Desde logo, o ponto de partida: um défice de 9,3% em 2009. Mau demais para ser verdade. Grande demais para nos ter sido escondido, de boa fé, quando, em Novembro, o Governo apresentou no Parlamento um défice de 8,4%, pedindo logo uma autorização para se endividar o suficiente para cobrir um défice superior a 9%!
Parecia suspeito? Parecia, mas afinal não se confirma apenas a suspeição: ultrapassa-se.
É claro que a estratégia parece ser, agora, pintar 2009 o pior possível para engrandecer o corte e reganhar a confi ança. Resta saber se os analistas internacionais, percebendo o que se escondia debaixo do tapete, não perdem ainda mais a pouca confiança que restava.
A este ritmo de redução chegaremos a 2013 com um défice de 5,3%, quase o dobro do exigido por Bruxelas.
Que sacrifícios nos esperam até lá?
A carga fiscal, aparentemente, não se agrava em termos globais (e é de louvar a coragem em tentar tributar um pouco mais a banca…), mas a redução da despesa corrente (com juros incluídos) é minimal.
Cortam-se 224 milhões em mais de 75,8 mil milhões de gastos. Investem-se mais 132 milhões, quando a dívida pública se agrava num ano em mais 16 mil milhões. Vamos continuar a afastar-nos da Europa. Ninguém acredita numa taxa de desemprego de 9,8%, igual à actual e impossível de manter sem mais crescimento. O défice reduz-se em 1,4 milhões para os 8,3% que, ainda há três meses, acreditávamos ser o ponto de partida para a redução!
Mas não é certo que não se agrave ainda mais o défice de credibilidade. E esse paga-se ainda mais caro!
Graça Franco
in «Página Um», 27.01.2010
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