23/10/2011

O ano das cobras

Numa jogada de puro oportunismo político, Armando Emílio Guebuza resolveu fazer de 2011 o «Ano Samora Machel». À primeira vista, tudo pareceria justifificado: afinal, Samora foi o primeiro Presidente de Moçambique independente e, os seus discursos sempre falavam da abolição da exploração. Relembrar Samora à juventude moçambicana seria, portanto, natural.

Acontece que, com a Guebuza, a história não é essa.

Samora e Guebuza odiavam-se. Samora e os demais, sabiam do caráter ambicioso de Guebuza e vigiavam-no permanentemente.

Mas Guebuza era um rapaz trabalhador e esperava a sua vez. À frente do Ministério do Interior começou laboriosamente a montar um exército paralelo que lhe obedecesse. Para isso, serviu-se da Polícia para a equipar com blindados e carros de assalto. Fazia desfiles de demonstração da sua força.

Em 1984, dirige a "Operação Produção" que lança milhares de compatriotas na selva de Niassa e Cabo Delgado e subsequente morte ou fuga para a Renamo.

Alimentada com esses novos reforços, o movimento dos "bandidos armados", inflinge derrotas sucessivas no exército governamental e desarticula a economia moçambicana.

Samora, desespera e sente-se cada vez mais cercado: afasta Guebuza para a Beira e impõe-lhe residência fixa. Cada vez mais isolado, despromove Sebastião Mabote por suspeita de traição e entendimento com a Renamo. Numa cimeira de chefes de esatado no Malawi, ameaça bombardear esse país por suspeita de dar guarida à oposição.

É neste ponto, a caminho de Maputo para demitir mais uns tantos, que se dá a queda do avião em viajava Samora: uma sucessão de erros de navegação aérea, de incompetência da tripulação e de conivência de adversários internos e externos (África do Sul, URSS), provocam um acidente imprevisto.

Mas havia quem sabia e desejava o acontecimento. Samora queria provocar um confronto Leste-Oeste em Moçambique. O confronto não interessava a ninguém e foi preciso acelerar a queda de Machel.

Chissano foi o senhor que se seguiu. Mas Guebuza, aguardou a sua vez e impôs-se, ameaçou contar o que sabia e fez-se eleger como presidente.

Mas que fique claro: Samora e Guebuza sempre se temeram e sempre se odiaram. Vigiavam-se mutuamente no tabuleiro de xadrez moçambicano.

É por isso que o «Ano Samora Machel» é uma hipocrisia mas, em todo o caso, serve a estratégia guebuzina de propaganda e demonstração de força.

Mas para melhor humilhar Samora, nada como uma mistela feita com uma estátua norte-coreana bem regada por Pepsi-Cola sul-africana, na praça que foi do Mouzinho de Albuquerque. Agora, sem cavalo e rodeado dos crocodilos que Samora avisava terem de ser mortos no ovo ...

Veneno perfeito!