Não, de modo nenhum. Eu não faço isto ad hominem. Estou a reagir ao que foi articulado por um detentor de um cargo. A única coisa que me interessa aqui é o José Sócrates primeiro-ministro, o que ele faz, o que motiva, o que ele desmotiva... o que ele planeia em respeito ao meu país.
Então é uma reacção..?
É uma perfeita reacção. Só estou a agir pró-activamente a uma situação que me parece muito anómala. E a maneira como fui referenciado é muito anómala. Eu até devo dizer que agradeço o que tenho despertado nos media, mas o centro da discussão não sou eu, nem o que eu fiz. O centro da discussão é aquilo que o José Sócrates disse. Essa é a única zona que me interessa. Agora a outra coisa que me começou a interessar foi o acto do "Jornal de Notícias"de censurar um cronista dos mais seniores que eles têm...
Diz que está a reagir pró-activamente. Vai dar mais algum passo em frente?
Farei uma queixa à ERC. Fá-la-ei nas próximas horas.
E em termos judiciais?
Nunca pensei em abordar a questão, movendo uma acção ao Sócrates por aquilo que ele disse. Não pensei fazer isso. Acho que dentro da área em que eu opero tenho mecanismos formais - a ERC, o sindicato, as organizações internacionais - que protegem jornalistas.
Vai fazer queixa junto dessas entidades?
Ai vou, vou.
Esta declaração de hoje, em que diz que as declarações de Sócrates visavam também Medina Carreira, foi feita perante jornalistas e com o símbolo do CDS atrás. Quer trazer os políticos e os partidos para esta discussão?
Não. Quero consciencializar e divulgar com consistência aquilo que aconteceu. E quero sensibilizar o país político também. Agora não cairia no ridículo de vir aqui e não falar sobre uma questão nacional, de interesse nacional. Portanto senti-me no dever, outra vez, de retratar claramente para os meus anfitriões, a minha versão.
Falou com Paulo Portas antes de discursar?
Não falei com ele. Mas sabia que ele respeitaria. Ele foi jornalista, está dentro da liturgia dos jornais, de como uma pessoa se sente dentro de um jornal.
É que estas declarações sendo feitas numa altura em que membros do governo se ameaçam demitir...
Quem é que está a ameaçar demitir-se?
Teixeira dos Santos. E Sócrates já teria também ameaçado demitir-se...
Então há esperança.
Como disse há pouco durante a sua intervenção a declaração de José Sócrates envolvia também Medina Carreira...
Em determinada fase envolvia os dois nomes.
Dois problemas que precisavam de ser solucionados?
Sim, presumo que sim.
E porque razão também Medina Carreira era um problema a solucionar?
Não faço ideia nenhuma. Agora é procurar obter uma resposta - se ele a der - a Sócrates, porque razão eu e o Medina Carreira somos problemas.
E não falou em mais ninguém?
Do relato que eu tenho não. E como disse tenho três relatos.
Havia uma terceira pessoa na mesa de Nuno Santos...?
Sim, havia uma terceira pessoa.
E também faz parte da televisão?
Não vou mais longe. No meio disto tudo a parte que eu acho importante é o primeiro-ministro. O Nuno Santos, a primeira vez que disse o nome dele foi hoje porque me disseram que se sabia...
Nuno Santos confirmou ao i que estava no restaurante com Bárbara Guimarães...
É extraordinário. Nunca pensei que ele dissesse o nome da Bárbara. Acho que são pessoas que não têm de ser trazidas ao conhecimento de todos. Eu nunca diria o nome da Bárbara por exemplo... Porque não é necessário.
Ficou triste com a reacção de Nuno Santos?
Fiquei. Acho que eu na mesma situação - eu meço sempre pelo que eu faria, por isso é que fiz uma pausa antes de responder. Eu na mesma situação teria reagido. Quero pensar que reagiria: "Olhe que eu conheço o homem, ele não é maluco nenhum. Não é impreparado nenhum. Isso agora também é subjectivo e certamente não necessita de solução rigorosamente nenhuma".
E confrontou Nuno Santos?
Logo, com o primeiro relato que tive. Logo, mal recebi o email, reencaminhei-o para o Nuno Santos e pedi-lhe uma explicação.
E a explicação que Nuno Santos lhe deu não foi suficiente para não o apontar na crónica?
Falei com ele para justificar o que aconteceu - e ele não justificou o que aconteceu. Consubstancia o que aconteceu.
Por isso é que também decidiu integrar o nome dele na crónica?
Era importante que ele tivesse reagido nas responsabilidades de que está investido [como director de programas da SIC]. É uma fragilidade, mas poderá ter sido de momento. O primeiro-ministro a falar alto é uma figura intimidante. Para quem é intimidável.
Acha que foi por acaso esta conversa ter sido no dia da apresentação do Orçamento do Estado?
O que eu achei extraordinário é que o dia do Orçamento do Estado é um dia importante. E eu gostaria de pensar que as pessoas que assumem as responsabilidade de gerir o país estão inteiramente focadas nisso. Não admito que no dia em que o orçamento está a ser retocado tenha tempo para pensar em banalidades. E a maneira como um articulista escreve, ou um analista como o Medina Carreira se comporta, é um assunto lateral. Não tem de estar na mente do primeiro-ministro.
E o que diz isso do primeiro-ministro?
Tem um conjunto de prioridades curiosas, inadequadas que para mim não estão correctas. Para mim como cidadão e como intérprete da nossa vida pública.
Há medo no jornalismo de hoje?
A resposta que a comunidade jornalística tem dado a este assunto é encorajadora de que não há inibição em retratá-lo e os editores consideram-no um episódio importante.
Mas, no dia-a-dia, quando o jornalismo se mistura com os interesses? Falou do caso de Manuela Moura Guedes...
Esse caso é, na minha opinião, o caso mais grave da história da imprensa desde o 25 de Abril. Não há dúvida nenhuma de que é uma situação séria. A maneira como transfiguraram a redacção da TVI é séria. Até digo mais, é séria a própria reacção da TVI... a maneira como foi desmembrado um programa que em termos comerciais era um sucesso. Era visto. Agora o que não é aceitável é que venham dizer que a pessoa está doida, precisa de ser internada num manicómio. É curioso... o Estaline fez isso! Portanto isto são mecanismos um bocado orgânicos e interpretações de poder um bocado questionáveis - e é isso que me preocupa essencialmente.
Patrícia Silva Alves
in «i.on-line», 03.02.2010