar a obra pública exportável, venho aqui retratar-me com uma simples frase: "eu estava errado, o dr. Jorge Coelho é um visionário e as construtoras civis devem ser o Alfa e o Ómega da nossa economia".
Até lá, se não se importa, tenho direito a estar farto deste new deal entre políticos e construtores.

17/06/2011

Governo de Salvação Nacional

Portugal terá novo Governo, depois do desgoverno socretino, após cerca de quase ininterruptos 15 anos de desgovernação socialista.

A composição anunciada é de gente patriota, gente de qualidade, gente que fará um esforço gigantesco para salvar Portugal.

Os portuguese escolheram bem!
(imagem de www.publico.pt)

Planeamento estratégico

Um dia o Joãozinho vai à Igreja, dirige-se ao confessionário e confessa-se ao padre.

- Senhor Padre, eu pequei. Fui seduzido por uma mulher casada que se diz séria.
- És tu, Joãozinho?
- Sou, Sr. Padre, sou eu.
- E com quem estiveste tu?
- Padre, eu já disse o meu pecado.... Ela que confesse o dela.
- Olha, mais cedo ou mais tarde eu vou saber, assim é melhor que me digas agora!... Foi a Isabel da farmácia?
- Os meus lábios estão selados, disse Joãozinho.
- Então foi a Maria do quiosque?
- Por mim, jamais o saberá...
- Ah! Ou não terá sido a Maria José florista?
- Não direi nunca!!!
- Já sei, só pode ter sido a Manuela da tabacaria!
- Senhor Padre, não insista!!!
- Vamos lá acabar com isto! Foi a Catarina da pastelaria, não foi?
- Senhor Padre, isto não faz sentido.

O Padre rói as unhas desesperado e diz-lhe então:
- És um cabeça dura, Joãozinho, mas no fundo do coração admiro a tua reserva. Vai então rezar vinte Pais-Nossos e dez Avé-Marias.... Vai com Deus, meu filho...

Joãozinho sai do confessionário e vai para os bancos da igreja.

O seu amigo Manecas desliza para junto dele e sussurra-lhe:
- E então? Conseguiste a Lista?
- Consegui. Já temos cinco mulheres casadas que dão umas baldas!!

Conclusão:
O planeamento estratégico começa com a análise do mercado!


16/06/2011

Por vales de Neptuno

Um perfil artístico deveras interessante e que se recomenda vivamente:

15/06/2011

Ir àquela parte

Um conhecido político português, felizmente posto à margem há poucos dias, chegou uma pequena cidade beirã, em plena campanha eleitoral, subiu  para cima de um caixote e, com a voz já rouca, começou o seu discurso:

- Compatriotas, companheiros, amigos! Encontramo-nos aqui, convocados, reunidos ou ajuntados, para debater, tratar ou discutir um tópico, tema ou assunto, o qual é transcendente, importante ou de vida ou de morte. O tópico, tema ou assunto que hoje nos convoca, reúne ou ajunta, é a minha postulação, aspiração ou candidatura a Primeiro-Ministro.

De repente, uma pessoa do público pergunta:
- Ouça lá, porque é que o senhor utiliza sempre três palavras, para dizer a mesma coisa?

O candidato respondeu:
- Pois veja, meu caro: a primeira palavra é para pessoas com nível cultural muito alto, como poetas, escritores, filósofos, etc.; A segunda é para pessoas com um nível cultural médio, como o senhor e a maioria dos que estão aqui; E a terceira palavra é para pessoas que têm um nível cultural muito baixo, pelo chão, digamos, como aquele bêbado, ali jogado na esquina.

De imediato, o bêbado levantou-se, cambaleando, e respondeu:
- Senhor postulante, aspirante ou candidato! O facto, circunstância ou razão pelo qual me encontro num estado etílico, bêbado ou mamado, não implica, significa, ou quer dizer que o meu nível cultural seja ínfimo, baixo ou, mesmo, ralé. E com todo o respeito, estima ou carinho que o senhor me merece pode ir agrupando, reunindo ou ajuntando os seus pertences, coisas ou bagulhos e encaminhar-se, dirigir-se ou ir diretinho à leviana da sua genitora, à mundana da sua mãe biológica ou à puta que o pariu!

14/06/2011

14 de junho Che Guevara

Ernesto "Che" Guevara, (14.06.1928 - 09.10.1969) sobre quem, a propaganda marxista e oportunismo comercial de alguns, tem transformado num santo herói, foi, na vida real, um dos maiores criminosos do século XX e, além disso, um político errático, errado e supremo idiota.

Como Ministro da Indústria e Governador do Banco Central, "Che" aplicou teorias económicas ("Sobre el sistema presupuestario de financiamiento") que arrasaram a economia cubana, cujas empresas foram transformadas em meras repartições estatais, totalmente ineficientes e incapazes.

Em 1965, decidido a levar a revolução ao continente africano, "Che" parte para o Congo com um grupo de cem cubanos internacionalistas - mais corretamente, cem cubanos pretos - com o objetivo de lançar um foco de guerrilha. A operação foi um fiasco completo, desde logo porque desfasada da realidade.

Na época, o "Che" encontrou-se em Dar-es-Salam com Eduardo Mondlane (14.02.1965), então presidente da Frelimo a quem tentou convencer dos méritos das suas teorias (na imagem).

Mais tarde, haveria de dizer de todos os nacionalistas africanos aquilo que um "bom colono" não diria do seu mainato.

13/06/2011

Chegando a Lisboa

Lisboa é uma cidade muito bonita.

Por issso, a aproximação a Lisboa de de um A330 da TAP, vindo do Rio de Janeiro, às primeiras horas da manhã, comandado pelo comandante António Escarduça, autor da fimagem, é um espetáculo fabuloso.

O dia de Lisboa

.. em homenagem do artista belga Ben Heine ao elétrico 28:
  

12/06/2011

Novas Oportunidades de embuste

Começo por informar que não sou, nunca fui e não serei eleitor votante no PSD. Situo-me num espectro político-ideológico completamente diverso, portanto a razão do meu contato não tem qualquer motivação partidária.

Simplesmente acho que este assunto é demasiado sério para ser tratado apenas como uma guerra de palavras entre dois partidos candidatos ao governo.

Fui formador de informática durante 17 anos, actividade que deixei de exercer a tempo inteiro em Agosto passado, quando ingressei na Administração Pública, mas nos últimos anos tive a infeliz oportunidade de conhecer a realidade da formação nas Novas Oportunidades. "Infeliz" porque pude verificar que se trata de um completo embuste. Em 17 anos de atividade e com mais de 12.000 horas de formação ministrada, a única vez que tive vontade de abandonar um curso foi nas Novas Oportunidades.

De facto, o modo como estes cursos estão estruturados é mau demais para ser verdade, e quem não conheceu a situação no terreno nem imagina a tragédia que aquilo é. E é este o motivo que me leva a entrar em contacto convosco: para dar o testemunho de quem teve a desdita de ministrar cursos das Novas Oportunidades.

1. O primeiro foi num centro de emprego na região de Lisboa.
Pretendia-se certificar os formandos com qualificação equivalente ao 6º ano, num curso qualificado como B2. Coube-me ministrar 100 horas de informática, onde se deveria incluir módulos de Word, Excel, PowerPoint e Internet. As dificuldades começaram logo na utilização do próprio computador, porque a formação de base da maioria dos 10 formandos era tão rudimentar que vários deles nem o seu próprio nome de utilizador e respetiva password conseguiram fixar durante aquelas 100 horas.

Por vários motivos: os conhecimentos de português eram quase nulos em vários dos formandos; houve quem não conseguisse escrever sequer um parágrafo completo durante aquele tempo; havia quem conseguisse dar dois erros ortográficos na mesma palavra.

No módulo de Excel, as coisas foram piores, de tal forma que ao fim de 3 sessões desisti de continuar com aquele módulo. Era impossível fazê-los perceber como calcular esta coisa simples: se fossem à bomba de gasolina, abastecessem 25 litros e cada litro custasse 1,2 €, quanto gastariam? Este era o cálculo mais simples que se poderia executar numa folha de cálculo, mas primeiro era preciso que percebessem o raciocínio do cálculo. Impossível.

Só no PowerPoint e na Internet é que se conseguiu que a generalidade dos formandos fizesse algum trabalho visível. Mesmo assim, o panorama geral era francamente desolador. Cheguei a falar com os professores de português e matemática para perceber se aquela tragédia era mesmo o que parecia, o que me foi confirmado. Na altura a minha filha estava no 5º
ano, e tinha mais conhecimentos que qualquer um deles.

Os problemas não se ficavam por aqui. Em termos pessoais as coisas ainda eram mais difíceis. Um dos formandos era alcoólico e trabalhava zero. Chegava às aulas alcoolizado e era incapaz de acompanhar qualquer assunto. Outro tinha estado preso por tráfico de droga. Outro era um jovem de 19 anos que se gostava de exibir nas aulas a dizer que era gay.

Outra, com 55 anos, andava sempre atrelada a este e era ele que lhe fazia os testes, porque ela deixava de trabalhar quando ele estava próximo, enquanto nos intervalos aproveitavam para dar umas passas.

Outra ainda dizia ser doente e faltava constantemente, chegava tarde e saía cedo porque tinha de apanhar o autocarro, e saía constantemente da sala para tomar comprimidos porque estava cheia de dores.

Como as minhas aulas eram quase sempre nos últimos dois tempos, das 18 às 20 horas, eles queriam sair mais cedo não havendo intervalo. Mas como eram os últimos tempos, antes iam jantar ao refeitório, donde resultava que por vezes entravam na sala às 18:30 e às 19:30 queriam ir-se embora.

No meio de tudo, o que verdadeiramente os preocupava era quando iriam receber o subsídio...

No final de tudo aquilo, como profissional que leva o seu trabalho a sério, fiz um relatório de avaliação onde indiquei que 3 dos formandos não iriam ser aprovados porque não tinham os conhecimentos mínimos para tal. Perante isto fui contatado pela pessoa coordenadora do curso, que me pediu por favor para os passar, pois se não o fizesse eles não poderiam receber o diploma. Acedi contrariado mas elaborei uma informação a justificar o meu desacordo e senti que estava a colaborar numa farsa.

Posteriormente voltei ao mesmo centro de formação para frequentar uma ação de atualização do CAP (Certificado de Aptidão Profissional), onde a formadora era uma colega que também tinha sido formadora do mesmo curso. Informou-me que o tal formando alcoólico estava agora a frequentar outro curso das Novas Oportunidades para obter o 9º ano! Eu nem queria acreditar. O homem é quase analfabeto!

2. Depois desta tragédia, fui convidado por uma empresa de formação para ministrar um curso do mesmo género fora de Lisboa, neste caso para um nível equivalente ao 9º ano. Foram-me atribuídos dois módulos, introdução à informática e PowerPoint, em dias alternados. Fui eu que abri o curso, e durante 7 horas no primeiro dia estive a falar de conceitos gerais de informática e de utilização do computador, de arrumação de pastas e ficheiros.

Qual foi a minha surpresa quando verifiquei que no segundo dia iria outro formador dar Excel, no terceiro dia iria outra formadora dar Word e no quatro dia voltaria eu, para continuar a falar de pastas e ficheiros! Pensei para mim próprio: onde eu vim cair! Como é possível que um curso seja estruturado desta forma? Que lógica de aprendizagem é esta? Quem estabelece este calendário? Como se admite que num dia se fale de pastas e ficheiros e no dia seguinte se esteja a falar de folha de cálculo sem ainda se ter explicado no módulo inicial como se criam pastas?

E de quem é a responsabilidade desta amálgama? Quem propõe este calendário e quem o aprova? Será a empresa formadora que propõe, ou serão os responsáveis que, sentados num gabinete e sem qualquer noção do que é uma ação de formação, determinam que um formador não pode dar mais do que 7 horas seguidas na mesma turma, e por isso tem de se
misturar módulos diferentes com formadores diferentes sem qualquer lógica nem critério?

3. Num terceiro caso, o objetivo já era certificar o 12º ano. Uma das participantes era também uma jovem com 19 anos a quem perguntei porque não ia fazer o 12º ano numa escola.
Resposta: porque aqui é mais fácil.

Apesar de tudo estes eram mais empenhados, embora deixassem alguns comentários em tom incomodado como "o quê, temos de fazer uma avaliação?"

Mas o programa do curso... oh céus! Como é possível, como, elaborar programas como aqueles? Consulta-se o conteúdo programático dos vários módulos das UFCD (unidades de formação de curta duração), e vemos estas pérolas:

- Informática – evolução 25 horas
- Arquitectura de computadores 50 horas
Gestão e organização da informação 25 horas
Sistemas operativos 50 horas
Sistemas operativos multitarefas 50 horas
Sistemas operativos utilitários complementares 25horas

Daria vontade de rir se não fosse trágico. Como é possível elaborar 3 módulos de sistemas operativos, a par com um de gestão de ficheiros, ter formadores a falar das mesmas coisas durante 50 horas em módulos diferentes?

Pergunto eu: alguém faz ideia do que está a fazer quando elabora estes módulos?

Vale a pena consultar estes conteúdos aqui, aqui. e aqui.

Alguém que perceba como é que se diferencia uns dos outros, e que justificação existe para fazer disto módulos de 50 horas. Quem são os crânios, sentados atrás duma secretária e sem ter qualquer noção do que é a formação, que determinam que os módulos têm todos de ser em múltiplos de 25 horas? E pedagogicamente, qual é a lógica subjacente? Se as aulas são normalmente de 3 horas ou 3 horas e meia, como se faz um calendário com pés e cabeça de modo a completar 25 horas? Não têm sequer a noção básica de que as durações deviam ser em múltiplos de 3?

Quem é que é pago para conceber esta miséria?

E o que são os sistemas operativos utilitários complementares? São 25 horas para ensinar a utilizar um antivírus e compactar e descompactar ficheiros com um programa do tipo WinZip. 25 horas para isto? Era como se criassem um módulo para ensinar a atarraxar lâmpadas: explicava-se numa hora e depois ficava-se 24 horas a enroscar e desenroscar a lâmpada...

É isto que resulta das Novas Oportunidades: andar a "certificar" analfabetos que na sua maioria não estão minimamente interessados em aprender o que quer que seja, querem sim ter um diploma que ateste que têm o 9º ou o 12º ano, mas que quando forem para o mercado de trabalho irão mostrar a sua total ignorância. Como me podem "obrigar" a passar pessoas como tendo competências informáticas quando nem um parágrafo conseguem escrever? E o meu nome fica associado a uma vigarice destas a troco de quê? Por que carga de água é que eu hei-de dizer que aquelas pessoas têm competências que não têm?

De facto, seria bom que alguém fizesse uma auditoria (mas a sério, não a fingir) à seriedade das Novas Oportunidades. Pessoalmente considero, mais que um embuste, um roubo que se está a fazer aos portugueses apenas para mascarar estatísticas com pseudo-qualificações que,
objetivamente, as pessoas não têm.

No fim da minha colaboração com este programa, para além da frustração perante a inutilidade daquilo que estive a fazer, sobreveio principalmente uma enorme indignação por verificar que estava a assistir a um desbaratar de recursos de forma totalmente inútil e da qual não advém qualquer mais-valia para o país.

Estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais que considerem necessários. Acrescento que uma cópia deste e-mail vai ser enviada para todos os grupos parlamentares, uma vez que vi a notícia de que o assunto vai ser discutido no parlamento. Espero que o meu testemunho ajude a esclarecer os espíritos.

Com os melhores cumprimentos

Mário Feliciano
(leitor)

11/06/2011

Doing Business in Mozambique

10/06/2011

É possível

Nada é novo. Nunca! Já lá estivemos, já o vivemos e já conhecemos. Uma crise financeira, a falência das contas públicas, a despesa pública e privada, ambas excessivas, o desequilíbrio da balança comercial, o descontrolo da atividade do Estado, o pedido de ajuda externa, a intervenção estrangeira, a crise política e a crispação estéril dos dirigentes partidários. Portugal já passou por isso tudo. E recuperou.
O nosso país pode ultrapassar, mais uma vez, as dificuldades actuais. Não é seguro que o faça. Mas é possível.
Tudo é novo. Sempre! Uma crise internacional inédita, um mundo globalizado, uma moeda comum a várias nações, um assustador défice da produção nacional, um insuportável grau de endividamento e a mais elevada taxa de desemprego da história. São factos novos que, em simultâneo, tornam tudo mais difícil, mas também podem contribuir para novas soluções. Não é certo que o novo enquadramento internacional ajude a resolver as nossas insuficiências. Mas é possível.

Novo é também o facto de alguns políticos não terem dado o exemplo do sacrifício que impõem aos cidadãos. A indisponibilidade para falarem uns com os outros, para dialogar, para encontrar denominadores comuns e chegar a compromissos contrasta com a facilidade e o oportunismo com que pedem aos cidadãos esforços excepcionais e renúncias a que muitos se recusam. A crispação política é tal que se fica com a impressão de que há partidos intrusos, ideias subversivas e opiniões condenáveis.

O nosso Estado democrático, tão pesado, mas ao mesmo tempo tão frágil, refém de interesses particulares, nomeadamente partidários, parece conviver mal com a liberdade. Ora, é bom recordar que, em geral, as democracias, não são derrotadas, destroem-se a si próprias!

Há momentos, na história de um país, em que se exige uma especial relação política e afectiva entre o povo e os seus dirigentes. Em que é indispensável uma particular sintonia entre os cidadãos e os seus governantes. Em que é fundamental que haja um entendimento de princípio entre trabalhadores e patrões. Sem esta comunidade de cooperação e sem esta consciência do interesse comum nada é possível, nem sequer a liberdade.

Vivemos um desses momentos. Tudo deve ser feito para que estas condições de sobrevivência, porque é disso que se trata, estejam ao nosso alcance. Sem encenação medíocre e vazia, os políticos têm de falar uns com os outros, como alguns já não o fazem há muito. Os políticos devem respeitar os empresários e os trabalhadores, o que muitos parecem ter esquecido há algum tempo. Os políticos devem exprimir-se com verdade, princípio moral fundador da liberdade, o que infelizmente tem sido pouco habitual. Os políticos devem dar provas de honestidade e de cordialidade, condições para uma sociedade decente.

Vivemos os resultados de uma grave crise internacional. Sem dúvida. O nosso povo sofre o que outros povos, quase todos, sofrem. Com a agravante de uma crise política e institucional europeia que fere mais os países mais frágeis, como o nosso. Sentimos também, indiscutivelmente, os efeitos de longos anos de vida despreocupada e ilusória. Pagamos a fatura que a miragem da abundância nos legou. Amargamos as sequelas de erros antigos que tornaram a economia portuguesa pouco competitiva e escassamente inovadora. Mas também sofremos as consequências da imprevidência das autoridades. Eis por que o apuramento de responsabilidades é indispensável, a fim de evitar novos erros.

Ao longo dos últimos meses, vivemos acontecimentos extraordinários que deixaram na população marcas de ansiedade. Uma sucessão de factos e decisões criou uma vaga de perplexidade. Há poucos dias, o povo falou. Fez a sua parte. Aos políticos cabe agora fazer a sua. Compete-lhes interpretar, não aproveitar. Exige-se-lhes que interpretem não só a expressão eleitoral do nosso povo, mas também e sobretudo os seus sentimentos e as suas aspirações. Pede-se-lhes que sejam capazes, como não o foram até agora, de dialogar e discutir entre si e de informar a população com verdade. Compete-lhes estabelecer objectivos, firmar um pacto com a sociedade, estimular o reconhecimento dos cidadãos nos seus dirigentes e orientar as energias necessárias à recuperação económica e à saúde financeira. Espera-se deles que saibam traduzir em razões públicas e conhecidas os objectivos das suas políticas. Deseja-se que percebam que vivemos um desses raros momentos históricos de aflição e de ansiedade colectiva em que é preciso estabelecer uma relação especial entre cidadãos e governantes. Os Portugueses, idosos e jovens, homens e mulheres, ricos e pobres, merecem ser tratados como cidadãos livres. Não apenas como contribuintes inesgotáveis ou eleitores resignados.

É muito difícil, ao mesmo tempo, sanear as contas públicas, investir na economia e salvaguardar o Estado de protecção social. É quase impossível. Mas é possível. É muito difícil, em momentos de penúria, acudir à prioridade nacional, a reorganização da Justiça, e fazer com que os Juízes julguem prontamente, com independência, mas em obediência ao povo soberano e no respeito pelos cidadãos. É difícil. Mas é possível.

O esforço que é hoje pedido aos Portugueses é talvez ímpar na nossa história, pelo menos no último século. Por isso são necessários meios excepcionais que permitam que os cidadãos, em liberdade, saibam para quê e para quem trabalham. Sem respeito pelos empresários e pelos trabalhadores, não há saída nem solução. E sem participação dos cidadãos, nomeadamente das gerações mais novas, o esforço da comunidade nacional será inútil.
É muito difícil atrair os jovens à participação cívica e à vida política. É quase impossível. Mas é possível. Se os mais velhos perceberem que de nada serve intoxicar a juventude com as cartilhas habituais, nem acreditar que a escola a mudará, nem ainda pensar que uma imaginária "reforma de mentalidades" se encarregará disso. Se os dirigentes nacionais perceberem que são eles que estão errados, não as jovens gerações, às quais faltam oportunidades e horizontes. Se entenderem que o seu sistema político é obsoleto, que o seu sistema eleitoral é absurdo e que os seus métodos de representação estão caducos.

Como disse um grande jurista, “cada geração tem o direito de rever a Constituição”. As jovens gerações têm esse direito. Não é verdade que tudo dependa da Constituição. Nem que a sua revisão seja solução para a maior parte das nossas dificuldades. Mas a adequação, à sociedade presente, desta Constituição anacrónica, barroca e excessivamente programática afigura-se indispensável. Se tantos a invocam, se tantos a ela se referem, se tantos dela se queixam, é porque realmente está desajustada e corre o risco de ser factor de afastamento e de divisão. Ou então é letra morta, triste consolação. Uma nova Constituição, ou uma Constituição renovada, implica um novo sistema eleitoral, com o qual se estabeleçam condições de confiança, de lealdade e de responsabilidade, hoje pouco frequentes na nossa vida política. Uma nova Constituição implica um reexame das relações entre os grandes órgãos de soberania, actualmente de muito confusa configuração. Uma Constituição renovada permitirá pôr termo à permanente ameaça de governos minoritários e de Parlamentos instáveis. Uma Constituição renovada será ainda, finalmente, o ponto de partida para uma profunda reforma da Justiça portuguesa, que é actualmente uma das fontes de perigos maiores para a democracia. A liberdade necessita de Justiça, tanto quanto de eleições.

Pobre país moreno e emigrante, poderás sair desta crise se souberes exigir dos teus dirigentes que falem verdade ao povo, não escondam os factos e a realidade, cumpram a sua palavra e não se percam em demagogia!



País europeu e antiquíssimo, serás capaz de te organizar para o futuro se trabalhares e fizeres sacrifícios, mas só se exigires que os teus dirigentes políticos, sociais e económicos façam o mesmo, trabalhem para o bem comum, falem uns com os outros, se entendam sobre o essencial e não tenham sempre à cabeça das prioridades os seus grupos e os seus adeptos.

País perene e errante, que viveste na Europa e fora dela, mas que à Europa regressaste, tens de te preparar para viver com metas difíceis de alcançar, apesar de assinadas pelo Estado e por três partidos, mas tens de evitar que a isso te obrigue um governo de fora.

País do sol e do Sul, tens de aprender a trabalhar melhor e a pensar mais nos teus filhos.

País desigual e contraditório, tens diante de ti a mais difícil das tarefas, a de conciliar a eficiência com a equidade, sem o que perderás a tua humanidade. Tarefa difícil. Mas possível.



António Barreto, Presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Castelo Branco, 10 de Junho de 2011