16/04/2012

Ou eu ou eles!

António José Seguro andou nove meses a fazer equilibrismo no arame.

Não queria renegar o memorando da troika, que o PS tinha assinado, mas ao mesmo tempo queria mostrar que discordava das medidas mais impopulares.

Não chumbava as alterações às leis laborais mas também não as aprovava.

Não rejeitava a redução do número de freguesias mas fazia-a depender da concordância das populações.

Não punha liminarmente em causa a austeridade mas dizia que o Governo ia para além do que estava acordado.

E assim sucessivamente.

SEGURO, para se aguentar, foi dando uma no cravo e outra na ferradura.

Acontece que quem quer agradar a todos acaba por não agradar a ninguém.

E assim este discurso não convenceu muitos socialistas, que começaram a morder-lhe as canelas, acusando-o de fazer uma oposição frouxa ao Governo 'de direita'.

Mas também não convenceu muitos portugueses, porque cheirava a demagogia, a facilitismo, a fuga às medidas impopulares – quando todos sabem que o tempo é de exigência e não de facilidades.

Assim, o próprio Seguro foi percebendo que por este caminho não ia lá.

Que andava a fazer figura de tolinho, correndo o país de lés a lés a fingir que fazia oposição – enquanto alguns 'camaradas' comodamente sentados à secretária lhe cortavam na casaca.

Até que Seguro se cansou.
E decidiu dar um murro na mesa.

MUDOU os estatutos do partido para tentar travar António Costa, que lhe fazia uma oposição surda, e entrou em rota de colisão com a bancada parlamentar, que lhe estava a fazer uma guerra sem quartel, parecendo mais inspirada por Sócrates a partir de Paris do que fiel à linha definida pela direção legítima do partido.

«Não escondo que há dificuldades [no grupo parlamentar] que prejudicam a ação política do PS e a minha liderança», disse esta semana à TVI.

Seguro percebeu que por este caminho só se estava a desgastar, perdendo a pouco e pouco, mas inexoravelmente, o limitado poder que detinha.

A pior oposição é sempre a interna – e torna-se mais desgastante quando não se mostra.

António José Seguro decidiu, assim, citar o toiro – para o poder combater.
Decidiu ir para a luta e dizer: 'Ou eu ou eles'.

TODOS os partidos, a seguir à saída de um líder forte, passam por isto.

O PSD, depois da partida de Durão Barroso para Bruxelas, experimentou Santana Lopes, Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Pedro Passos Coelho.

Só acertou à quarta – quando muitos já diziam que o PSD estava em risco de acabar.

Ora o PS ainda vai na primeira experiência após a saída de Sócrates – e só por sorte acertaria já.

Acrescente-se que, quanto mais depressa Seguro cair, pior será para o seu sucessor.

Faltam mais de mil dias para as próximas legislativas.

Ora alguém aguenta mil dias na oposição, a ter de fazer diariamente declarações, a combater adversários internos e externos, a ter de inventar factos políticos, a não ter espaço para fazer promessas porque as pessoas já não acreditam nelas?

Quando a esmola é grande, o pobre desconfia.

É este, hoje, o problema dos políticos.

As pessoas já não vão em conversas da treta.

José António Saraiva, jornalista
SOL