04/05/2010

Mário Eyjafjallajökull Soares

Agora, a nuvem de cinza trouxe-nos um desses profetas de volta.

Mário Soares é o mesmo venerando ancião a pregar a mesma catilinária. Só não é escanzelado. Mas a forma ameaçadora com que nos avisa que a erupção do vulcão se deve à nossa má vida ambiental assusta. Eu, que ontem deitei por engano uma embalagem de plástico no caixote de lixo para cartão, não consegui segurar duas ou três pinguinhas de urina devido ao medo.

Será que Mário Soares acha que a nuvem de pó foi causada por todas as empregadas domésticas do mundo terem resolvido sacudir tapetes na rua ao mesmo tempo? Mais do que ecologista histérico e convicto, é preciso ser-se muito narcisista para achar que se pode ter causado uma erupção vulcânica. É possível que, aquando do furacão Katrina, Mário Soares tenha ficado a pensar que não devia ter aberto a janela e a porta cozinha ao mesmo tempo, que aquela corrente de ar é que lixou tudo em Nova Orleães.

A Mário Soares não basta ser pai da democracia portuguesa, também quer perfilhar um fenómeno geológico. Agora percebo melhor o ateísmo de Mário Soares. É natural que ele não acredite em Deus, uma vez que acha que os verdadeiros deuses omnipotentes são os homens.

José Diogo Quintela
in «Pública», 02.05.2010