03/09/2010

Socialismo Científico Marrabenta

Com Governo de Guebuza a vida dos moçambicanos tornou-se um mar de espinhos

A vida para a maioria esmagadora dos moçambicanos nunca foi um ‘mar de rosas’, mas agora é, seguramente, um ‘mar de espinhos’. Tudo subiu, menos o poder de compra. E, sem comida, o que se pode esperar de quem não tem nada a perder? O que se pode esperar de quem acreditou que se estava realmente a ‘combater a pobreza absoluta’ e agora viu que afinal ainda havia mais pobreza para além da que já sentia antes?

Evidentemente que só bom senso nos pode salvar. Mas, nesta altura, em que o “vinho já vai para vinagre, não retrocede o caminho; só por obra de milagre pode de novo ser vinho”, disse um dia o poeta português analfabeto, António Aleixo, em dias que em Portugal, o seu País, também governavam semelhantes autoproclamados insubstituíveis.

Do Governo em funções só podemos esperar mais asneiras. Umas atrás das outras que já vimos, foram suficientes para agora o país estar de rastos. Começou pelos combustíveis e vai agora em alta velocidade a caminhar para as obrigações de tesouro com o Estado já de calças rotas. Os próprios bancos não tardarão, a não emprestar dinheiro aos privados porque já emprestaram tudo ao Estado.

O cenário que nos envolve é esclarecedor. Tudo a subir de preço e cada vez menos dinheiro para comprar. Pior: as empresas de tão depauperadas estão sem maneira de pagar melhor. O pão subiu. O gasóleo ainda só está a dois cêntimos de 31 meticais o litro, em Maputo, Beira e Nacala. Em todo o país a promessa do governo aos transportadores, há muito que foi violada. Em Inhambane, por exemplo, um litro de gasóleo já está a 34,30 MT o litro. As moedas em que importamos as mercadorias valem hoje cerca de 40% mais, no caso do dólar americano, e mais de 100% mais, no caso do Rand. Por outras palavras o Metical vale menos 40% em relação ao dólar e vale metade em relação ao Rand comparativamente com o ano passado. Onde vão as promessas de Guebuza durante as eleições de 2009?

O país importa mais do que produz. Cada vez produz menos. As indústrias fecham umas atrás das outras. Os governantes estão mais virados para os seus negócios privados do que para governar. No Estado imputam os custos. Os familiares dão os seus nomes aos negócios encobertos dos ministros e até do presidente. Os lucros metem na algibeira. Sociedades do lado de lá da fronteira é negócio chorudo. Vida mais cara do lado de cá significa mais ‘mola’ do lado de onde se importam os produtos que não produzimos.

Para nos continuarem a enganar querem iludir-nos com ordens a proibirem o uso de moedas externas nos preços de referência das clínicas, mas veja-se como andam os stocks de medicamentos. Arrasados completamente.

Em meticais só se vai sentir os preços a subirem todos os dias. Querem obrigar, entretanto, a que só se mexa nos preços dos serviços uma vez por ano. O resultado vai ser vermos tudo a fechar como no tempo do dito ‘socialismo científico’.

Pode-se faturar em meticais, mas obviamente que se indexarão os preços ao USD ou ao Rand e todos os dias em meticais vamos ser surpreendidos com novos preços de mercadorias e serviços. Se isto for proibido como acaba de anunciar o ministro da Saúde, em mais uma das suas tiradas populistas, vamos voltar aos tempos do ‘não há’. Há gente, de facto que tem a cabeça dura…

O governo continua a gastar à farta. Aí ninguém quer mexer. Cortar na despesa pública, não querem. A senhora presidente da Assembleia da República acaba de receber, à custa do erário público, uma nova frota de viaturas de luxo de alta gama. O senhor primeiro-ministro, também.

Nos que governam já não se pode acreditar.

“Falas bem, mas antes queria que soubesses proceder menos em desarmonia com o que sabes dizer”, voltaria hoje a afirmar o tal poeta. Ser analfabeto não significa ser tapado…

Quando, dos países que ajudaram Moçambique a ressuscitar das cinzas de uma Guerra Civil sangrenta e altamente destruidora, nos chegavam avisos de crise económica e financeira sem precedentes nos últimos oitenta anos, os senhores que por cá, do seu ‘alto império’, sempre prometeram um futuro melhor e o fim da pobreza absoluta, foram espalhando a sua arrogância discursiva garantindo aos cidadãos que mal pior não nos afetaria.

Continuaram vivendo rodeados de luxo, à custa dos contribuintes que afinal somos todos, os que pagam impostos e outras contribuições diretas e todos os outros que pensam que estão livres delas embora paguem também, e bem, muito, impostos indiretos.

Depois de tanta ‘esperança’ anunciarem e de acusarem de serem ‘profetas da desgraça’, quem alertava para o que poderia chegar-nos se não arredassem de nos levar para o abismo, foi para esta situação dramática que o governo nos trouxe.

Os que avisavam que vinham aí dias muito maus se os governantes moçambicanos continuassem a ignorar o momento tremendo por que estava a passar a economia mundial, foram chamados de ‘viperinos’. Era de esperar que esses mesmos senhores no Poder assegurassem aos moçambicanos, o mínimo. Mas o que hoje vemos é que mesmo quem comia já anda a fazer cortes tremendos no seu cabaz para os alimentos chegarem ao fim de cada mês. Os que já eram muito pobres já nem uma refeição por dia comem. Quem se ia safando começa a deitar as mãos à cabeça.

No dia 1 de Setembro de 2010, os “chapas” em Maputo poderiam subir o preço da rota para 10 meticais. Não subiram porque deixaram de circular.

Será um aumento de mais de 30 porcento. Dirão aqueles que pensam que o País termina no quilómetro catorze, junto ao Estádio Nacional do Zimpeto, que o diesel ainda não está a 31 meticais o litro. Mas os pneus também são precisos para as viaturas andarem. As peças sobressalentes, idem. Um pneu que custasse mil meticais quando o dólar se comprava por 25 meticais, como o USD agora custa cerca de 39,00 MT, certamente que tem de custar mais. Mil meticais eram quarenta dólares. Agora custando os mesmos 40 dólares em meticais o pneu terá de custar 1560,00 MT. Tudo isto porque o metical desvalorizou. E desvalorizou porque não produzimos, porque o governo está cheio de corruptos que se metem em trapalhadas como no caso da Semlex, empresa emissora dos Bilhetes de Identidade, Passaportes, DIREs e Vistos de entrada.

Vemos os parentes de quem governa a fazerem as negociatas mais corruptas deste mundo só não vendo quem não quer que aparecem a coberto dos seus progenitores.

Os polícias já se matam uns aos outros. Agora são mandados matar o povo. Até já as forças armadas.

Os funcionários públicos cobram por fora o que o governo não lhes paga. Salva-se assim quem pode.

Os ditos sindicalistas feitos com os governantes corruptos e tão corruptos uns como outros, já nada podem de tão enfraquecida que está a economia.

Os juízes a serem nomeados para altas funções em empresas depois de bons serviços prestados à máfia, ajudam a descredibilizar ainda mais o Estado.

É tudo isto e o que mais não dissemos que destrói o metical.

São os assaltos ao património do Estado como o que se quis levar a cabo na Beira com os edifícios da Administração Município. É o assalto ao Museu da Revolução. Primeiro põe-se o Estado a pagar as reparações e depois passa para cá que isso é meu porque eu lutei para este país ser livre…Que digam os Desmobilizados de Guerra se eles também não lutaram para este País ser livre…Depois querem prendê-los!...

São disparates atrás de disparates. É o senhor presidente da República a andar montado numa frota de helicópteros pagos com dinheiros públicos sem que tenha havido concurso público. É o mau exemplo a vir de cima. São os senhores do país da marrabenta no auge da arrogância. Gastam que se fartam. Pagamos nós.

Um dia o Povo farta-se e depois surpreendemo-nos com as consequências, dizíamos nós desde há muito. A resposta está aí. Maputo e Matola, duas cidades sitiadas. “Os pobres sentem-se bem com mais pão e luxo a menos”, meus senhores.

in «Canal de Moçambique», 03.09.2010