Há notícias que nunca queremos receber. Há notícias que nunca desejamos dar. Há perdas que não aceitamos ter. Há amizades que são inesquecíveis.
Por isso, custa dizer que se perde um amigo brilhante, inteligente e insubstituível.
Um amigo profundamente artista, que se preocupou em pintar as aldeias das Beiras antes que desapareçam em nome do progresso. Um amigo que retratou Lisboa e Montejunto com requinte. Um amigo que falava de arte com uma simplicidade e entusiasmo tocantes. Que apontava o mestre José-Augusto França como estrela na hsitória da arte portuguesa e denunciava o erro e a pobreza do neorrealismo de inspiração estalinista. Como amante da beleza, sofria com os desmandos (os socos nos olhos) na paisagem.
Um amigo visionário que antecipou a impossibilidade histórica do colonialismo português e, todavia, não embarcou no abandono e traição abrilista. Um amigo que denunciou a ditadura salazarista e, contudo, percebeu que o comunismo acabou patrocinado pela política oficial sem futuro.
Um amigo que assistiu à irracionalidade frelimista e, consequentemente, antecipou a miséria que caiu sobre os moçambicanos.
Que previu o desabar do bloco soviético numa altura em que Gorbachov ainda ensaiava os primeiros passos para "melhorar" o socialismo. Que declarava que se o comunismo falhara em diferentes locais e circunstâncias, então, estava demonstrado matematicamente (QED) que era um erro, uma impossibilidade.
Como especialista na área, há muito antecipara a irracionalidade de um TGV e denunciara os estudos encomendados para "viabilizar" sistemáticos investimentos na ferrovia portuguesa.
Um amigo insubstituível em qualquer festa, encontro, convívio, sardinhada. Que falava de indústria, de ciência, de história, de arte, de literatura, de economia, de política, de viagens, de (sua) doença, com rigor e profundidade. Que motivava, que animava.
Um Homem de coluna vertebral.
Que nos inspirou e inspira a denunciar os invertebrados que se dobram por qualquer preço.
Nunca desejaríamos dar esta notícia do José.