Porque o Juiz deve sempre ouvir as duas partes.
Ti Maneli, alentejano de Castro Verde, pensou bem e decidiu que os
ferimentos que sofreu num acidente de trânsito eram sérios o
suficiente para levar o dono do outro carro ao tribunal.
No tribunal,
o advogado do réu começou por perguntar ao Ti Maneli:
- O Senhor na altura do acidente não disse "Estou ótimo"?
Ti Maneli responde:
- Bem, eu vou contar o que aconteceu. Eu tinha acabado de colocar
minha mula favorita na camionete...
- Eu não pedi detalhes! - Interrompeu o advogado.
- Responda somente à
questão:
- O Senhor não disse na cena do acidente: "Estou ótimo"?
- Bem, eu coloquei a mula na camionete e estava descendo a rua...
O advogado interrompe novamente e diz:
- Meritíssimo, estou tentando estabelecer os factos.
Na cena do
acidente este homem disse ao soldado na GNR que estava bem.
Agora,
várias semanas após o acidente ele está tentando processar meu
cliente, e isto não pode ser.
Por favor, poderia dizer-lhe que deve
responder somente à minha pergunta.
Mas, nesta altura, o Juiz mostra-se muito interessado na resposta do
Ti Maneli e diz ao advogado:
- Eu quero ouvir a versão dele.
Ti Maneli agradece ao Juiz e prossegue:
- Como ê estava dizendo, coloqi a mula na caminete e estava
descendo a rua quando uma pick up passou o sinal vermelho e bateu num
lado da minha caminete.
Eu fui lançado fora do carro para um lado da
rua e a mula foi lançada pro outro lado. Eu fiquei muito ferido e mal
me podia mexer.
Mas eu conseguia ouvir a mula zurrando e grunhindo e,
pelo barulho, percebi que ela estava muito ferida.
Em seguida chegou o
soldado da GNR. Ele ouviu a mula gritando e zurrando e foi ver como
ela estava.
Depois de ter olhado bem para a mula, abanou a cabeça,
pegou na pistola e deu-lhe três tiros.
Depois ele atravessou a estrada
com a arma na mão, olhou para mim e disse:
- Sua mula estava muito mal e eu tive que a abater.
E o senhor, como é
que se está a sentir?
- Aí ê pensi bem e disse: ... Eu? Estou ótimo!