Uma discussão séria sobre o desemprego.
A demagogia em relação ao desemprego está forte.
Há muita gente a fazer carreira com o suspiro "espelho meu, espelho meu, há alguém mais preocupado com o desemprego do que eu?".
Sobem para o palanque da indignação, choram os números do desemprego e, claro, lançam chamas sobre a "insensibilidade social" da AD.
Mas só uma pergunta: queriam que a AD continuasse a fazer as obras públicas do dr. Paulo Campos?
É que os atuais números do desemprego estão relacionados com o setor da construção civil, que, graças ao Altíssimo, deixou de ter obras e mais obras para fazer.
Contra mim falo, mas volto a dizer que qualquer discussão séria sobre o desemprego tem de partir de uma resposta à seguinte questão: o fim da hegemonia da construção civil na nossa economia é ou não uma coisa positiva?
Eu acho que é muito positiva, porque não podíamos continuar a emitir dívida (pública e privada) para construir mais casas, mais auto-estradas, mais heliportos, mais aeroportos.
Contra mim falo, mas a manutenção daquele ritmo de construção era impossível, e quem chora de forma demagógica os números do desemprego que resultam deste ocaso da construção tem de responder à seguinte pergunta: mas afinal queriam continuar com as PPP?
Mas então não queriam parar a orgia de cimento que tanto agradava ao dr. Alberto João? E um raciocínio parecido pode ser aplicado a outros sectores atingidos pelo desemprego, como, por exemplo, a restauração ou da venda de carros.
Nós não poupávamos. Durante anos e anos, a lógica foi chapa ganha, chapa gasta. Isso é visível no nosso parque automóvel (um amigo holandês diz que o parque automóvel português devia ser o holandês e vice-versa) e no hábito de almoçarmos fora todos os dias (outro pormenor que faz impressão a povos com mais dinheiro).
Como se sabe, estes dois fenómenos estão em retrocesso, porque os portugueses perceberam que é preciso poupar. Há menos carros vendidos e menos gente nos restaurantes, mas há mais contas poupança nos bancos.
Nós tínhamos de acabar com a dependência em relação ao crédito externo, algo que só era possível com mais poupança e menos consumo.
Sim, isto gera desemprego dramático em alguns setores, mas a alternativa era pior.
A alternativa era continuar a viver como se nada tivesse acontecido, como se o país não tivesse entrado em bancarrota.
Em 2012, Portugal estaria pior se tivesse continuado na política do cimento e se o ritmo de consumo não tivesse diminuído; o desemprego não estaria tão alto, mas estaríamos a cavar ainda mais fundo a nossa cova.
Mas, claro, este debate é impossível no nosso espaço público. Não vão faltar pessoas a dizer que "este tipo é tão fascista que até quer o desemprego da própria família".
Somos assim, de demagogia em demagogia até à troika final.
Henrique Raposo