13/02/2011

Se eu fosse o Primeiro-Ministro de Portugal

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, colocaria no Ministério da Agricultura um adiantado mental que declararia no seu discurso de tomada de posse "De agricultura, eu não percebo nada" antes de passar a destruir o sector, entregando a produção à França e recebendo subsídios para não produzir, sem substituir a perda com algo que criasse empregos e desenvolvesse o sector numa base sustentável. O resultado do meu excelente empenho seria visível para quem visitasse a fronteira com a Espanha. De um lado, glória, Do outro, miséria.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, deixaria a União Europeia ficar com o sector das pescas e apesar de ter a décima maior Zona Económica Exclusiva no mundo, eu permitiria que barcos espanhóis pescassem nas águas portuguesas, enquanto os meus pescadores ficassem banidos do mar, secando em terra na miséria.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, eu destruiria o tecido industrial do meu país, fechando a Siderurgia Nacional, teimando em não construir um smelter para metais no Alentejo, apesar de ter as minas de Neves Corvo, maior mina de cobre na Europa, liquidando toda a indústria pesada, substituindo-a com uma ou duas indústrias ligeiras mas não criando as condições para a sua sustentabilidade, de maneira que a primeira onda económica difícil veria os parques industriais vazios.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, eu deixaria rios, ou seja Oceanos, de dinheiro correr pelas minhas mãos nos dez anos após a adesão à Comunidade Europeia, construindo pontes e auto-estradas para as pessoas fugirem do interior mais depressa, criando engarrafamentos humanos nas cidades, permitindo que firmas para gerir processos de aplicação de fundos comunitários aparecessem como cogumelos, sem qualquer fiscalização, esgotos nos quais esses fundos cairiam, sem deixar nada que se visse em termos de preparação do país para o futuro.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, antes de deixar o cargo, permitiria que meu partido colocasse centenas de amigos e familiares em lugares cimeiros com chorudas cláusulas de rescisão; encomendaria e pagaria fortunas por relatórios e estudos feitos por firmas dirigidas pelos meus familiares e amigos, para a seguir relegá-los para a gaveta, dizendo a um Senhor Professor Doutor Michael Porter "Não é bem assim"; empregaria um exército de assessores com direito a veículos topo-da-gama, motoristas, salários monstruosos, cartões de crédito para despesas particulares e um cartão da "Presidência" para apresentar quando por exemplo estavam bêbados demais para conduzir, e acenar na cara do agente da polícia depois do consequente acidente.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, seguiria uma linha de orientação na política externa que satisfizesse os caprichos de Washington, reconhecendo a independência de Kosovo de forma vil, baixo e covarde, apesar de quase todos os representantes das órgãos do Estado terem-se expressado contra essa ilegalidade.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, deixaria o Senhor Ministro das Finanças aumentar impostos e cortar os salários da classe média, castigando aqueles que nunca fizeram nada senão trabalhar, estudar e fazer seu melhor, retirando dinheiro da economia e enviando ondas de choque pelo país fora criando todas as condições para uma recessão a curto prazo e mais perda de empregos. E eu não sou professor catedrático de economia.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, mentiria entre os dentes ao país, alegando que tinha cursos e cadeiras universitárias quando nem sequer alguma vez meti os pés na sala de aula, fecharia escolas, destruiria o sistema pública de educação superior, instalaria um sistema em que quem tem dinheiro, pode… e quem não tem, que se lixe.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, alteraria a base de dados dos desempregados cosmeticamente de maneira que contassem só 10 por cento quando na realidade são uns 25 ou 30, os que querem trabalho e não têm.

Se eu fosse o Primeiro Ministro de Portugal, meu discurso de tomada de posse seria o seguinte:

"Senhoras e Senhores, vou pedir sacrifícios aos portugueses, ainda mais do que os outros governos desde há 36 anos. Prometo destruir todos os planos do governo anterior, não dando continuidade a nada em qualquer ministério, de forma a ver o país estagnar ainda mais. Os meus Senhores Ministros serão as pessoas mais adequadas para as Pastas, nomeadamente académicos que nunca viveram fora de redomas de cristal e que não têm nenhuma experiência da vida real. Nunca pegaram num sacho, e só sabem o que é uma enxada depois de a pisar e o cabo bater-lhes na cara. Praticarão políticas de laboratório que funcionam no papel em escritórios, em Lisboa.

"Senhoras e Senhores, vou crucificar ainda mais a classe média, levada ao ponto de ruptura por executivos anteriores, e o meu não será excepção. Sabendo que é esse sector que trabalha, paga os impostos e se sacrifica para ter uma casa, vou fazer tudo possível para que colectivamente, tenha de tirar os filhos das escolas particulares, pois as escolas públicas são tão boas; vou fazer tudo para dificultar a vossa vida de maneira que ou vocês fujam de Portugal, ou então os seus filhos e filhas tirem o primeiro bilhete de ida só, para fora, seja para onde for, nem que seja para Burkina Faso.

"Senhoras e Senhores, meu governo irá seguir os passos de todos os executivos anteriores desde o 25 de Abril de 1974, deixando o país mais pobre, destruindo ainda mais o pouco que resta, a troca de nada, deixando-os sem qualquer fio de esperança no futuro, pois havemos de chegar ao fundo do poço e ainda cavar mais além.

"Senhoras e Senhores, meu governo vai aumentar a taxa de IVA para leite com chocolate para 23 por cento, mantendo o vinho a 13%, de maneira que os filhos que ficarem aqui, e que não tenham o estofo suficiente para fugirem, possam levar uma garrafa de Periquita para a escola, para ficarem ainda mais atordoados, estúpidos e atrasados, fornecendo uma excelente geração para governar no futuro".

E sabem o mais engraçado desta história? É que com um discurso destes, os portugueses votariam em mim.

Timothy Bancroft-Hinchey
in Pravda.Ru