17/11/2010

Banha da cobra

As pulseiras Power Balance estão em todo o lado. Estavam no pulso de cada um dos 33 mineiros chilenos no dia a seguir à mediática operação de salvamento, a 13 de Outubro, que os retirou do cárcere de mais de dois meses no fundo da mina de San Jose. São conhecidas por promover a força e equilíbrio de quem as usa. Mas a associação espanhola de defesa do consumidor Facua não acredita nada nisso. Decidiu avançar com um processo por publicidade enganosa. E ganhou. Mas não está satisfeita.

Cerca de 15 mil euros é quanto a Power Balance Espanha, com sede em Málaga terá de pagar de multa à Junta da Andaluzia por publicidade enganosa, de acordo com o processo promovido pela Facua.

Segundo a delegada de saúde da Junta da Andaluzia para Málaga María Antigua Escalera. trata-se de “uma falta grave de publicidade enganosa”, adiantou ao diário espanhol «El Mundo». Mas a Facua não está totalmente satisfeita com a decisão. E explica porquê no seu site.

“A Power Balance Espanha anunciava que tinha vendido em Abril cerca de 300 mil pulseiras pseudomilagrosas, o que supõe uma receita de cerca de 10 milhões de euros. O dinheiro que encaixa em algumas horas, com a venda de apenas 500 unidades é o suficiente para pagar a multa”, diz a associação no site onde se considera indignada com o facto das autoridades não terem proibido a venda.

Para a Facua a multa deveria ser no valor das receitas da empresa: “Segundo a lei de consumo em vigor a Junta da Andaluzia podia ter apreendido toda a mercadoria à venda e ter multado a empresa no valor da receita total de vendas. E sendo a situação considerada grave poderia ter multado em mais 400 mil euros”.

Espanha é, segundo a associação, o país líder em vendas da empresa.

Desportistas conhecidos, políticos e artistas aderiram à Power Balance em massa. O «El Mundo» lembra que até a ministra da Saúde , Leire Pajín a tem usado nos últimos meses.

Segundo a marca, o holograma das pulseiras coloridas plásticas tem cargas eléctricas que interagem com o campo de energia natural do corpo, melhorando a força, equilíbrio e flexibilidade.

A Facua avisa que vai recorrer da decisão que não considera satisfatória e exige uma sanção equiparada ao tamanho da fraude.

in «Público», 17.11.2010

NR: decisão corajosa desta associação espanhola de consumidores!

Se puserermos como hipótese que umas quaisquer pulseiras coloridas que se diz que "interagem com o campo de energia natural do corpo" - seja lá o que isso é -, melhorando a força, equilíbrio e flexibilidade, na realidade, não tiverem outro efeito para além de esvaziar os bolsos dos crentes, e tendo por base uma marca registada nos EUA, estaria montado um negócio fabuloso que obrigaria as autoridades alfandegárias de qualquer país a confiscar quaisquer outras pulseiras que comerciantes espertos, por ventura, encomendassem a fabricantes chineses.

Para tornar mais credível, vendia caríssimo e convencia umas quantas Federações desportivas a proibir que os atletas competissem com mariquices no braço.

Ou seja: é possível vender banha da cobra desde que as registe a sua marca nos EUA - para lhe dar âmbito global - a venda a mais de 60 euros e contrate um escritório de advogados para perseguir quem a pirateasse numa qualquer feira portuguesa.

Claro, isto é uma hipótese. Não é assim que na realidade acontece.
E viva a ASAE...