01/09/2010

Solidariedade com o Povo Moçambicano

O incrível tinha que acontecer num dia 1 de Setembro.
O discurso que o Grande Armando proferiu hoje perante os ecrãs de televisão lembra o de um menino que foi apanhado a fazer disparates: perante as repreensões dos papás, o menino traquinas faz um beicinho, verteu um lágrima e pôs carinha de inocente, ao mesmo tempo que esconde os bolsos cheios de rebuçados que acabou se surripiar.

Vejamos o que disse o Grande Armando:

Moçambicanas; Moçambicanos; Compatriotas.

Nas primeiras horas desta manhã e ao longo do dia registou-se uma agitação nalgumas zonas da Cidade de Maputo e Matola. O pretexto desta agitação é a subida do custo de vida, nestes dois municípios e no país. Lamentavelmente, em vez de uma manifestação pacífica e ordeira assistimos a manifestações que já se saldaram em óbitos e em feridos graves e que também resvalaram para cenas de vandalismo, bloqueio de vias de acesso e destruição e saque de bens.

Numa palavra, os nossos compatriotas que são usados nesta agitação estão exatamente a contribuir para trazer luto e dor no seio da família moçambicana e para o agravamento das condições de vida dos nossos concidadãos.

O Governo está consciente da situação em que vive o nosso maravilhoso Povo, uma situação que é agravada por factores externos que incluem a crise financeira e de alimentos e a subida dos preços dos combustíveis.

Foi neste contexto que foram tomadas diversas medidas para conter o impacto destas crises na vida do cidadão com particular destaque para os subsídios para combustíveis e para a importação do trigo. Ainda neste quadro, o Governo tem estado a implementar o Plano de Ação de Produção de Alimentos e, de uma forma geral, a centrar as suas atenções na luta contra a pobreza nos meios urbanos e no campo.

Temos registado progressos na implementação desse plano de produção de alimentos bem como no abastecimento de água e saneamento do meio, nos transportes e comunicações, na saúde e educação e na melhoria das vias de acesso. Apraz-nos notar que estas conquistas são resultado do trabalho abnegado dos moçambicanos, em particular, que também se empenham na melhoria da sua habitação, no abastecimento em produtos diversos aos seus compatriotas bem como na aquisição de viatura para uso pessoal ou para o transporte coletivo de passageiros.

Sabemos que ainda é pouco para o nível das necessidades do nosso maravilhoso Povo. É por isso que continuamos empenhados na luta contra este flagelo chamado pobreza que aparece com grande destaque no Programa Quinquenal do Governo incluindo a sua componente urbana. É participando na implementação deste programa, e não opondo-se ou destruindo os seus resultados, que continuaremos a registar progressos na melhoria das nossas condições de vida. É por isso que é importante preservar e valorizar as nossas conquistas individuais e coletivas.

Neste contexto:
saquear uma barraca, loja ou armazém;
vandalizar uma viatura ou uma residência;
pode parecer que represente um retrocesso apenas para o seu proprietário.

No meio da emoção, porém, podemo-nos esquecer que também represente um retrocesso para aqueles que dele dependiam para abastecimento, transporte ou emprego, uma lista de beneficiários que pode incluir alguns dos envolvidos nesses atos. Destruir mercados, estradas e outras infra-estruturas sociais e económicas é atentar exatamente contra aquilo que nos tem estado a ajudar a combater a pobreza na nossa Pátria Amada.

A observância da Lei, Ordem e Tranquilidade Públicas é também uma condição fundamental para a atracão de mais investimento nacional e estrangeiro que contribui para a geração de mais postos de trabalho, e para dar a mais compatriotas nossos uma oportunidade para participarem, de forma direta ou indireta, na luta contra a pobreza em Moçambique e para terem melhor qualidade de vida.

Compatriotas,
Queremos exortar-vos para se manterem calmos e serenos e para não aderirem a qualquer tipo de agitação. Exortamos ainda a todos os nossos compatriotas para dissuadirem os ingénuos, a manterem a vigilância e a denunciarem às autoridades os agitadores e a preparação ou organização de atos que atentem contra a Lei, Ordem e Tranquilidade Públicas.

Empenhemo-nos todos no aumento da produtividade nos nossos setores de atividade continuando assim, a fazer da luta contra a pobreza a nossa agenda individual e coletiva.

Lamentamos a perda de preciosas vidas humanas e a destruição de bens públicos e privados. Apresentamos as nossas condolências às famílias enlutadas por esta agitação que retirou do seu convívio os seus entes queridos.

Estendemos a nossa solidariedade a todos os que foram afetados por estes atos. O Governo continuará a trabalhar para assegurar o retorno da normalidade da vida dos nossos concidadãos e das nossas instituições.

Muito obrigado pela vossa atenção!
Maputo, 1 de Setembro de 2010


Para que não passe despercebido, vão assinaladas as expressões e afirmações mais idiotas que se podiam esperar de um Presidente da República que não consegue falar em nome pessoal. Em lugar de uma explicação cabal  da situação criada pelo seu governo com o aumento explosivo e generalizado dos bens de de primeira necessidade, em vez de um anunciar de medidas claras que reponham a paz e a confiância na sociedade, assiste-se a um inenarrável uso de palavras não sentidas, falsas.

O discurso é espelho e consequência do lambebotismo.

Os guebuzinos nada têm a oferecer ao país a não ser, incompetência, saque da riqueza nacional e nepotismo.

E que política tem sido seguida?
Fomento da dependência de ajuda internacional, da destruição da agricultura e produção industrial pela concorrência externa (custos de contexto* insuportáveis).

O que seria desejável era a produção nacional de alimentos, da agricultura eficiente e de exportação, da indústria ligeira de substituição.

Na verdade, o que existe é a "agricultura do carvão" que fomentou o abandono da produção alimentar e transformou camponeses em destruidores da floresta para abastecer de combustível vegetal as cidades em crescimento explosivo e insustentável.

É o caso de Maputo que de 400 mil habitantes em 1975 está transformada numa gigantesca metrópole de mais de 2 milhões de pessoas fortemente dependentes de expedientes e negócios informais. De uma rede de transportes públicos consistente, passou para um enxame de "chapas" desregulados que exploram os que deles precisam. De um expressivo parque industrial de pequenas e médias empresas (Fasol, Saborel, Texlom, Cifel, Mabor, Pintex, Vidreira, Facobol, Riopele, Maragra, Velosa, Zitep, Molaço, Man Kay, fábricas de caju - 216 mil toneladas comercializadas - e outras [ver *]) de que resta pouco em 2010.

Os moçambicanos merecem melhor destino, merecem um governo honesto. Merecem um presidente que não misture o bem comum com os seus negócios de empresário milionário com amigos traficantes.

Moçambicanos: melhor é possível, a paz é melhor.

(*) custos de contexto: corrupção, intermediação, incompetência, desorganização, baixa produtividade, custos de capital