Muita gente não entende a insistência dos economistas em chamar a atenção para a necessidade do nosso país produzir mais bens transaccionáveis, ou seja susceptíveis de troca com o exterior. Produzir mais bens transaccionáveis signifi ca exportar mais ou substituir bens que até aí importávamos por bens de produção nacional.
Então - perguntam - produzir não é sempre a mesma coisa, sejam bens transaccionáveis ou não transaccionáveis?
Esta dúvida junta-se normalmente a uma outra: se nós Portugueses trabalhamos tanto ou mais tempo que grande parte dos países europeus, por que razão é que temos tantas dificuldades económicas?
Para responder a estas questões não há como imaginar uma história. Suponha o Leitor um casal em que os dois trabalham por conta de outrém. Suponha ainda que, um dia, combinam que um deles deixe o emprego para cuidar melhor dos filhos e da casa. Os dois continuarão a trabalhar as mesmas horas do que até aí, só que um no seu emprego anterior e outro em casa. Rapidamente, porém, se apercebem que assim não podem continuar. Porquê? Porque aquilo que um ganha não é sufi ciente para cobrir as despesas da família.
A razão é que o trabalho em casa não é “transaccionável”, ou seja, não tem valor fora da casa (embora tenha e muito dentro de portas) e portanto não permite ganhar dinheiro para comprar o que a família necessita.
Os países podem sofrer do mesmo mal - e é o que está a suceder em Portugal, que entrou desde o início do século numa trajectória não sustentável. Estamos a trabalhar o mesmo ou mais do que antes. Simplesmente, estamos a trabalhar demasiado para “casa” e insuficientemente para “fora”. Há pois uma deficiência da gestão macroeconómica, que não conseguiu manter o País a uma situação equilibrada deste ponto de vista. Como se pode dar a volta a isto? Essa já é outra história, bastante mais difícil de contar, mas que talvez abordemos em futuras crónicas.
João Ferreira do Amaral
in «Página 1», 22.01.2010