27/07/2010

Sistema bancário europeu em grande perturbação

A dívida total bruta portuguesa ao exterior atinge 233% (a dívida líquida será sensivelmente de metade do valor indicado) sendo o Estado responsável por 60%, o Banco de Portugal por 14%, a banca comercial por 114% e as empresas privadas não bancárias por 34%.

Algumas das maiores empresas portuguesas, como a PT e a EDP, têm enormes dívidas ao estrangeiro e distribuem dividendos pelos seus acionistas (estrangeiros na maior parte) embora  solicitem empréstimos para financiamento.

Eis o desenvolvimento guterro-socretino. E os burros, são os alemães?
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Sistema bancário europeu em grande perturbação

O sistema bancário da UE está em grande perturbação. Muitos dos maiores bancos da UE estão assentados sobre centenas de milhares de milhões de euros de títulos soberanos duvidosos e sobre empréstimos imobiliários incumpridos. Mas registarem as suas perdas esgotaria o seu capital e forçá-los-ia a reestruturar a sua dívida. De modo que os bancos estão a esconder as suas perdas através de prestidigitações contabilísticas e pela tomada de dinheiro emprestado do Banco Central Europeu. Isto tem ajudado a esconder o apodrecimento no coração do sistema.

Atualmente 170 bancos estão a ter dificuldade de acesso aos mercados grossistas onde obtêm o seu financiamento. Instituições financeiras escusam-se a emprestar umas às outras porque não estão seguras de quem está solvente ou não. É uma questão de confiança.

O governador do BCE, Jean-Claude Trichet, tenta manter os problemas debaixo do pano, mas os mercados não são facilmente enganados. Indicadores de stress, como o euribor, elevaram-se durante os últimos dois meses. Os investidores sentem que algo cheira mal. Eles sabem que os bancos estão a brincar o jogo das escondidas com ativos degradados e sabem que Trichet está a ajudá-los.

Na semana passada as acções animaram-se com a notícia de que bancos da UE reembolsariam a maior parte do empréstimo de emergência de €442 mil milhões do BCE. A notícia foi sobretudo um truque publicitário concebido para esconder o que realmente acontecia. Sim, os bancos os bancos tomaram emprestado significativamente menos do que analistas haviam previsto (outros €132 mil milhões), mas apenas dois dias depois 78 bancos tomaram emprestado outros €111 mil milhões. Os empréstimos adicionais sugerem que Trichet inventou tudo para induzir investidores.

Os bancos da UE estavam empenhados nas mesmas actividades de alto riscos dos seus homólogos dos EUA. Comportavam-se imprudentemente em mercados especulativos que foram impulsionados com a máxima alavancagem. Banqueiros arrecadaram centenas de milhares de milhões em salários e bónus antes de a bolha estourar. Agora o valor dos títulos que compraram afundou, de modo que se voltam para o BCE à procura de salvamento. Soa familiar?

Trichet é um representante da indústria bancária, tal como Geithner e Bernanke. A sua tarefa é manter o poder político e económico dos bancos e transferir as perdas para o público. Actualmente, o BCE proporciona empréstimos "ilimitados" a bancos submersos de modo a que possam manter a aparência de solvência. Trichet reduziu taxas a 1 por cento, proporcionou um abrigo seguro para depósitos overnight e iniciou um programa agressivo de compra de títulos (Facilidade Quantitativa, Quantitative Easing, QE), o qual mantém artificialmente altos preços de títulos soberanos. As avaliações de activos de bancos são apoiadas por uma autoridade central e não reflectem o verdadeiro preço de mercado.

O mercado do financiamento por grosso (repo) não encerrou. Os bancos ainda podem permutar os seus títulos soberanos e títulos imobiliários por empréstimos a curto prazo. Ele exige meramente que façam um pequeno corte (haircut) no valor do seu colateral, o qual seria então registado como uma perda deixando-lhe capital enfraquecido (impaired). É assim que os mercados funcionam, mas aos bancos não é exigido que joguem de acordo com as regras.


Da Bloomberg News: "Prestamistas europeus têm US$2,29 milhões de milhões (trillions) na Grécia, Itália, Portugal e Espanha no fim de 2009, incluindo empréstimos a governos, segundo o Bank for International Settlements... Reduções do valor contabilístico de bancos alemães sobre empréstimos e títulos provavelmente alcançarão US4314 mil milhões no fim de 2010, com bancos prestamistas estatais e bancos de poupança a enfrentarem o grosso das perdas, disse o Fundo Monetário Internacional num relatório de Abril".

Vêem? O BCE não está a comprar títulos gregos por causa de uma "crise da dívidas soberana". Está a comprá-los a fim de que os bancos não percam dinheiro. A própria "crise de dívida soberana" é exagero de relações públicas. Se se tornar demasiado dispendioso financiar operações do governo, a Grécia pode deixar a UE e retornar à dracma a qual dar-lhe-ia maior flexibilidade para regularizar as suas dívidas. Isso aumentaria a procura por exportações gregas e melhoraria o turismo. Esta é a melhor solução para a Grécia. Então, onde está a crise?

ABANDONO DA UE = PREJUÍZO PARA BANCOS ALEMÃES E FRANCESES

Se a Grécia, Portugal e Espanha deixarem a UE e reestruturarem a sua dívida, bancos na Alemanha e França ficarão e incumprimento e possuidores de títulos perderão as suas camisas. Por outras palavras, os investidores, que assumiram um risco, perderão dinheiro – o que é o modo como o sistema supostamente funciona.

Bloomberg outra vez: "Os bancos da região reduziram o valor de uma percentagem proporcionalmente mais baixa dos seus activos do que os seus homólogos dos EUA. Os bancos dos EUA terão reduzido 7 por cento dos seus activos no fim de 2010 e bancos da euro-área 3 por cento segundo o FMI. Bancos europeus ainda não mostraram aos analistas terem completado as suas reduções". (Bloomberg)

Assim, os bancos estão submersos, mas nada tem sido feito para consertar o problema. Onde estão os reguladores?

Na quinta-feira, o euribor atingiu uma altura de 10 meses. A pressão está a aumentar apesar dos programas de emergência de Trichet. Os empréstimos bancários do BCE são de aproximadamente €800 mil milhões ao passo que os depósitos overnight são grosso modo de €240 mil milhões. Trichet está desejoso de arrastar a UE para 10 ou 15 anos de crescimento medíocre e alto desemprego (como o Japão) a fim de impedir que um punhado de banqueiros e portadores de títulos aceitem as suas perdas. Se as coisas ficarem bastante más, Trichet pode recorrer à "opção nuclear", isto é, permitir que um grande banco impluda "estilo Lehman" de modo a que ele possa extorquir centenas de milhares de milhões de euros dos estados membros da UE. Isto já foi feito antes; basta perguntar a Bernanke ou Paulson.

A FRAUDE DO "TESTE DE STRESS"

Os testes de stress dos bancos nos EUA foram organizados pelo Tesouro como medida de "construção de confiança". Eles permitiram que os bancos utilizassem os seus próprios modelos internos para determinar o valor de títulos complexos. A mesma regra será aplicada aos bancos da UE. O Daily Telegraph informa que alguns dos bancos realmente testar-se-ão a si próprios. Pelos menos isso afasta qualquer dúvida acerca dos resultados.

Da Bloomberg News – "Testes europeus de stress a 91 dos maiores bancos da região provocam a crítica de analistas que dizem estarem os reguladores a subestimar prováveis perdas em títulos governamentais gregos e espanhóis. Os testes são concebidos para avaliar como bancos serão capazes de absorver perdas em empréstimos e títulos do governo, disse ontem o Comité de Supervisores da Banca Europeia. Reguladores disseram aos prestamistas que os testes podem assumir uma perda em torno de 17 por cento da dívida do governo grego, 3 por cento em títulos espanhóis e nenhum na dívida alemã, disseram duas pessoas que resumiram as conversações, as quais não quiseram identificar-se porque os pormenores são de ordem privada.

Os mercados de crédito estão a considerar perdas da ordem dos 60 por cento nos títulos gregos se o governo entrar em incumprimento, mais de três vezes o nível que se diz ter sido assumido pelo CEBS. Derivativos conhecidos como recovery swaps são comerciados a taxas que implicam que os investidores obteriam cerca de 40 por cento num incumprimento ou reestruturação da Grécia". (Bloomberg)

Os testes são uma piada. Os bancos continuarão a utilizar mudanças de regras contabilísticas e outros truques para que as suas perdas não se vejam. Trichet utilizará os testes para intensificar o seu programa de compra de títulos (QE) o qual transferirá as perdas dos bancos para dentro dos estados membros. Muitos dos bancos estão insolventes e precisam reestruturação. Mas eles não estão em perigo real, porque ainda têm domínio sobre o processo.

Mike Whitney
in «http://www.informationclearinghouse.info/article25910.htm», 09.07.2010

[o único banco português, de confiança, Largo Fialho de Almeida, Cuba, Portugal]