«Ao longo deste último ano lutei todos os dias para que isto não acontecesse […] Tentei tudo.»
Estas palavras de José Sócrates, na comunicação ao país de 6 de Abril anunciando o pedido de ajuda ao Fundo Europeu, levantam um problema muito curioso.
São, sem dúvida, declarações espantosas. Qualquer observador imparcial surpreende-se por o Primeiro-Ministro, no cargo há seis anos, se poder considerar inocente do descalabro nacional, que tantos há tanto tempo viam como inevitável devido à estratégia seguida pelo Governo. Agora o principal responsável não só não assume culpas, mas diz-se um lutador
vencido. Ou é inconsciência absoluta ou rematada perversidade. Como explicar isto? Este é um dos problemas mais desafiantes da atualidade.
O professor Daniel Bessa encontrou uma peça central da resposta:
«Faz-me lembrar um jogador de casino, que acha que há ainda uma última hipótese de sair aquela sorte grande, que nunca tinha saído, e que o pode salvar.» (Rádio Renascença 26/Abril/2011).
Mas existe outro elemento essencial. Durante anos, Sócrates saiu das situações mais difíceis e delicadas graças à sua retórica imparável, argumentação brilhante, magistral prosápia. Ao fim de certo tempo, uma pessoa assim convence-se de que tudo é possível. Acaba confundindo a ficção com a realidade e acha-se capaz de tudo.
Temos na História múltiplos exemplos disto, de Hitler a Saddam, de Alves dos Reis a Madoff.
O mais espantoso neste caso é o número de pessoas que nesta fase ainda acredita nisto, incluindo um do mais antigos partidos portugueses.
João César das Neves